O festival Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos começou esta quinta-feira com uma apresentação do evento no museu municipal da vila. Na apresentação, estiveram presentes o presidente da câmara de Óbidos, Humberto da Silva Marques, o presidente e vice-presidente da associação cultural Sociedade Vila Literária, parceira na organização, e a secretária de Estado da habitação, Ana Pinho. Uma escolha surpreendente dado que Ana Pinho é secretária de Estado de João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente. Nem o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, nem o seu secretário de Estado, Miguel Honrado, estiveram presentes no primeiro dia do Folio, confirmou o Observador junto da organização. O ministro da Cultura deslocou-se ao festival dois dias depois, no sábado, 29 de setembro.

Ministro da Cultura esteve no Folio e destacou importância das políticas do livro e da leitura

A propósito da estranheza que poderia existir face à presença de uma secretária de Estado com a sua pasta na inauguração de um festival literário, Ana Pinho explica que um dia disse “a primeira vez que vim a Óbidos foi para ver este festival”, que já vai para a quarta edição. Alguém com a sua pasta, acrescentou, tem “eventos a que é quase obrigatório ir”, embora  este não seja o caso: “É um evento a que vim por escolha, um festival que, sobrevivendo sem mim cá, achei que podia ajudar a reafirmar a importância que tem”.

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Trata-se, apontou a secretária de Estado, de “um evento que está também ligado à habitação”, já que, no seu entender, o tema “Ócio, Negócio” está estreitamente ligado às temáticas que tutela, porque “as razões que nos levam a permanecer num lugar” ou a mudarmo-nos para outros, prendem-se muito com o negócio (“a oferta de emprego”) e o ócio, isto é, a oferta cultural existente.

“Um festival como este é extremamente importante na construção do futuro dos territórios. Esta é a primeira altura na história da humanidade em que parte do nosso futuro não se liga tanto à capacidade física de trabalho, mas à capacidade de refletir, de conhecer e de construir com base nesse conhecimento. O papel que o festival tem na educação e criação de ofertas culturais para o público é muito importante”, referiu ainda a secretária de Estado da habitação.

Ana Pinho referiu que “antes de estar nestas lides [habitação e urbanismo], vinho muito da [área da] reabilitação e património e, sendo muito importante a preservação do património do passado, a vila continua produtora do património cultural do futuro. Tem uma ligação com o seu passado, mas também também uma continuação da produção cultural, seja material ou imaterial”. E acrescentou: “É um festival a que espero poder retornar mais vezes com calma. Desejo que sejam dias muito cheios, ricos e cansativos e queria dar os parabéns a toda a vila por tudo o que tem feito por Portugal”.

Ana Pinho, secretária de Estado na habitação, foi a representante do Governo na conferência de imprensa de arranque do festival literário Folio, em Óbidos. @ André Dias Nobre

“Escolhemos escritores da modernidade, que conseguem antever o futuro”

O presidente da câmara municipal de Óbidos, Humberto da Silva Marques, começou por sublinhar que o tema Ócio e Negócio “não foi escolhido porque sim”, é “um tema da contemporaneidade que nos inquieta a todos, a uns mais, a outros menos. É um tema de futuro e pode ajudar o Folio a ser, além de um festival de literatura, um ponto de encontro entre escritores, atores e o seu público alvo. É um espaço onde podemos ouvir essas pessoas que escrevem, ficcionam, conseguem antever o futuro”. O “equilíbrio” entre o ócio e negócio, dois principais vetores que orientaram a programação, “é as invenções do futuro”.

“Houve a preocupação da equipa de programação em respeitar integralmente o tema e escolher escritores, atores e participantes para o tema que iríamos debater. No fundo, escolhemos escritores da modernidade, que possam dar visão do mundo daqui a 10, 20 ou 40 anos, do que pode acontecer”, referiu o presidente do município.

Apontando que “é difícil organizar eventos desta dimensão”, o presidente da câmara de Óbidos referiu que “é importante a territorialização destes eventos, é preciso que as comunidades se apropriem destes eventos, lhes reconheçam a importância que podem ter para as futuras gerações, mas também que participem como atores principais. E aí há um salto qualitativo este ano: hoje há atores locais a serem figuras principais do palco principal”. Um dos grandes objetivos do festival, aliás, foi sempre “criar pensamento crítico, atrair e reconstruir talentos” locais. “É um grande desafio dos territórios para as próximas décadas. Ninguém pode ter territórios de esperança sem uma agenda para a criatividade e inovação”, que inclua “atores e estruturas” locais.

O presidente da câmara de Óbidos, Humberto da Silva Marques, ao lado da secretária de Estado da habitação, Ana Pinho. @ André Dias Nobre

Em sentido oposto, há também um reforço da internacionalização do festival, entende: “Desde a primeira edição foi sempre um evento internacional, mas nesta edição a internacionalização nota-se mais profícua. Tivemos a colaboração de programadores de outros festivais literários do país e programadores internacionais a fazer programação dentro do Folio. Não quero destacar nenhum em particular, mas está-se a dar lastro e rede [ao evento]. É importante que o país aproveite esta rede para desenvolver outros territórios de diferentes formas, com agendas criativas e que procurem um turismo sustentável”.

FOLIO. Ócios e negócios em debate no Festival Literário Internacional de Óbidos

Editado: Artigo dia 02/10/2018, com inclusão de referência à ida do ministro da Cultura ao festival no sábado, 29 de setembro