Emails e documentos internos do Facebook revelados esta quarta-feira pelo parlamento britânico revelam que a empresa ponderou favorecer o acesso a dados pessoas dos utilizadores a empresas com o Airbnb, o Netflix ou a Lyft (a maior concorrente da Uber), avança o The New York Times.  A informação, referente à forma como a empresa operou entre 2012 e 2015, mostra que — mesmo depois de o Facebook ter alterado a forma como terceiros podiam aceder a dados dos utilizadores — as regras do Facebook podem ter sido alteradas para estas empresas.

A rede social fundada e liderada por Mark Zuckerberg, que detém outras plataformas como o WhatsApp e o Instagram, afirmou em resposta ao Observador, que os documentos [ao todo, 250 páginas, relevadas pelo Comité parlamentar britânico para assuntos Digitais, Cultura, Media e Desporto], são parte de um “processo judicial infundado” e que “são apresentados de forma descontextualizada e de forma enganosa”.

Esta informação, revelada pelo parlamento britânico, faz parte de um processo judicial que o Facebook tem a decorrer, na Califórnia, contra a Six4Three. A empresa que pôs a rede social em tribunal teve de acabar com a app Pikinis em 2015, quando o Facebook alterou as regras de acesso a dados de utilizadores. Esta aplicação permitia encontrar fotografias em biquíni de utilizadores da plataforma, mas como, a partir desta data, as aplicações deixaram de ter acesso a dados dos amigos na rede social, teve de fechar. A Six4Three afirma que, por depender do acesso a estes dados, foi desfavorecida em relação a outras empresas que teriam mais capital, como discutido nestes documentos.

Os documentos revelados esta quarta-feira, que foram apreendidos pelas autoridades britânicas a Ted Kramer, fundador da Six4Three, quando este foi a Londres na semana passada, contém emails e documentos internos sobre as práticas do Facebook entre 2012 e 2015, como explicou o The Wired. Segundo o comité parlamentar britânico, os documentos revelam que o Facebook celebrou acordos com algumas empresas para permitir o acesso privilegiado a dados de utilizadores depois de 2015, mas com as regras anteriores, nas quais seria possível às apps terceiras acederem à informação de amigos dos utilizadores.

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As autoridades britânicas têm investigado a rede social devido ao escândalo Cambridge Analytica, no quale a empresa de análise de dados utilizou indevidamente a informação de 87 milhões utilizadores para influenciar eleições. A investigação tem também continuado devido a outros problemas em que a rede social tem estado envolvida, como o ataque informático que afetou informação de 29 milhões de utilizadores ou a propagação de fake news [notícias falsas].

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O Facebook afirma que, desde 2015, “não permite que uma pessoa possa partilhar os dados de amigos da rede social com programadores”, desmentido a entidade britânica. Quanto à informação nos documentos, a empresa de Mark Zuckerberg defende-se e diz que, “como qualquer negócio, houve várias conversas internas sobre várias formas sobre como poderia construir um modelo de negócio sustentável para a plataforma”.

A rede social afirma que esses emails continham apenas discussões sobre a possibilidade de as empresas poderem aceder a mais informação de utilizadores, desde que pagassem mais. Nestes documentos, há dados que revelam que a empresa discutiu cortar o acesso a empresas terceiras que via como concorrentes, o que, a ser provado, seria uma prática abusiva de concorrência.

O comité parlamentar britânico que tem investigado o Facebook justifica a publicação destes documentos por o órgão ter legitimidade soberana para divulgá-los e pelo interesse público que têm, mesmo estando protegidos por segredo de justiça nos Estados Unidos, no tribunal onde decorre este processo da rede social contra a Six4Three.