Michael Cohen, o ex-advogado de Donald Trump, está neste momento a ser questionado por um comité especial da Câmara dos Representantes que procura esclarecimentos sobre os novos dados que o próprio Cohen está a apresentar e que podem de destituir o atual Presidente dos EUA.

Uma das várias revelações que Cohen já está a fazer é a de que Trump realmente pagou 130 mil dólares para silenciar Stormy Daniels, a estrela porno com quem teve um caso meses antes da campanha eleitoral — foi exibido um cheque assinado pelo atual Presidente para o provar. “Trump é um vigarista. Ele pediu-me para pagar a uma estrela de cinema de adultos com quem ele tinha tido um caso e para mentir à sua mulher [Melania] sobre isso, algo que eu fiz. Mentir à Primeira Dama é um dos meus maiores arrependimentos”, afirma o ex-advogado que já foi condenado a três anos de cadeia por ter mentido (supostamente a mando de Trump) numa audição semelhante a esta. “Ela é uma gentil e boa pessoa. Respeito-a muito e ela não merecia isso”, acrescentou ainda.

O cheque assinado por Donald Trump, exibido por Cohen (Foto:Chip Somodevilla/Getty Images)

Michael Cohen disse que Trump teria trabalhado em conluio com a Russia para ganhar as eleições presidenciais de 2016. Embora tinha hesitado inicialmente e dito que responder a essa questão seria pura especulação da sua parte, Cohen acabou por afirmar: “Sim”. “O desejo de vencer de Trump tê-lo-ia feito negociar com qualquer um“, acrescentou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Cohen admitiu ainda que toda a família Trump pudesse estar comprometida com a Rússia nos meses anteriores às eleições presidenciais de 2016. “A empresa estava envolvida nas negociações [da Trump Tower em Moscovo], o que significa que a família estava envolvida nas negociações”. Questionado sobre se seria possível que a família estivesse em conflito ou comprometida com um adversário estrangeiro nos meses antes das eleições, Cohen respondeu que sim.

Tenho vergonha de ter escolhido fazer parte deste encobrimento das atividades ilícitas do Sr. Trump, em vez de dar prioridade àquilo que a minha consciência me dizia”, disse Cohen. “Tenho vergonha porque eu sei o que o Sr. Trump é: Ele é um racista, um burlão, um aldrabão”, acrescentou ainda.

Cohen afirmou ainda que Trump liderou “um esquema criminoso para violar as leis do financiamento de campanhas eleitorais”, referindo-se ao dinheiro destinado a pagar a Daniels. Também explicou que nunca pediu um perdão presidencial e nunca aceitaria um.

Os esquemas para aumentar a riqueza e aparecer na lista dos mais ricos

O antigo advogado de Trump revelou também que, entre 2011 e 2013, o presidente norte-americano terá mentido sobre a sua riqueza, aumentando-a para aparecer na lista dos mais ricos da revistas Forbes e diminuindo-a para fugir aos impostos. “O Sr. Trump inflacionava o valor total do seu património quando servia para os seus objetivos, como tentar aparecer na lista dos mais ricos da revista Forbes, e deflacionava o seu património para diminuir os impostos imobiliários”, explicou Cohen.

“Houve alturas em que me pediram para falar com um indivíduo da Forbes porque o Sr. Trump queria a cada ano ter o seu património líquido na lista dos indivíduos mais ricos da Forbes”, acrescentou ainda, explicando o esquema que era feito para que esse património fosse aumentando: “Olhávamos para os bens e tentávamos encontrar um bem que dissesse, por exemplo, número 40 em Wall Street. Encontrava-se um imóvel que fosse comparável àquele, encontrávamos o preço mais alto por metro quadrado naquela área e aplicava-se a esse edifício”.

O testemunho desta quarta já está a ser criticado pelos apoiantes de Trump, que afirmam que só será feito agora para divergir atenções daquilo que o presidente dos EUA está a tentar conquistar no Vietnam, junto de Kim Jong Un, o líder norte-coreano. Espera-se que os Republicanos que fazem parte do painel inquiridor (estão em minoria, em comparação com os Democratas) pressionem Cohen com as suas mentiras passadas, tentado descredibilizá-lo e pintá-lo como uma testemunha difícil de confiar.

Sarah Sanders, a responsável de imprensa da Casa Branca, afirmou na passada terça-feira que não deviam confiar em Cohen, um homem que já tinha assumido ter mentido perante o Congresso. Adicionou ainda, num comunicado, que “dava vontade de rir” pensar que alguém podia acreditar num “condenado mentiroso como Cohen” e que era “patético” vê-lo com mais uma oportunidade para “espalhar as suas mentiras”.

