Entre a noite de sábado e o dia de domingo, Portugal continental será afetado por ventos fortes, agitação marítima e precipitação intensa na sequência da chegada do Leslie. Apesar de tempestades desta intensidade serem raras, esta não é a primeira vez que Portugal é afetado por uma tempestade desta envergadura. Esta é, aliás, a terceira vez que isso acontece. A última grande tempestade aconteceu em 2005, 163 anos depois do furacão que devastou o sul de Espanha em meados do século XIX ter feito estragos na Madeira e ter batido recordes.
Furacão de outubro de 1842, a tempestade que passou pela Madeira e seguiu para Espanha
A tempestade chegou à Madeira na noite de 27 de outubro de 1842, com os seus efeitos a sentirem-se até ao dia seguinte. Os maiores estragos ocorreram na zona do Funchal, na sequência de fortes rajadas de vento. Foi o pior furacão a afetar a ilha desde 1803. Seguiu depois para a costa nordeste de África, tendo passado perto do Cabo Blanco, na fronteira da Mauritânia com o Saara Ocidental, e do Cabo Spartel, no Estreito de Gibraltar, na noite de 28 para 29 de outubro. Segundo o estudo “A Historical Analog of 2005 Huricane Vince”, publicado em fevereiro de 2008 na revista da American Meteorological Society, os efeitos do furacão também foram sentidos no sul de Espanha a 28 de outubro.
Na Baía de Cádiz, foram registados ventos de grande intensidade desde o final do dia até 29 de outubro, quando a tempestade começou a perder força. Muitos navios sofreram estragos e duas pontes ficaram destruídas. De acordo com os dados recolhidos pela Marinha espanhola em Cádiz, citados em “A Historical Analog of 2005 Hurricane Vince”, três dos seus navios desapareceram e 45, de várias nacionalidades, ficaram muito danificados. Em Jerez de la Frontera, as árvores foram arrancadas pela raiz e mais a sul, em Conil, os navios foram afastados da costa. Também em Málaga o navio francês Doumesnil foi afastado pela forte ondulação.
Os efeitos do furacão foram sentidos na manhã de 29 de outubro na Andaluzia e na Extremadura. Em cidades como Toledo, Madrid, Alcalá e Guadalajara também houve estragos.
Furacão Vince, em 2005. O primeiro a ser apelidado no Atlântico com a letra V
Em 2005, como refere um estudo da Sociedade Americana de Meteorologia, o Vince foi referido como o primeiro grande furacão a passar pela Península Ibérica. Contudo, apesar do perigo que representava, quando o furacão chegou a terra, em Huelva (região espanhola que faz fronteira com Vila Real de Santo António). O furacão começou por ser registado a 8 de outubro, mas foi só a 9 de outubro, pelas 15h00, que foi batizado com o nome Vince.
O Vince começou por se formar perto da Madeira. É declarado um furacão de categoria 1 (o mais baixo) a 9 de outubro. O fenómeno meteorológico só chegou à Península Ibérica a 11 de outubro, pelas 9 da manhã. Os principais efeitos fizeram-se sentir no sul do país e e na Andaluzia, mas não se registaram dados patrimoniais relevantes ou mortes. Ao chegar a terra o furacão abrandou o ritmo até que se dissipou. O ventos mais rápidos foram registados em Espanha, de 41,6 quilómetros por hora.
Como o Furacão Leslie, o Vince chegou ao continente já como uma depressão tropical. A surpresa deste furacão foi ter-se formado a nordeste do Atlântico, em água frias, o que é bastante incomum. O Vince foi o primeiro Furacão a ser apelidado no Atlântico com a letra V (são apelidados alfabeticamente), mostrando um ano em que se começaram a registar mais furacões que o habitual em outubro.