A biografia sobre o realizador norte-americano David Lynch, “Espaço para sonhar”, que sai esta semana em Portugal, pretende dar um retrato mais intimista e desmistificar a ideia de que é um autor “estranho”. A ideia é expressa à agência Lusa por Kristine McKenna, jornalista que co-escreveu “Espaço para sonhar” juntamente com David Lynch, uma obra com quase 700 páginas, ilustrada por dezenas de fotografias, e que conta a vida do artista muito para lá do ecrã de cinema.

O que o livro mostra é “basicamente uma pessoa a ter uma conversa com a sua própria biografia”, escreveram ambos na introdução, a propósito da estrutura escolhida para o livro. Os capítulos sobre as diferentes fases da vida de Lynch, contadas de forma cronológica, são intercalados com uma visão de Kristine McKenna, com base em entrevistas ao realizador, a familiares, amigos e pessoas com quem ele trabalhou, e com uma visão do próprio David Lynch sobre os mesmos acontecimentos e épocas.

Eu quis que o livro fosse o mais próximo possível de uma biografia definitiva, mas também acho que é importante que o leitor perceba um bocadinho da personalidade de David Lynch”, explicou a jornalista à Lusa.

Amiga próxima há quase quarenta anos, Kristine McKenna explica que David Lynch, hoje com 72 anos, é “uma boa pessoa, generosa”, “um conversador livre e divertido”. “Quis que as pessoas ficassem a conhecer o David um bocadinho melhor. Ele é uma ótima pessoa e muitas vezes é resumido e rotulado como estranho. Há muito mais nele do que isso”, sublinhou.

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O livro revela o contexto familiar (a mãe era uma pessoa da cidade, o pai, do campo) e do local onde passou a infância (Boise, Idaho), determinante no caminho para as artes.

Desvenda o percurso na pintura, a ligação à música, a descoberta da meditação transcendental, a falta de dinheiro para produzir cinema, os relacionamentos com mulheres, as críticas, as rejeições e a consagração, a relação com a fama e com o dinheiro.

Há ainda muitos detalhes sobre processos criativos, sobre a forma como David Lynch produz, filma e tem ideias para cada um dos filmes que fez. É o próprio que admite: foca-se sobretudo no trabalho.

“Acho que se pode dizer que o ‘Twin Peaks’ me tornou famoso, mas tudo é relativo. O que é ser famoso? O Elvis era famoso. E, para dizer a verdade, ser famoso é simplesmente ridículo. (…) Quando envelhecemos, ninguém se lembra do que fizemos”, afirma David Lynch na biografia.

Kristine McKenna concorda com esta ideia e lamenta que muitos jovens realizadores nem imaginem quem são as referências dele, mas acredita que “a boa arte sobrevive sempre e as pessoas irão olhar para o trabalho de David por muito tempo”.

Nas últimas linhas de “Espaço para sonhar”, David Lynch esclarece os leitores: “Todas as vidas são um mistério até que cada um de nós o resolva, e todos caminhamos nessa direção, para esse destino, mesmo que não o saibamos”.

“Espaço para sonhar” é editado em Portugal pela Elsinore. Kristine McKenna estará em Portugal em novembro para apresentar e falar sobre o livro no Lisbon & Sintra Film Festival, que dedicará parte da programação a David Lynch.

Durante o festival, a 17 de novembro, é inaugurada, no MU.SA, em Sintra, a exposição “Small Stories”, que inclui 55 fotografias analógicas, de grande escala, da autoria de David Lynch.

Também no âmbito do festival, será inaugurada a mostra “Psychogenic Fugue”, que inclui uma série de fotografias, da autoria de Sandro Miller, nas quais o ator John Malkovich é retratado na pele de personagens da obra de David Lynch.

O realizador, que já esteve na primeira edição deste festival, em 2007, foi convidado para regressar, mas a presença não está confirmada.