O Governo chinês defendeu esta segunda-feira a reputação da gigante das telecomunicações Huawei, após a detenção do diretor de vendas da empresa na Polónia, acusado de espionagem e, entretanto, despedido.
É um caso individual, esperamos que o lado polaco possa organizar visitas consulares, e que o julgamento decorra de acordo com a lei, e respeite os direitos e interesses legítimos da pessoa envolvida”, disse a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.
O governo polaco anunciou, na sexta-feira, as detenções do cidadão chinês Wang Weijing e do polaco Piotr D., um antigo funcionário dos serviços secretos da Polónia, que trabalhou, no passado, na empresa de telecomunicações Orange, e que é também acusado de espionagem.
Polónia. Detido trabalhador da Huawei acusado de ser um espião chinês
Wang era o responsável pelas vendas da divisão da Huawei na Polónia e, segundo a sua página oficial na rede Linkedin, trabalhou como assistente do cônsul geral chinês na cidade de Danzigue, durante mais de quatro anos, antes de entrar para os quadros da Huawei.
Questionada sobre as notícias de que a Polónia está a considerar restringir o uso dos produtos da Huawei em organismos públicos do país, a porta-voz defendeu a empresa chinesa.
Apenas através dos factos e evidências podemos julgar quais são as empresas que representam uma ameaça à segurança nacional; acredito que a reputação da Huawei é reconhecida pelos seus parceiros e esperamos que as partes relevantes possam parar de difamar e coibir a Huawei e outras empresas chinesas”, acrescentou a porta-voz.
O Governo chinês permanecerá em contacto com as autoridades polacas para acompanhar o caso, depois de membros da embaixada chinesa na Polónia se terem reunido na sexta-feira passada com membros do ministério polaco dos Negócios Estrangeiros, disse.
A gigante das telecomunicações anunciou, entretanto, a demissão de Wang, neste fim de semana, apontando que as “suas alegadas ações não têm nada a ver com a empresa”, e lamentou que “o incidente em questão tenha prejudicado a reputação da Huawei”.
A Huawei cumpre com todas as leis e regulamentos vigentes nos países onde opera, e exigimos que todos os funcionários cumpram com as leis e regulamentos dos países onde residem”, defendeu a empresa em comunicado.
Os escritórios da Huawei e da Orange em Varsóvia foram alvo de buscas por membros da agência de contra-informaçao e de segurança nacional da Polónia, no âmbito da investigação, segundo as autoridades polacas.
O caso ocorre depois de, no início de dezembro, a diretora executiva da Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida no Canadá a pedido dos Estados Unidos.
As autoridades dos EUA pediram ao Canadá que detivesse Meng por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.
Uma lei federal norte-americana proíbe responsáveis governamentais e militares de utilizarem aparelhos fabricados pela Huawei e as suas alegadas ligações ao Partido Comunista Chinês são frequentemente salientadas. Nova Zelândia e Austrália adotaram políticas semelhantes.
Também o Japão, cuja agência de cibersegurança classificou a firma como sendo de “alto risco”, baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais.
Em Portugal, durante a recente visita do presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia de quinta geração (5G) em Portugal, apesar de a União Europeia ter assumido estar “preocupada” com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança.
A Huawei é o maior fabricante global de equipamentos de rede e tem escritórios em Lisboa, onde conta também com um centro de inovação e experimentação.
Segundo a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), desde 2004, a firma chinesa investiu 40 milhões de euros em Portugal.
As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais elétricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como ativos estratégicos para a segurança nacional.