Um ano e quatro meses depois de ser detido, Oriol Junqueras falou publicamente pela primeira vez. Acusado de delito e de má utilização de dinheiros públicos por ter participado na organização do referendo sobre a independência da Catalunha a 1 de outubro de 2017, o ex-vice-presidente da Generalitat (Governo regional da Catalunha) diz estar inocente. Diz que está preso por defender a independência da região e não por nenhum crime que tenha cometido. “Votar não é um delito, mas impedir que as pessoas exerçam esse direito utilizando a força é”, argumentou o independentista catalão perante o Tribunal Supremo de Justiça espanhol. Por essa razão, explica, considera ser “um preso político”.

Nas respostas aos vários advogados presentes na sessão, Junqueras repetiu que “nunca, nunca, nunca” pretendeu que o referendo redundasse em atos de violência, responsabilizando as forças de segurança por esse resultado. “A polícia utilizou uma violência injustificada e desnecessária, que contradizia até o mandato judicial”, defende-se

Também recusa ser culpado pela má utilização de dinheiros público. A acusação acredita que a Generalitat utilizou fundos públicos para financiar a organização do referendo. Mas Junqueras nega: “Aos contribuintes, o referendo de 1 de outubro não lhes custou nada”. Perante esta resposta, os juízes voltaram a insistir que no orçamento apresentado pelo governo regional de que fazia parte estava prevista uma verba para “atos eleitorais”. No entanto, garante o ex-número dois desse executivo, “nunca se destinou à realização do referendo”. E terminou com uma acusação ao Ministério público espanhol: “estão a retorcer a acusação para tentarem converter um debate patrimonial num debate político”.

Num interrogatório que durou mais de duas horas, Junqueras recusou a responder às perguntas da acusação e aceitou apenas falar quando questionado pela defesa. “Acusam-me pelas minhas ideias e não pelos meus atos”, justificou-se.

No fim, e depois de ter passado grande parte do tempo a responder à parte mais jurídica do interrogatório, voltou às declarações políticas. E começou com uma frase que já está a indignar os anti-independentistas. “Eu amo Espanha, disse-o muitas vezes e repito. Porque é verdade”, afiançou. De seguida, defendeu uma solução democrática e pacífica, “e de diálogo multilateral”, para a Catalunha. “Foi sempre isso que defendi. Isto não é delito não era delito antes e não deve sê-lo”, concluiu.

Oriol Junqueras vai ficar detido pelo menos enquanto durar o julgamento. Se for considerado culpado, pode incorrer numa pena que pode ir até aos 25 anos de prisão efetiva.

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