Uma das coisas boas em dia de jogos europeus da Juventus passa pelo manancial de histórias que, de uma ou outra forma, vão sendo contadas sobre Cristiano Ronaldo. Esta quarta-feira não foi exceção, com destaque para a entrevista de Djemba Djemba, antigo médio do Manchester United que entrou nos red devils quase na mesma altura do que o português. Mas também houve um pormenor de Ole Gunnar Solskjäer sobre os primeiros tempos do avançado em Old Trafford. E uma confidência de Marcus Rashford, um dos melhores dianteiros ingleses da atualidade. Se tiver o madeirense, está bom.

“Quando a minha mãe morreu em 2010, ele estava lá para mim. Na altura jogava no Real Madrid mas ligou-me e disse-me que, se precisasse dele ou de alguém com quem falar, estava lá para mim. Foi um momento que nunca mais esquecerei, foi importante ouvir aquelas palavras numa altura complicada da minha vida”, recordou o camaronês de 37 anos, que joga agora nos suíços do FC Vallorbes-Ballaigues, ao The Sun. “Fomos juntos de carro para o nosso primeiro jogo, andávamos muitas vezes juntos, íamos às compras ao Selfridges. A primeira vez que fui ao Nando’s foi com ele, íamos lá às vezes a seguir aos treinos com a mãe e a irmã. Às vezes ia ele a minha casa e preparava comida africana. É alguém muito generoso”, acrescentou.

Ronaldo marcou o primeiro golo nesta edição da Champions e pediu desculpa aos adeptos do United (MIGUEL MEDINA/AFP/Getty Images)

“O Cristiano foi o único a quem Sir Alex [Ferguson] disse: ‘Preocupa-te só em atacar e não penses em defender’. Nem Giggs, nem Beckham, nem Cantona tiveram isso”, contou o ex-avançado norueguês Solskjäer (hoje treinador do Molde) à Gazzetta dello Sport. “O que me ajuda a abrir os olhos é o facto de recordar que, quando o Cristiano chegou ao clube, era um dos maiores talentos vistos no United em muitos anos, mas a forma como geriu a carreira e a melhorou ano após ano… Foi incrível. Por norma, jogadores com a idade dele estão a caminho do final da carreira com o nível começa a baixar um pouco, ele continua a subir. Para mim não há maior inspiração no futebol”, admitiu Marcus Rashford em declarações às plataformas oficiais do clube.

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Um Juventus-Manchester United é sempre um jogo com história; um Juventus-Manchester United com Cristiano Ronaldo é algo especial, até porque o avançado que foi o melhor marcador da Liga dos Campeões nas últimas seis temporadas chegou à quarta jornada da fase de grupos ainda sem qualquer golo. Seria desta que a barreira caía de vez? Foi mesmo. Mas quem saiu a rir foi outro português que também devia ser mais vezes alvo deste tipo de trabalhos – José Mourinho.

Ronaldo não marcou na primeira parte mas registou-se um fenómeno curioso – o português fez uma espécie de viagem no tempo e, em alguns lances quando estava sobretudo descaído na direita, fez lembrar aquele miúdo rebelde que chegou a Old Trafford com 18 anos para conquistar a Europa. Foi um problema para Luke Shaw (que chegou a cair sozinho), foi uma solução para a toada que o jogo ia levando, quase sem oportunidades e com demasiado respeito mútuo sem que se percebesse ao certo porquê. O Manchester United tem na defesa um calcanhar de Aquiles e na saída em construção uma condicionante, pelo que a melhor forma de encarar qualquer jogo, qualquer que seja o adversário, passa por algo tão simples como colocar um elemento com capacidade de passe no corredor central e lançar as setas que tem na frente, principalmente Martial. Não o fez. Já a Juventus, pelo pendor ofensivo dos laterais e a variedade de recursos na finalização que a dupla Dybala-Ronaldo oferece, podia ter carregado com essa fórmula em vez de ter tanto jogo a passar pelo corredor central sem desenvolvimento. Não o fez.

À exceção de um remate ao poste de Khedira sozinho na área após uma jogada com cruzamento atrasado de Ronaldo na direita e de um passe de Cuadrado que desviou no pé de Lindelöf e obrigou o aniversariante De Gea a uma grande intervenção, quase não houve oportunidades até ao intervalo. E não foi muito diferente no arranque da etapa complementar, tirando um fantástico remate de Dybala na trave. Os ingleses pareciam mais capazes de subir mas paravam no ataque ao último terço. Martial, com um tiro de fora da área, deu o único sinal de perigo mas a passar ao lado da baliza da Vecchia Signora.

Faltava aquele momento de magia para desfazer o nulo e ele surgiu mesmo pelo suspeito do costume e de uma forma fantástica: passe longo de Bonucci a explorar a profundidade nas costas dos centrais dos red devils e remate de primeira de Ronaldo na área a deixar pregado De Gea (65′). É certo que, na última temporada, o capitão da Seleção Nacional marcou ali naquela baliza o melhor golo da época que só a UEFA entendeu não ser (o prémio foi para Salah); agora, não foi de bicicleta, mas aquele gesto e o remate de primeira sem deixar cair a bola só está ao alcance dos melhores. Esse é o seu lugar, aos 33 anos.

Massimiliano Allegri, o treinador da Juventus que não tinha dúvidas de que seria um jogo para a sua estrela marcar, fez uma cara como quem fica sem palavras pelo golo; na zona de aquecimento, Mandzukic e Cancelo sorriam pelo momento que acontecera uns instantes antes; na tribuna, a namorada, o filho mais velho e o irmão festejavam mas também lá estava Miguel Paixão, um dos melhores amigos que conheceu nos tempos de formação no Sporting, a celebrar como se tivesse sido seu. Foi uma explosão de sentimentos em Turim que não evitou o gesto do costume de Cristiano Ronaldo, que depois de mostrar os abdominais após o golo passou pela bancada dos adeptos ingleses para pedir desculpa e agradecer o apoio que sempre lhe deram.

A partir daí, e durante 15 minutos, a Juventus foi perdendo ocasiões atrás de ocasiões para sentenciar em definitivo o encontro. Após um passe de Ronaldo (a quantidade de assistências que o português tem dado nos últimos jogos da Vecchia Signora não tem precedentes nos últimos anos), Pjanic desperdiçou uma oportunidade clara na área (67′); depois foi Cuadrado, ainda em melhor posição e com CR7 de novo na jogada, a falhar o impossível (74′); por fim, Pjanic voltou a arriscar de meia distância e fez passar a bola a centímetros da trave de De Gea, que mais uma vez ficou a tentar desviar com os olhos (76′). Parecia uma questão de tempo até haver mais golos mas os mesmos vieram na baliza menos provável e logo em dose dupla.

Em menos de cinco minutos, Juan Mata marcou de livre direto, Alex Sandro fez um autogolo no seguimento de um livre lateral e o Manchester United impôs mesmo a primeira derrota da temporada à Juventus, numa reviravolta impensável perante tudo o que se estava a passar no jogo e que mantém os ingleses vivos na corrida pelo apuramento na Champions.