Perante a demissão do chefe do Estado-Maior do Exército apenas um dia depois de o novo ministro da Defesa ter tomado posse, o CDS congratulou-se por andar já há um ano (desde o assalto aos paióis de Tancos) a pedir a demissão do general Rovisco Duarte. “Tínhamos razão desde a primeira hora”, disse o deputado Telmo Correia aos jornalistas no Parlamento. Os centristas querem, contudo, que António Costa explique exatamente quais foram os contornos e os fundamentos da demissão — e que explique a razão de o general ter saído agora. Para o PSD, o governo quis apenas silenciar o caso empurrando o CEME, mas alerta que apuramento das responsabilidades do assalto a Tancos “não fica por aqui”. PCP é da mesma opinião: “Há mais responsabilidades que têm de ser apuradas”.

CDS diz que Costa é “o elo de ligação das demissões”

Rovisco Duarte enviou esta quarta-feira uma nota aos militares a justificar as motivações da demissão, mas se Governo e Presidente da República falaram em “motivos pessoais”, o general apontou para “circunstâncias políticas”. É isto que o CDS quer apurar: o que motivou realmente a demissão do chefe do Exército esta quarta-feira. “Queremos esclarecimentos dos contornos e fundamentos da demissão” e “cabe ao primeiro-ministro explicar porque é que a demissão foi agora e não antes”, disse aos jornalistas o deputado centrista Telmo Correia, lembrando que o Governo “sempre disse que a demissão do chefe do Exército era inaceitável”.

O pedido de demissão do chefe do Exército foi entregue esta quarta-feira de manhã ao novo ministro da Defesa e, como o Observador noticiou, terá surgido depois de uma espécie de ultimato do novo ministro, João Gomes Cravinho. Segundo o deputado do CDS Telmo Correia, António Costa é “o elo de ligação de todos estes factos”, desde logo porque “insistiu em manter o ministro da Defesa para lá do insustentável”.

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Novo ministro impôs demissão de Rovisco Duarte de Chefe do Estado-Maior do Exército

PSD diz que Carlos César “ofereceu passaporte” para a demissão

Todos os partidos, do CDS ao PCP concordam, de resto, que o caso Tancos não fica encerrado com as demissões do ministro e do chefe do Exército. Mas para o PSD, o facto de o líder parlamentar socialista, Carlos César, ter dito esta quarta-feira aos microfones da TSF que, após a demissão do ministro da Defesa, esperava “consequências do ponto de vista das Forças Armadas, em particular, do Exército”, evidencia que os socialistas querem dar o caso por encerrado com esta nova demissão. É isso que os sociais-democratas dizem que não vão permitir, lembrando que a comissão de inquérito a Tancos vai ser votada no Parlamento no próximo dia 24 de outubro.

“O general Rovisco Duarte demitiu-se depois de Carlos César lhe ter oferecido um passaporte dizendo que era preciso consequências no exército. O PS e o Governo podem achar que assim evaporam o caso, mas a gravidade não se esgota nem se apaga com esta demissão”, disse o deputado social-democrata Carlos Peixoto numa declaração aos jornalistas no Parlamento, deixando a promessa: “o PSD vai levar o caso até às últimas consequências”. “As responsabilidades políticas têm que ser assumidas, é preciso perceber como desapareceu o material e quem tem responsabilidade por isso. Não acaba aqui, o caso não está terminado”, sublinhou.

PCP diz que há mais por esclarecer, Bloco não quer pressões à investigação

Na mesma linha, o deputado comunista Jorge Machado sublinhou que, apesar das demissões do ministro e do chefe do Exército, é preciso mais: “É preciso apurar tudo até às últimas consequências”. Sobre a demissão concreta do general Rovisco Duarte, o deputado comunista limita-se a dizer que as demissões “são sempre de cariz pessoal”, pelo que cabe a cada um perceber se tem ou não condições para exercer funções. De resto, diz, a demissão não resolve tudo. “Há mais responsabilidades que têm de ser apuradas”, nomeadamente na estrutura das Forças Armadas: “não só no capitão mas nos generais de duas e três estrelas que também tiveram responsabilidades nas medidas de segurança de Tancos”, disse.

Questionado sobre se a comissão de inquérito é o local indicado para apurar todas essas responsabilidades, Jorge Machado lembra que o objeto da comissão de inquérito delineado pelo CDS inclui apenas uma margem temporal de junho de 2017 para a frente, o que engloba responsáveis já demitidos. O PCP quer mais: “O CDS dirá se quer ir mais longe ou não no apuramento das responsabilidades políticas”. Sobre a comissão de inquérito, contudo, o deputado centrista Telmo Correia apenas disse que não rejeita chamar o primeiro-ministro António Costa ao Parlamento, embora esse seja o último passo a dar depois de ouvir todos os envolvidos.

Do lado do Bloco de Esquerda, o deputado João Vasconcelos, relembra que o que se passou foi um “ato muito grave que revela a falha das funções sociais do Estado em questões de Defesa”, insistiu que o BE “aguarda mais esclarecimentos” e que quer “apurar todas as responsabilidades e respetivas consequências”. Mas fez uma ressalva, é preciso que a investigação siga o seu curso “sem pressões de qualquer ordem”.