Correm o mundo as notícias sobre Danilo Cavalcante, o brasileiro condenado a prisão perpétua nos EUA pelo homicídio da ex namorada, que fugiu da prisão na Pensilvânia. Escrevo essa coluna na sexta-feira, dia 8, na qual a polícia norte americana entra no nono dia de buscas. Até a publicação dessa coluna no sábado, algo pode mudar no caso, mas minhas reflexões permanecem as mesmas, independentemente do desfecho.

Obviamente que meu primeiro sentimento em relação ao caso é o de repulsa por Cavalcante, que matou a ex namorada na frente dos filhos. Na sequência, sinto um certo constrangimento como brasileira, por alguém da mesma nacionalidade que eu ser notícia no mundo inteiro por razões tão desprezíveis – e é claro que torço para que a polícia o encontre o quanto antes.

Todavia, acompanhando o caso há mais de uma semana, não posso deixar de me surpreender com as dificuldades da polícia norte americana para encontrar um homem que escapou desarmado e sem nenhum tipo de mantimento. Cavalcante já foi visto oito vezes desde que escapou, seja por imagens de câmeras ou por pessoas que vivem nas redondezas do presídio – e mesmo assim segue sem ser capturado.

Imagino que se isso estivesse acontecendo em Portugal ou no Brasil, automaticamente concluiríamos pela incompetência da polícia local no caso. Mas tratando-se da polícia norte americana, com seus helicópteros, drones e centenas de agentes envolvidos nas buscas, tendemos a achar que eles estão no controle da situação, mas, conforme os dias passam, não é essa a realidade que emerge.

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Me lembrei de uma entrevista a Michelle Obama, na qual perguntaram como ela se sentia estando frequentemente junto a pessoas tão brilhantes do mundo inteiro e ela respondeu que muitas vezes descobria que elas não eram tão brilhantes assim. Começo a me perguntar se Cavalcante é um gênio das perseguições ou se a polícia norte americana não é tão competente como costumam nos vender no cinema e nas séries.

Desde os primeiros dias a polícia está autorizada a atirar para matar, caso encontre o fugitivo que está deixando toda a região em pânico, com escolas e comércio fechado. Mas os dias vão passando sem que a situação se resolva. Os responsáveis pelas buscas dão entrevistas dizendo que estão fazendo jogos com Cavalcante, pressionando até que ele cometa um erro. Mas parece que, na realidade, as coisas estão fora de controle.

Imagino a polícia da série A Casa de Papel, com crises de fúria em meio ao descontrole, manipulada pelos criminosos. Imagino a sensação de vitória do criminoso, rumo aos 10 dias fora da prisão, já tendo entrado em casas, levando roupas, alimentos e facas, flagrado por câmeras e ainda assim, seguindo em liberdade.

Aguardo pelos próximos capítulos da história, como quem assiste a uma série na televisão. Torcendo, sem dúvida alguma, para que a polícia o encontre, mas perplexa com a dificuldade que está tendo para tanto, em meio a tantos recursos, tanta tecnologia e tanta fama. Se nós estamos surpresos, um sociopata deve estar realmente em êxtase com essa situação.