O Senado norte-americano votou este sábado favoravelmente à nomeação de Brett Kavanaugh como juiz do Supremo Tribunal dos EUA. Kavanaugh teve 50 votos a seu favor e 48 votos contra. Todos os senadores republicanos votantes apoiaram o juiz nomeado por Donald Trump, à exceção da senadora Lisa Murkowski, do Alasca. Do lado democrata, só Joe Manchin votou a favor de Kavanaugh; os restantes votaram contra. Brett Kavanaugh é o segundo juiz conservador nomeado por Trump para o Supremo Tribunal dos EUA, depois de Neil Gorsuch.

A senadora republicana Lisa Murkowski esteve assim isolada na oposição à nomeação de Kavanaugh. Murkowski tinha justificado a sua posição dizendo que, embora acreditasse que o juiz fosse “um bom homem”, para bem da sua “consciência” não era capaz de “concluir que ele é a pessoa certa para o Supremo Tribunal neste momento”. Ainda assim, como ato de boa fé para com os seus colegas republicanos e para com o senador Steve Daines, do Montana, que apoiava Kavanaugh mas não pôde votar por ter o casamento da sua filha agendado para este fim-de-semana, Murkowski retirou o seu voto. Se os dois tivessem expresso as suas opiniões através do voto, o resultado seria 51-49, a favor do juiz.

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Escolhido por Donald Trump, o juiz viu-se recentemente envolto em polémica, depois de ter sido acusado de tentativa de violação por Christine Blasey Ford, uma antiga colega de liceu, e de ter sido acusado de assédio sexual por outras duas mulheres. Os factos da acusação mais mediática, a de Christine Blasey Ford (que potenciou as revelações e acusações que se seguiram) remontam a um episódio alegadamente ocorrido há mais de 30 anos, em 1982, quando a queixosa tinha 15 anos e Brett Kavanaugh 17 anos.

A professora e investigadora da Universidade de Palo Alto, atualmente com 51 anos, alega que Kavanaugh a prendeu a uma cama, foi para cima dela e tentou tirar-lhe a roupa. Christine Blasey Ford denunciou o caso numa carta enviada à senadora democrata da Califórnia, Dianne Feinstein.

Uma votação que não trouxe surpresa

A nomeação de Brett Kavanaugh estava pré-anunciada desde esta sexta-feira, dia em que a senadora republicana Susan Collins anunciou que votaria a favor da nomeação do juiz para o Supremo Tribunal. Somada a anteriores declarações de intenção de voto, a revelação de Susan Collins fez a balança pender em definitivo para Kavanaugh, garantindo-lhe uma maioria teórica que este sábado se materializou.

O voto favorável e decisivo da senadora republicana Susan Collins, uma das últimas a anunciar a intenção de voto, foi assim justificado pela própria:  “A presunção de inocência faz parte do meu pensamento e não posso abandoná-la. Ao abandonarmos esse princípio, vamos ficar muito mal servidos a longo prazo”.

https://observador.pt/videos/atualidade/quem-e-brett-kavanaugh-o-conservador-juiz-nomeado-por-trump-para-o-supremo-tribunal/

Tal como os restantes membros do Senado dos EUA, Susan Collins teve acesso aos primeiros resultados de uma investigação do FBI sobre o caso que o opõe a Christine Blasey Ford. Apesar do desfecho dessa investigação ter sido vedado ao conhecimento do público, Collins utilizou-o para explicar o seu voto:

As quatro testemunhas que ela nomeou não conseguiram corroborar nenhum dos acontecimentos daquela noite, em que ela diz que o ataque aconteceu. Desde que as atuações foram tornadas públicas, a professora Ford disse que nem uma pessoa a contactou para dizer: eu estive naquela festa”, referiu.

Trump diz que Kavanaugh será “um grande juiz”

Minutos antes da votação deste sábado começar, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, afirmou que Brett Kavanaugh será “um grande juiz” e anunciou estar expectante e entusiasmado com o decorrer da votação.

“Achei que a Susan Collins foi incrível ontem [quando anunciou que votaria a favor de Kavanaugh]. Fez um discurso lindo, apaixonado e vindo do coração. Tenho um grande respeito pela Susan Collins”, afirmou ainda Donald Trump, descrevendo Kavanaugh como “uma pessoa simplesmente extraordinária e que acho que nos deixará a todos orgulhosos”.

Depois da nomeação ser confirmada, Donald Trump voltou a comentá-la na rede social Twitter. Escreveu: “Aplaudo e congratulo o Senado dos Estados Unidos da América por confirmar o nosso GRANDE NOMEADO, o juiz Brett Kavanaugh, para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos”.

O senador republicano do Kentucky Mitch McConnell, de 76 anos, afirmou por sua vez que a nomeação de Kavanaugh irá “ecoar na história” dos Estados Unidos da América. “Os tribunais asseguram os nossos direitos e o Senado assegura os nossos tribunais. O juiz Brett Kavanaugh vai orgulhar o Senado e o país”, referiu ainda.

Antes da votação deste sábado se iniciar, houve protestos nas galerias do Senado, com manifestantes a assobiar e a gritar nas bancadas, opondo-se à nomeação. Os manifestantes gritavam repetidamente “Vergonha!” antes de serem escoltados pela polícia até ao exterior das galerias.

Nota – Artigo atualizado às 21h36 com correção relativamente ao voto dos senadores Lisa Murkowski e Steve Daines