O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, (CEMGFA), almirante Silva Ribeiro, afirmou hoje que a missão dos militares portugueses na República Centro-Africana “é a mais difícil” e causa “preocupação”, mas também “grande satisfação” pela capacidade operacional no terreno.
“Causa-me preocupação mas também grande satisfação porque de facto é a missão mais difícil que nós temos hoje em dia no quadro das FND [Forças Nacionais Destacadas], uma missão que com alguma regularidade tem operações de combate com bastante intensidade”, descreveu.
O almirante Silva Ribeiro falava à agência Lusa durante uma visita ao aquartelamento M`Poko, Bangui, capital da RCA, onde estão sediados os 159 militares portugueses que integram a missão militar da ONU [MINUSCA], na maioria paraquedistas.
Silva Ribeiro, e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Nunes da Fonseca, e o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, contactaram hoje com os militares portugueses que vão iniciar nos próximos dias uma operação em Bambari, uma das cidades mais problemáticas, a 300 quilómetros da capital, uma distância que demora dois ou três dias a percorrer por estrada de terra batida.
Admitindo “motivos de preocupação” porque a missão “tem risco”, o CEMGFA recordou que há um mês, também em Bambari, a força de reação rápida portuguesa enfrentou “num dos dias uma operação de sete horas onde houve combates”.
O almirante Silva Ribeiro frisou que o motivo da presença dos militares portugueses “é protegerem as populações indefesas dos grupos armados e dos grupos criminosos que atuam num país sacrificado”.
“Nenhum conflito se resolve só por efeito da força militar, que existe para dar tempo e oportunidade às negociações políticas”, frisou, dizendo que as autoridades da RCA “reconhecem amplamente” o esforço português.
No aquartelamento de M´Poko, o ministro da Defesa Nacional e chefes militares almoçaram com os soldados portugueses, entregando relógios como presente de Natal. Durante o convívio, o ministro saudou a “resiliência e a resistência” dos militares, reconhecendo que a missão na RCA motiva uma “preocupação constante” e também “um grande sentimento de responsabilidade” face a “uma operação que não é fácil e tem riscos”.
“A vossa resistência tem estado à prova”, disse, enaltecendo a “resiliência e a resistência” dos soldados e manifestando a “gratidão” do Governo português.
Para além da missão do 4.º contingente português na missão da ONU, o ministro da Defesa e chefes militares estiveram com os militares na missão da União Europeia, de treino e aconselhamento às Forças Armadas da RCA [FACA], comandada pelo general do Exército Hermínio Maio, que vai cumprir um segundo mandato, até julho de 2019.
Segundo dados fornecidos à Lusa, a missão da União Europeia já formou, em dois anos, 3400 militares das FACA, que terão entre 7000 a 8000 militares no total. O conflito na RCA, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou centenas de milhares de mortos entre os civis, 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.
Desde 2013 que a RCA enfrenta sucessivos casos de violência protagonizados por milícias muçulmanas, partidárias dos rebeldes dos Seleka e cristãos denominados anti-Balaka, que causaram milhares de mortos.
O governo do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.
O resto é dividido por 18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.