Eduardo Cabrita assumiu funções como ministro da Administração Interna a 21 de outubro de 2017, três dias depois de a PJ Militar recuperar o material de guerra furtado de Tancos em junho desse ano. Constança Urbano de Sousa, fragilizada com a forma como lidou com os incêndios e substituída por Cabrita na pasta, diz ao Observador que nada sabia sobre a colaboração da GNR na operação liderada pela PJ Militar. O atual ministro é lacónico: “Não” soube de nada.
O Presidente da República assegurou este sábado à Agência Lusa que também desconhecia o chamado ‘encobrimento’ das armas alegadamente na base do desaparecimento e reaparecimento das armas de Tancos, recordando que tem insistido na exigência do esclarecimento de “toda a verdade, doa a quem doer”.
O Observador questionou igualmente Constança Urbano de Sousa, a anterior ministra da Administração Interna, que repetiu as mesmas palavras já usadas pelo ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes: “Só soube dessa operação pelos jornais, quando se desencadearam as detenções” de inspetores daquela polícia, militares da GNR e um civil, João Paulino, o único civil a ser envolvido no processo até ao momento, diz a ex-ministra ao Observador.
Roubo de armas em Tancos ligado ao “crime organizado”, diz o El Mundo
Constança Urbano de Sousa argumenta que “nenhum ministro sabe o que o GNR A, B ou C anda a fazer” e garante que, durante os menos de quatro meses em que exerceu funções depois do furto, não acompanhou o caso. “Não recebi informações nenhumas”, garante a ex-ministra.
Foram escassas as intervenções da ex-ministra da Administração Interna sobre este processo. Em julho do ano passado, o jornal espanhol El Mundo escreveu que o assalto a Tancos poderia estar ligado a redes de tráfico internacional de armas — e não a terrorismo, como a Procuradoria-geral da República referia num comunicado divulgado dias antes.
A informação “não correspond[ia] à verdade”, garantiu de imediato o gabinete de Constança Urbano de Sousa, sublinhando que a ministra “não dispunha, nem podia dispor de informações detalhadas sobre investigações em curso” ao furto aos Paióis Nacionais de Tancos.
Ministro rejeita conhecimento da operação
Saiu Constança, entrou Eduardo, que passava de ministro Adjunto de António Costa a ministro da Administração Interna. Logo no comunicado que enviou às redações, na manhã de 18 de outubro, a PJ Militar dava conta de que a recuperação material tinha contado com a colaboração de militares do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé. Quase um mês depois das detenções no âmbito da Operação Húbris — e depois de José Azeredo Lopes já ter deixado a pasta da Defesa –, Eduardo Cabrita garante que não tinha qualquer informação sobre o caso.
Há cerca de duas semanas (a 12 de outubro), o Observador enviou questões ao gabinete do ministro da Administração Interna sobre este caso. O objetivo era perceber se, em algum momento, o MAI foi informado da forma como o material de guerra foi recuperado. Em concreto, se Eduardo Cabrita tinha tido conhecimento da chamada anónima que a PJ Militar acordou com um informador para proteger a identidade daquele que era, na prática, um elemento suspeito de estar relacionado com o assalto.
O Observador também tentou saber se, dado o envolvimento da GNR, Cabrita obteve ou tentou obter do comando geral ou de outro nível de comando daquela força de segurança informações sobre a operação que resultou na recuperação do material de guerra.
Num primeiro momento, o gabinete de Eduardo Cabrita disse que o ministro “não exercia as funções de ministro da Administração Interna à data da recuperação do material furtado”, a 18 de outubro de 2017. E recordava que “já foi decidido pelo ministro da Administração Interna que a ação dos militares da GNR envolvidos será objeto de procedimento disciplinar pela Inspeção-geral da Administração Interna”.
O Observador insistiu, tentando perceber se, depois desse momento da tomada de posse — três dias depois da recuperação do material de guerra —, chegou informação ao titular da pasta sobre os contornos do processo que só seriam conhecidos no final de setembro deste ano, quando nove pessoas foram detidas (oito num primeiro momento e o ex-porta-voz da PJ Militar dias mais tarde). “Não”, limitou-se a responder o gabinete de Eduardo Cabrita.