West Ham, Cardiff, Newcastle, Vorskla Poltava, Everton, Brentford, Watford, Qarabag, Fulham, Leicester. Unai Emery não teve propriamente o início mais apetecível de uma nova era no Arsenal, depois de mais duas décadas com Arsène Wenger, com uma derrota na receção ao Manchester City e outro desaire em Stamford Bridge com o Chelsea, mas daí para cá somara dez vitórias consecutivas entre Premier League, Taça da Liga e Liga Europa. “Recuperou” Özil, potenciou o poderio ofensivo de Aubameyang e Lacazette, estabilizou uma defesa que andou em areias movediças durante épocas a fio. Tão ou mais importante que isso, foi conseguindo enraizar uma identidade de jogo que permite movimentos coletivos fantásticos e que merecem destaque em toda a imprensa europeia, como aconteceu no terceiro golo frente ao Leicester apontado por Aubameyang.

Era este o adversário que o Sporting tinha pela frente. Era este o adversário que transformava deste encontro um possível duelo de Champions na Liga Europa. Era este o adversário que levava a Alvalade a melhor assistência da temporada. No meio de tudo isto, era este o adversário que mostrava também o momento que o clube verde e branco atravessa.

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https://observador.pt/2018/10/25/sporting-arsenal-leoes-e-gunners-disputam-primeiro-lugar-do-grupo-e-da-liga-europa/

Não há nenhum adepto que vá ao estádio ver a sua equipa e não tenha sempre a esperança, por maior ou menor que possa ser, na vitória. E é assim em qualquer lado, com qualquer clube. No entanto, um zapping pelos canais de informação mostrava outras coisas que só em Alvalade se poderiam ouvir. “Apesar de tudo, o mais importante é estarmos todos juntos e apoiarmos depois de tudo o que estes jogadores passaram”, “A equipa não está a jogar bem mas acredito”, “Acho que o Arsenal vai ganhar mas acredito na surpresa”. Este é o estado atual do Sporting: grau de previsibilidade zero em relação ao que a equipa pode fazer, grau de previsibilidade de -10 em relação ao resultado. E ainda houve o episódio dos assobios no encontro com o Loures.

Ficha de jogo

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Sporting-Arsenal, 0-1

3.ª jornada do grupo E da Liga Europa

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Damir Skomina (Eslovénia)

Sporting: Renan Ribeiro; Ristovski (Bruno Gaspar, 45′), Coates, André Pinto, Acuña; Petrovic, Gudelj (Jovane Cabral, 71′), Battaglia, Bruno Fernandes; Nani (Diaby, 86′) e Montero

Suplentes não utilizados: Salin, Mathieu, Miguel Luís e Carlos Mané

Treinador: José Peseiro

Arsenal: Leno; Lichtsteiner, Sokratis, Holding, Xhaka; Elneny (Torreira, 58′), Guendouzi, Ramsey; Mkhitaryan, Aubameyang (Iwobi 86′) e Welbeck (Lacazette, 81′)

Suplentes não utilizados: Martínez, Mustafi, Jenkinson e Özil

Treinador: Unai Emery

Golo: Welbeck (78′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Acuña (39′), Holding (46′), Mkhitaryan (50′), Coates (71′) Jovane Cabral (90+3′) e Battaglia (90+5′)

Peseiro sabe bem em que condições chegou a Alvalade e sabe ainda melhor em que contexto se encontra agora. No entanto, tem um mérito: não toma decisões para a bancada, não se esconde nas visíveis limitações que poderia alegar e assume as opções que entende serem necessárias para cada um dos encontros em causa. Com o Arsenal, voltou a ser assim e, entre as duas principais novidades, até conseguiu ter relativo sucesso – Renan, que não tinha feito propriamente uma grande apresentação na baliza com Portimonense e Loures, foi o melhor elemento leonino sobretudo na segunda parte; Petrovic, dentro das limitações que são por demais reconhecidas, ainda conseguiu dar algum equilíbrio nas transições defensivas (e não mais do que isso porque o grande problema é não ter a necessária capacidade para construir na primeira fase). O pior foi o resto.

As zonas altas de pressão em alguns momentos do jogo funcionaram, assim como aquela característica “enganadora” de dar bola ao Arsenal (sem alguns habituais titulares, o que não se sente pela qualidade do plantel de Unai Emery) em zonas longínuas da área para procurar o erro e arriscar situações de igualdade numérica frente a centrais que não são propriamente os mais rápidos do mundo. Acuña, a fazer o corredor esquerdo de alto a baixo em piscinas constantes, estava inspirado e permitia os movimentos interiores de Bruno Fernandes, o que dava outra qualidade nessas aproximações, mas muitos cantos e alguns remates criaram zero perigo. Aliás, houve apenas um remate com perigo-mesmo-perigo, quando Nani – que tinha um histórico muito positivo em confrontos diante dos londrinos, com sete vitórias em nove jogos e dois golos – atirou a rasar a trave após um lance originado por um mau passe da defesa inglesa na saída de bola. Do lado dos londrinos, Mkhitaryan, de livre direto, teve o único lance incómodo para os visitados para Renan afastou para o lado.