As reações às revelações de Cohen. “Obrigada”, diz Stormy Daniels

Donald Trump tem estado calado. Ao contrário do filho. Donald Trump Jr. tem estado a publicar tweets e a partilhar outros de outros utilizadores, onde Cohen é criticado. “É engraçado como as coisas mudaram”, lê-se num deles.

A estrela porno com quem Trump teve um caso meses antes da campanha eleitoral também fez um tweet em reação às declarações de Cohen. “Obrigada”, escreveu.

Os seis casos mais graves denunciados por Michael Cohen

Esta quarta-feira, o site norte-americano Politico divulgou o testemunho escrito que o próprio Cohen está a apresentar (nada impede que possa ser alterado, até lá) aos seus inquiridores. Uma espécie de guião daquilo que irá revelar.

1º. O pagamento à estrela porno

Michael Cohen pagou 130 mil dólares ao advogado de Stormy Daniels, em nome de Trump, para a silenciar durante a campanha presidencial. Trump reembolsou-o via cheque e é esse mesmo cheque que Cohen está a apresentar como prova (Trump já tinha afirmado várias vezes não ter pago nada a ninguém).

2.º WikiLeaks e os e-mails de Hillary

Reunião entre Trump e Roger Stone, seu companheiro de longa data, em que este último disse via telefone, em alta voz (Cohen estava presente e ouviu) que tinha falado com Julian Assange e que sabia que a WikiLeaks ia divulgar e-mails dos Democratas que podiam comprometer Hillary. Trump disse algo como “olha que bom”. Ou seja, sabia de antemão que isso ia acontecer.

3.º A Trump Tower de Moscovo

O caso da Trump Tower em Moscovo também é interessante porque ao contrário do que Trump já disse várias vezes, ele passou vários meses, já depois de ter sido eleito, a negociar esse projeto imobiliário na Rússia. Cohen foi uma espécie de mediador do projeto como já tinha sido várias vezes antes (lidava com muitos projetos imobiliários de Trump. Cohen afirmou ainda que Trump lhe perguntava frequentemente “como é que estão a correr as coisas na Rússia?”, — referenciando o projeto de construção da Trump Tower em Moscovo –, “umas seis vezes” entre janeiro e junho de 2016. Os advogados de Trump “reveram e editaram” a sua falsa declaração ao congresso sobre o timing do negócio de Moscovo.

“Trump sabia e dirigia as negociações da Trump Tower em Moscovo durante a campanha eleitoral e mentiu sobre isso”, afirmou Cohen. “Ele mentiu sobre isso porque nunca esperou ganhar as eleições. Também mentiu porque tinha centenas de milhões de dólares investidos nesse projeto.”

4.º Intimidar professores por causa das notas

Há também o caso de alegadas cartas, escritas por Cohen a mando de Trump, endereçadas a escolas e Universidades onde Trump tinha andado a intimidá-los a não revelar os seus resultados escolares. O ex-advogado afirma que consegue revelar “cópias de cartas que o próprio escreveu a mando de Trump onde escolas e universidades eram ameaçadas para não divulgarem as notas que ele tinha tido nos testes SAT [espécie de exames finais].”

5.º O racismo do Presidente

O racismo de Trump: Cohen fala de conversas onde Trump dizia coisas como “Diz-me um país que seja governado por um preto que não seja um monte de merda”, numa altura em que Obama estava no poder. Outro exemplo foi quando passaram de carro perto de um bairro pobre de Chicago e Trump disse “Só os pretos é que conseguiam viver aqui”. Outra exemplo foi quando afirmou: “Os pretos nunca vão votar em mim porque são estúpidos”

6.º Houve influência russa ou não?

Cohen diz não ter provas de que o atual presidente ou alguém da sua campanha terá trabalhado em conluio com os russos para manipular o resultado das eleições. Apesar disso, Cohen recorda um episódio decorrido no início de junho de 2016 em que esteve numa reunião quando Donald Trump Jr. “entrou na sala e foi para trás da secretária do seu pai”, algo descrito como “pouco usual”. “Lembro-me que o Don Jr. inclinou-se na direção do pai e, falando numa voz baixa mas suficientemente alta para eu ouvir, disse: “‘A reunião está pronta.’ Lembro-me de Trump responder: ‘Ok, boa… vai me avisando.’”