As imagens roubaram o palco aos números naquele que é conhecido como o “Davos do deserto”. Em particular, uma imagem carregada de simbolismo: a do aperto de mão entre o filho de Jamal Khashoggi, o jornalista assassinado no início do mês, e o príncipe herdeiro (e governante de facto) da Arábia Saudita.
O príncipe saudita continua a enfrentar uma intensa pressão internacional pelas suspeitas de ligação da casa real aos principais suspeitos de assassinarem o jornalista e colunista Jamal Khashoggi. Mas isso não impediu Mohamed Bin Salmán (conhecido pela sigla MbS) de fazer uma curta passagem pela Iniciativa de Investimentos do Futuro e de receber dois familiares de Khashoggi — um filho e um irmão. Os meios de comunicação estatal registaram o momento.
A foto do filho do colunista, de olhos postos em MbS, rosto fechado e mão estendida para aquele que é visto como uma das principais figuras envolvidas na morte de Khashoggi, levantou suspeitas de que o momento tenha sido encenado por Riade para esvaziar as críticas das últimas semanas.
O comunicado oficial falava numa receção do Palácio de Al Yamamá aos dois familiares do jornalista que decidiu refugiar-se nos EUA desde que começou a sentir que corria demasiados riscos se continuasse na Arábia Saudita. Ao filho e ao irmão de Khashoggi, o príncipe herdeiro e o rei saudita terão “expressado as suas condolências e consolo” pelo desaparecimento do jornalista crítico do regime. Os familiares terão, de acordo com o mesmo documento, “expressado o seu grande agradecimento” pelo “consolo pela morte” do jornalista.
A ordem para matar Khashoggi: “Tragam-me a cabeça desse cão”
O jornal espanhol El Mundo descreve, esta quarta-feira, as críticas e suspeitas que começaram a circular em torno da fotografia. Em concreto, o analista de assuntos árabes Ali Bakeer prende-se nas “estranhas” vestes do filho do jornalista. “Normalmente, não te apresentas numa reunião com esse zaub“, referiu Bakeer, interpretando esse dado como sinal de que “ou se apressaram a vesti-lo por [uma questão de] relações públicas ou tiveram uma altercação antes de ir” ao encontro dos elementos da família real.
Revolução na Arábia Saudita: “É como ver os Tudors em fast forward”
Sem nunca apontar diretamente o dedo a Riade, as autoridades turcas têm feito referência a um assassinato “premeditado” e estão empenhadas na investigação à morte de Khashoggi.