É o homem mais rico do Reino Unido, com uma fortuna estimada em 21 mil milhões de libras (cerca de 24 mil milhões de euros), apoia a saída do Reino Unido da União Europeia, mas ele próprio também vai abandonar o país. Jim Ratcliffe, juntamente com dois dos seus principais assessores, terá decidido fazer as malas e mudar-se para o Mónaco. Objetivo: poupar quatro mil milhões de libras em impostos (cerca de 4,6 mil milhões de euros).

O caso foi noticiado pelo The Sunday Times (acesso restrito) este domingo. Segundo o jornal britânico, o empresário de 66 anos detém 60% da Ineos, uma empresa de produtos químicos que no ano passado que alcançou lucros de mais de 2,2 mil milhões de libras (2,5 mil milhões de euros) e emprega 18,5 mil pessoas, está a trabalhar com especialistas em impostos da PricewaterhouseCoopers (PwC) com o objetivo de criar uma nova estrutura para reduzir o imposto pago sobre as suas receitas globais.

A decisão da saída do britânico surge depois de James Dyson, outro defensor do Brexit, também ter decidido transferir a sua empresa para Singapura depois do Brexit, tendo em conta a questão dos impostos. Na lista figuram também John Redwood, que aconselha os investidores a empregarem dinheiro no exterior,  Jacob Rees-Mogg que abriu uma sucursal da sua firma em Dublin, na Irlanda, e Nigel Lawson, que está à procura de residência em França. Todos eles têm em comum o facto de serem defensores do Brexit.

A notícia de que Ratcliffe vai mudar a empresa Ineos foi recebida com muitas críticas no Twitter. “O homem mais rico da Grã-Bretanha – o ‘Brexiter’ Jim Ratcliffe – ama tanto a Grã-Bretanha que a deixa para morar em Monte Carlo”, escreve, por exemplo, Otto English. Já Vince Cable, líder do Partido Liberal Democrata, referiu-se à decisão de Ratcliffe como sendo “profundamente cínica”. “Antes de ajudar as empresas, o governo tem de ser firme e assegurar que está a acima da evasão fiscal”, acrescentou.

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Outra cidadã britânica furiosa escreve no Twitter: “O bilionário ‘Brexiteer’ Jim Ratcliffe deixa Reino Unido para Mónaco — fez dinheiro nas costas do povo britânico, mas prefere levá-lo com ele a contribuir com algo de volta! A ganância é um dos sete pecados mortais! Espero que apodreça no inferno!”.

De acordo com o The Guardian, o mais recente disponível relatório anual da Ineos, de 2017, apresenta que a PwC recebeu 5,1 milhões de libras (5,83 milhões de euros) em honorários da Ineos, um pouco abaixo dos 5,8 milhões de libras (6,6 milhões de euros) do ano anterior. As taxas incluíam 1,7 milhões de libras (cerca de 2 milhões de euros) relacionadas com o aconselhamento fiscal em comparação com 700 mil libras (perto de 800 mil euros) para auditar as suas contas anuais.

Ratcliffe foi, em maio do ano passado, classificado como a pessoa mais rica do Reino Unido, saltando do 18.º lugar para o topo da lista. A sua riqueza está estimada em 21 mil milhões de libras (24 mil milhões de euros).

Filho de um gerente de escritório, o empresário foi criado perto de Manchester e fundou a sua própria empresa, a Ineos, em 1998. Num perfil elaborado pelo The Sunday Times, o jornal explica o papel que a empresa de Ratcliffe tem no quotidiano das pessoas: “Ele é responsável pela tampa de plástico do tubo da pasta de dentes, pelo cloro que limpa a água usada para escovar os dentes”, disse o jornal, descrevendo o empresário como “o mais bem-sucedido industrial britânico do pós-guerra”.

Ainda nesse perfil, Ratcliffe diz ter sido inspirado a seguir uma carreira na indústria quando olhou pela janela da sua casa em Failsworth, Manchester, e começou a contar quantas chaminés das fábricas existiam, disse, recordando que a maior parte delas já não existe. O empresário quer repor essas fábricas. “Não há nada de errado com a manufatura”, referiu.