Da infância de Elina Svitolina há dois factos que sobram e que ajudam a explicar o trajeto que culminou com a conquista do WTA Finals, este domingo. A primeira é a genética: é filha de Mikhaylo, um antigo praticante de wresting, e de Olena, uma remadora profissional – o que faz com que o desporto já lhe corresse no sangue antes mesmo de lhe passar para a cabeça e para a vontade. A segunda é o tremendo espírito competitivo que, já nos primeiros anos de vida, moldava o comportamento da jovem tenista. Em criança, notou que o irmão mais velho, Yulian, recebia mais atenção por parte dos pais porque praticava ténis. Vai daí, com apenas cinco anos, resolveu dedicar-se à modalidade para tentar ser melhor do que o irmão – e, claro, ganhar-lhe terreno no que diz respeito à atenção paterna.

Independentemente da motivação, Elina foi mostrando habilidade para o ténis e, num dos torneios de miúdos, quando tinha 12 anos, chamou a atenção do empresário Yuri Sapronov, conhecido na modalidade por terras ucranianas. Sapronov resolveu investir na formação da jovem tenista mas, para isso, foi preciso que ela e a família se mudassem da terra natal Odessa para Cracóvia. O motivo é simples: Elina utiliza uma das propriedades hoteleiras do empresário para treinar, tendo vários quartos de hotel à sua disposição, acesso limitado e gratuito ao spa e a todos os serviços e tem ainda um campo relvado de ténis, que é réplica de Wimbledon, e que a tenista usa para a preparação do torneio.

Em 2010, Elina deu nas vistas ao vencer a versão juvenil do Roland Garros com apenas 15 anos (batendo a tunisina Ons Jabeur na final) e, em 2013, venceu o primeiro título WTA da carreira – ao derrotar Shahar Pe’er na Baku Cup. O feito teve, ainda, outro significado: não só a transformou na primeira adolescente a vencer o torneio desde fevereiro de 2012, como a fez escalar 32 pontos no ranking, subindo à posição 49 – a mais elevada até então.

À medida que se ia tornando numa das maiores promessas do ténis mundial, Elina conseguiu concretizar um sonho de que poucos se podem gabar: derrotar um grande ídolo. Mais do que isso, eliminá-lo de uma das mais importantes competições do mundo. Aconteceu nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, na terceira ronda de singulares. A ucraniana, então número 20 do ranking, derrotou nada mais nada menos do que a número 1 Serena Williams – uma das tenistas que mais admira, a par de Andre Agassi e Roger Federer. De tanto admirar (e, provavelmente, estudar) a norte-americana, acabou por eliminá-la dos Jogos. “Parece um sonho. É muito especial vencer a Serena. Estou muito feliz por ter assumido riscos no meu jogo”, disse no final.

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Apesar de ter ficado pelos quartos-de-final e ter visto a medalha de bronze por um canudo – que acabou por ser ganha por Petra Kvitova –, Elina entrou num ano de 2017 que foi um dos mais bem-sucedidos da sua carreira até hoje: começou com a vitória a Angelique Kerber, então número 1, em Brisbane, e terminou com as conquistas em Taipé, Dubai, Istambul, Roma e Toronto.

A tenista conseguiu este domingo, em Singapura, conquistar o título mais importante da carreira até ao momento, o WTA Finals, e de forma “limpinha” – ou seja, sem derrotas (sendo a oitava vez na história em que isto aconteceu, a última delas em 2013, quando Serena Williams também fez o pleno). E fê-lo depois de já ter ganho três torneios neste mesmo ano  Brisbane, Dubai e Roma. Elina termina o ano como começou (a vencer) e ainda conseguiu a desforra frente a Sloane Stephens, com quem tinha perdido em maio, em Montreal. Mais do que isso, vai terminar a temporada no quarto posto da hierarquia mundial – o ponto mais alto a que já chegou na carreira.

De agora em diante, a meta está bem definida: ir além dos quartos-de-final de um Grand Slam – onde chegou em 2015 e 2017, em Roland Garros, e, já este ano, no Open da Austrália. Fã das músicas de Eminem e dos livros de Nicholas Sparks já tem, aos 24 anos, uma carreira digna de ser contada nos livros que lê. “O meu sonho, quando era mais nova, era fazer exatamente o que faço agora”, disse um dia. Depois do título conquistado e de ter vencido as últimas nove finais em que participou de forma consecutiva, o próximo capítulo tem tudo para continuar a escrever uma história de sucessos.