Ainda antes do intervalo, o Sporting sofreu um revés com a lesão de Ristovski (entrou Bruno Gaspar, que ficaria em aquecimento durante o descanso) mas, no final dos 45 minutos iniciais, merecia nota positiva: estava a ser mais agressivo nas segundas bolas, conseguia mais vezes desposicionar a defesa adversária do que o contrário, contava com os remates mais perigosos e podia ainda queixar-se de um lance polémico aos 32′, quando Montero ganhou a frente a Sokratis, foi claramente agarrado pelo grego mas o experiente Damir Skomina deixou seguir – e dificilmente poderia escapar do cartão vermelho (houve ainda um outro lance em que Nani caiu na área, neste caso sem que se percebesse ao certo se houve alguma infração).

Na segunda parte, tudo mudou. O que eram becos sem saída nas incursões do Arsenal transformaram-se em vielas, as vielas transformaram-se em vias rápidas, as vias rápidas transformaram-se em autoestradas. O reposicionamento que Unai Emery fez ao intervalo, permitindo tomar conta do meio-campo e descobrir os espaços que tinham escasseado na primeira metade, virou o encontro. E tem muito mérito por isso. Mas houve em paralelo demérito do Sporting, que transformou a atitude de não ter medo de perder num posicionamento de receio de sofrer. E isso é meio caminho para a derrota.

Aubameyang, aos 48′, deixou o primeiro aviso com um remate na área demasiado descaído na direita para defesa de Renan para canto; dois minutos depois, a mota gabonesa que há não muito tempo tinha provocado um despiste dos leões na Champions com o B. Dortmund embalou lançado em profundidade, surgiu isolado 1×1 frente ao guarda-redes mas o brasileiro esperou até ao último instante para travar com a mão bem no alto a tentativa de chapéu. Dois abanões foram como que um furacão na forma como o conjunto verde e branco abordava o encontro e, aos 53′, o calcanhar de André Pinto foi providencial ao desviar para canto um remate de Welbeck após cruzamento da esquerda que levava a direção certa das redes leoninas.

O Sporting nunca teve propriamente muitas ideias soltas a não ser uma ideia de jogo muito concreta que resultou durante 45 minutos. Com a notória quebra física, nem isso – passou a ser um deserto autêntico. Ao ponto de, a meio da segunda parte, já depois de um golo anulado a Welbeck por falta nas costas sobre Bruno Gaspar, haver um lance em que o Arsenal estava em posse na primeira fase de construção com dez jogadores verde e brancos do meio do meio-campo defensivo para trás. Sintomático do que se poderia esperar até ao final. Jovane Cabral rendeu Gudelj aos 71′ mas o “mal” já estava feito. E Torreia, no minuto seguinte, não marcou de livre direto porque Renan voltou a brilhar com uma defesa para o lado a afastar o perigo.

Aquilo que os leões tinham conseguido equilibrar estava totalmente desequilibrado mas teve de haver um erro individual (e injusto, tendo em conta o jogador em causa e o que fizera antes) para desbloquear o marcador: Torreira colocou longo no corredor central em Aubameyang, o gabonês tentou ainda dar de calcanhar na bola, Coates falhou a interceção e Welbeck, isolado, partiu decidido para a baliza e apontou o único golo do encontro (78′).

Ainda houve um lance que deixou muitos protestos pelos dois bancos: por um lado, na sequência de um canto, ficou a sensação de que Coates podia ter sido agarrado à margem das leis por Lichtsteiner; por outro, uns segundos depois, o uruguaio encostou a cabeça no suíço que caiu, ficando os restantes companheiros que estavam por ali mais perto a tentar reagir ao sucedido. Um final com algumas quezílias num encontro marcado pela correção. Em alguns momentos, até demais. E foi esse excessivo respeito que encurtou o Sporting com o passar dos minutos, em metros e em mentalidade.

No final, os adeptos dividiam-se. Alguns apontavam o foco a José Peseiro, o principal culpado desse futebol curto, com pouca arte e ainda menos resultados esta noite; outros, tinham palavras de resignação e esperança entre um último “Sporting até morrer” (entre alguns excessos de linguagem com os canais em direto). Nem mais nem menos, este é o Sporting atual no que toca ao futebol: imprevisível mas à espera do pior, a ameaçar mostrar-se antes de se preferir esconder, com alguns e esporádicos rasgos de luz de jogadores que são de facto mais valias em qualquer equipa mas quase que a puxar a trovoada, como acontecera já nos últimos minutos com o Loures. Olhando meramente para o valor dos dois conjuntos e para o contexto em que cada uma se encontra, o triunfo do Arsenal com o Sporting deveria ser tomado como algo “natural”; no entanto, e quando se juntam os capítulos anteriores na época, a história é outra. E quando se termina um jogo com 15 remates tentados e zero enquadrados, a dependência do máximo goleador torna-se mais do que evidente.