‘Oumuamua, um estranho objeto de forma tubular que durante o ano passado passou pelo nosso sistema solar, poderia ser uma sonda alienígena enviada para estudar a Terra. Esta é uma das hipóteses deixadas por Shmuel Bialy e Abraham Loeb, investigadores no Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, num artigo disponibilizado no repositório arXiv.

“O mensageiro que nos alcança vindo do passado” — é este o significado da expressão em dialeto havaiano escolhida para caracterizar o objeto que andou a flutuar pelo espaço. Identificado pela primeira vez em outubro de 2017 (pelo telescópio Pan- STARRS 1, no Havai), este fenómeno ainda não é consensual entre cientistas e estudiosos do Universo (e não só). Inicialmente descreveram o objeto como sendo um cometa, depois como um asteroide, tendo mais tarde decidido chamar-lhe uma “nova classe de objeto interestelar”.

Agora, o artigo, divulgado pela CNN, levanta a possibilidade de este objeto alongado, vermelho escuro, com um comprimento dez vezes maior que a largura, e que viajava a 315.431 quilómetros por hora, ter uma “origem artificial”. “O ‘Oumuamua pode ter sido uma sonda enviada de propósito para os arredores da Terra por uma civilização alienígena”, diz-se no estudo que foi submetido para publicação na revista científica Astrophysical Journal Letters.

A teoria baseia-se na “aceleração acentuada” do dito objeto que saiu do “nosso” sistema solar em janeiro de 2018. “Considerando uma origem artificial, o ‘Oumuamua pode ter sido ‘lightsail’ [uma nave, com formato de papagaio de papel, movida a energia solar]  ou destroço de um equipamento tecnológico avançado que navegava pelo espaço”, sugerem os autores do estudo, que levantam ainda a possibilidade deste “charuto”, como alguns norte-americanos lhe chamam, ser alimentado por radiação solar.

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Abraham Loeb, professor de astronomia, e Shmuel Bialy, académico pós-doutorado, assinam o artigo que se inspira em ‘lightsails’ já existentes na Terra. “‘Lightsail’ com dimensões semelhantes já foram desenhadas e construídas, incluindo o projeto IKAROS e a Starshot Initiative. Esta tecnologia pode ser amplamente utilizada para transportar cargas entre planetas ou estrelas”, lê-se no trabalho de Loeb e Bialy. A sua alta velocidade e trajetória irregular pode ser justificada pelo facto de poder já estar inoperacional.

E se `Oumuamua, o objeto interestelar em forma de charuto, for um cometa e não um asteroide?

O ‘Oumuamua é o primeiro objeto identificado no nosso sistema solar que pode ter surgido noutro lado qualquer. Ao princípio, os astrónomos pensavam que o ténue rasto de luz que se arrastava pelo espaço era um simples cometa ou um asteroide que tinha nascido no nosso sistema solar. Os cometas, em particular, são conhecidos por acelerarem à conta de um fenómeno conhecido como “outgassing”, em que o Sol aquece a superfície gelada do corpo estelar, fazendo com que se liberte gás. Acontece que o ‘Oumuamua não tinha a atmosfera e o pó que normalmente é libertado quando este fenómeno se verifica.

“Ideia estranha” e “cenário mais exótico”

Outra hipótese é que o ‘Oumuamua seria um objeto de origem natural como um asteroide — como demonstram em todo o artigo. Mas é claro que ser uma nave extraterrestre ou um resto dessa nave tem muito mais interesse e depressa os órgãos de comunicação social e as redes sociais se apressaram a revelar a novidade.

“Uma coisa que têm de entender é que os cientistas estão perfeitamente satisfeitos por publicarem uma ideia estranha se tiverem a hipótese, por mais pequena que seja, de não estarem errados”, disse Katie Mack, uma astrofísica atenta ao empolamento dos resultados científicos, na rede social Twitter.

Como refere o site Ars Technica, os investigadores dedicaram o artigo quase todo a descrever a forma e massa do objeto para explicar como é que a pressão da radiação podia explicar o seu movimento e, note-se, o processo natural que poderia justificar porque é que isso acontece. Mas chegando às conclusões e discussão do artigo, os autores apostaram num “cenário mais exótico” com a possibilidade de ‘Oumuamua ter origem numa civilização alienígena.

Em 2017, vários telescópios concentraram-se no objeto durante três noites seguidas, para determinar aquilo que ele poderia ser. “Temos a sorte de que o nosso telescópio estava a ‘olhar’ para o sítio certo, na altura certa, o que permitiu capturar este momento histórico”, afirmou Lindley Johnson, responsável pelo Planetary Defense da NASA, num comunicado divulgado no ano passado.