O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a provocar polémica com a comunicação social na extensa conferência de imprensa pós-eleições intercalares de 6 de novembro. Tudo aconteceu quando o jornalista Jim Acosta, da estação de televisão CNN, se dirigiu ao presidente norte-americano questionando-o se não estaria a ”demonizar” os migrantes ao referir-se à caravana que se dirige aos Estados Unidos à procura de asilo. Donald Trump não gostou e rapidamente disse:  ‘‘Chega. Pouse o microfone’‘.

No final do dia, a Casa Branca anunciou que a acreditação de Jim Acosta foi revogada, ou seja, o jornalista da CNN deixa de ter acesso permanente às conferências de imprensa e comunicados feitos na residência oficial do presidente dos Estados Unidos. Teoricamente, o jornalista poderá pedir um acesso diário para continuar a trabalhar na Casa Branca, mas este é um processo demorado e pouco prático para qualquer repórter que precise de entrar e sair livremente do local. Jim Acosta filmou mesmo o momento em que entregou o hard pass, a acreditação de correspondente permanente na Casa Branca, a um segurança.

Jim Acosta participou no programa da noite da CNN, esta terça-feira, e contou que percebeu que teria problemas pouco depois da conferência de imprensa, quando foi impedido pela segurança da Casa Branca de passar por uma determinada zona. “É uma experiência um pouco surreal”, admitiu o jornalista, que estava surpreendido por estar a ser impedido de fazer o seu trabalho por ter feito uma pergunta a Donald Trump.

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A Associação de Correspondentes da Casa Branca já emitiu entretanto um comunicado onde condena aquilo a que chama “a decisão da administração Trump de usar as credenciais de segurança dos Serviços Secretos dos Estados Unidos como uma ferramenta para punir um jornalista com quem tem uma relação difícil”. “Revogar o acesso ao complexo da Casa Branca é uma reação pouco coerente com a suposta ofensa e é inaceitável”, acrescenta o comunicado, que também apelida a decisão de “fraca e equívoca”.

Este vídeo mostra toda a tensa troca de palavras, de que transcrevemos o excerto mais violento:

[Donald Trump: Honestamente, acho que me devias deixar governar o país. Governa tu a CNN. Ok, já chega.
Jim Acosta: Senhor presidente…
DT: Já chega. Já chega.
JA: Senhor presidente…
DT: Já chega. Desculpe, já chega. 
JA: Eu quero fazer uma pergunta sobre a investigação à Rússia. Está preocupado…
DT: Eu não estou preocupado com nada na investigação à Rússia porque é tudo embuste. Já chega. Pousa o microfone.
JA: Senhor presidente, está preocupado com uma possível acusação?
DT: Digo-te o seguinte: a CNN devia ter vergonha de te ter a trabalhar para eles. És uma pessoa grosseira e terrível e não devias estar a trabalhar para a CNN. És uma pessoa muito grosseira. A maneira como tratas a Sarah Huckabee [Sanders] é horrível. E a maneira como tratas as outras pessoas é horrível. Não devias tratar as pessoas dessa maneira.]

A discussão entre Donald Trump e Jim Acosta durou ainda alguns minutos e, quando o jornalista tentou mudar de assunto perguntando sobre a investigação em curso para determinar o papel da Rússia nas eleições presidenciais de 2016, o presidente cortou a conversa completamente e acusou o jornalista de tratar de ”maneira horrível” a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders: ”Não deverias tratar as pessoas dessa forma”. No final, o presidente acusou-o de ser ”uma pessoa grosseira e terrível”, chegando a afirmar que o jornalista em questão ”não deveria estar a trabalhar na CNN”. “A CNN devia ter vergonha de o ter a trabalhar como jornalista, você é um mal educado.” E, por fim, acrescentou o que tem repetido nos últimos tempos: “Quando vocês reportam fake news, vocês são o inimigo do povo.”

“Colocar as mãos numa jovem mulher”; “Isto é mentira”; e o vídeo com a guerra pelo microfone

Mais tarde, a secretária de imprensa de Donald Trump recorreu ao Twitter para acusar Jim Acosta de “colocar as mãos numa jovem mulher que estava apenas a tentar fazer o seu trabalho enquanto estagiária da Casa Branca”. “Esta conduta é absolutamente inaceitável. E também é uma completa falta de respeito para os colegas do jornalista não lhes dar a oportunidade de colocar uma questão”, disse ainda Sarah Huckabee Sanders. Como resposta, Acosta limitou-se a escrever: “Isto é mentira”.

Em causa está o momento em que uma funcionária da Casa Branca tenta retirar o microfone a Jim Acosta – o jornalista impede-a, continuando a questionar Donald Trump. A CNN, estação de televisão para a qual o jornalista trabalha, também já emitiu um comunicado onde sai em defesa do repórter. “Esta é uma ação de retaliação face às perguntas desafiadoras durante a conferência de imprensa. Na explicação, a secretária de imprensa Sarah Sanders mentiu. Fez acusações fraudulentas e citou um incidente que nunca aconteceu. Esta decisão sem precedentes é uma ameaça à nossa democracia e o país merece melhor. Jim Acosta tem o nosso total apoio”, garantiu a CNN.

Este vídeo, de um outro ângulo da conferência de imprensa, mostra a funcionária da Casa Branca a tentar retirar o microfone ao jornalista e a sua tentativa de evitar que isso acontecesse, não entregando o microfone, para poder continuar o seu trabalho.

(artigo atualizado às 7h36 de 8/11 com a informação de que a acreditação de Jim Acosta tinha sido revogada pela Casa Branca, a acusação de agressão e a reacção da CNN)