A Caixa Económica Montepio Geral terá financiado em 148,3 milhões de euros um ruinoso negócio de cruzeiros do empresário Rui Alegre, tendo como garantia apenas 40% desse valor — cerca de 58,3 milhões. Segundo uma investigação da SIC, o dinheiro terá sido atribuído através de 14 sociedades de Alegre, sendo certo que uma parte dos fundos em questão terá sido utilizada para amortizar empréstimos de outras instituições de crédito e até para pagar o salário e dois carros para o empresário.

O “sonho” de criar uma empresa turística de cruzeiros fez com que Rui Alegre tivesse comprado a um armador grego falido outras três embarcações — o Lisboa, Porto e Azores. “Estou a por a cabeça no cepo, se isto correr mal tenho tudo a perder”. “Mas não vai acontecer, tenho a certeza absoluta”, afirmou o próprio Alegre em entrevista à SIC, em agosto de 2013.

Tudo terá começado com a compra do navio “Funchal”. Esta antiga embarcação da frota colonial foi adquirida para ser renovada mas nunca chegou a ser utilizada. Está parada há três anos no Cais da Matinha, em Lisboa, e deverá ser vendida no próximo dia 5 de dezembro de 2018 por 3,3 milhões de euros — um décimo do valor gasto na renovação da embarcação.

Durante dois anos, o Montepio foi financiando o projeto através das tais 14 sociedades — todas elas pertencentes a Rui Alegre. Foram assinados 58 contratos de crédito com as sociedades de Alegre, sendo que uma parte de tais créditos foram concedidos mesmo com o parecer negativo do Departamento de Avaliação de Crédito (DAC) do banco.

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A 30 de junho de 2015, quatro meses depois das empresas de Rui Alegre terem sido declaradas insolventes, a Direção de Auditoria e Inspeção do Montepio apresentou um relatório com mais de 40 páginas — a que a SIC teve acesso — onde foram apresentados todos os detalhes desta operação financeira alegadamente ruinosa.

Segundo o mesmo relatório, o Montepio terá ficado com uma exposição de 150 milhões de euros (os referidos 148,3 milhões de créditos mais outras garantias concedidas pela instituição de crédito), criada por um total de 58 contratos de financiamento. A auditoria apurou ainda que parte desse dinheiro nem terá sido aplicado no negócio dos cruzeiros tendo, em vez disso, sido utilizado para amortizar dívidas anteriores, comprar dois carros e pagar os salários de Rui Alegre.

Confrontado pela jornalista do canal televisivo, Tomás Correia (antigo presidente da Caixa Económica Montepio Geral, que foi afastado pelo Banco de Portugal) diz desconhecer o relatório em questão e recusou ver a cópia do mesmo que a jornalista da SIC que o entrevistou tentou mostrar-lhe. “Não vejo cópias de relatórios entregues por terceiros”, afirmou. Diz ter não qualquer tipo de relação com o empresário Rui Alegre e assegura que confia que “todos os diretores respeitaram todas as regras de atribuição de crédito”.

Tomás Correia é presidente da Associação Mutualista Montepio, acionista maioritária da Caixa Económica Montepio Geral, e recandidata-se a um novo mandato nas eleições que vão decorrer no próximo dia 7 de dezembro.