A ministra brasileira Damares Alves, responsável pela pasta de Família e Direitos Humanos, é acusada por uma tribo indígena de Kamayurá, no Xingu, em Mato Grosso, de ter retirado uma criança de seis anos à família e nunca a ter devolvido. Hoje em dia, 15 anos depois, a criança é apresentada como a sua filha adotiva.
A história é narrada pela revista Época, do grupo Globo, e conta que Lulu terá sido retirada da aldeia por uma amiga da ministra para efetuar um tratamento dentário, mas nunca chegou a voltar. Apesar de ser apresentada como filha adotiva de Damares Alves, a adoção nunca chegou a ser formalizada.
Segundo a revista, Lulu nasceu a 20 de maio de 1998 e foi criada pela avó paterna, Tanumakaru, até aos seis anos de idade. Na altura dos factos, a ministra e Márcia Suzuki, amiga e braço direito de Damares, apresentaram-se como missionárias da aldeia e manifestaram-se preocupadas com a saúde da menina. “Márcia veio na Kuarup [festa tradicional em homenagem aos mortos], olhou para os dentes todos estragados [de Lulu] e falou que ia levar para tratar”, contou Mapulu, pajé [curandeira] kamayurá e irmã do cacique [chefe da aldeia].
Entre os vários testemunhos está o da avó da menina, agora com 80 anos, que revelou a história na primeira pessoa. Nas declarações prestadas, afirma que nunca foi informada de que a criança não regressaria.
Chorei, e Lulu estava chorando também por deixar a avó. Márcia levou na marra. Disse que ia mandar de volta, que quando entrasse de férias ia mandar aqui. Cadê?”, conta a avó de Lulu à revista.
A tribo indígena confirma que a menina foi levada por Márcia Suzuki e que só a viram cerca de dois anos depois de ter sido retirada à família. Confrontada com os factos, a ministra alega que não tem nada a esconder e garante que a menina visita a família biológica regularmente. A ministra convidou os jornalistas a terem “um olhar especial para estes povos, para as mães e crianças que sofrem”.
Todos os direitos de Lulu Kamayurá foram observados. Nenhuma lei foi violada. A família biológica dela a visita regularmente. Tios, primos e irmãos que saíram com ela da aldeia residem em Brasília. Todos mantêm uma excelente relação afetiva”, afirma a ministra.
Damares Alves escusou-se ainda a justificar as razões que a levaram a não realizar uma adoção formal. Segundo a revista, a adoção de uma criança indígena precisa de passar pelo crivo da Justiça Federal e da Justiça comum. A decisão deve ainda passar pela Fundação Nacional do Índio, uma associação protetora da comunidade indígena, para que através da análise de profissionais se possa avaliar se há vínculos entre a criança e o adotante e se a família mais extensa aprova a adoção. Nos casos das populações indígenas, a opinião da aldeia deve ser tida em conta, revela a Exame.
A população relatou ainda que a mãe biológica da criança não teria condições para a criar e que Piracumã, o tio da menina, tomou a iniciativa de delegar a criança à avó. A comida e os medicamento eram escassos e a criança chegou mesmo a ficar subnutrida. Márcia fundou, juntamente com Damares, a ONG Atini, cujo lema é salvar crianças indígenas.