A Coreia do Norte voltou à construção de uma das suas bases de testes nucleares. A informação foi avançada por analistas do exército norte-americano e pelos serviços secretos da Coreia do Sul, que acreditam que os movimentos detetados pelos seus satélites revelam que a construção da base de Sohae, em Tongchang-ri — uma região do noroeste do país, junto à fronteira com a China — foi de facto retomada.

Esta notícia chega poucos dias depois de os líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte terem estado reunidos numa cimeira em Hanói, no Vietname. O encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un terminou antes do previsto e sem acordo. O Presidente norte-americano garante que propôs um alívio das sanções à Coreia do Norte se o país deixasse cair o programa do acordo nuclear. Segundo os Estados Unidos, não foi possível chegar a acordo porque Kim Jong-un pedia o fim de todas as sanções em troca da destruição de um complexo nuclear — não da desistência do programa de armamento nuclear. Uma informação que foi desmentida pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) norte-coreano, que assegura que o seu país fez uma “proposta realista” na cimeira.

De acordo com o governante Ri Yong Ho, a Coreia do Norte pediu apenas aos Estados Unidos um alívio parcial das sanções em troca do encerramento do seu principal complexo nuclear. O MNE norte-coreano assegura ainda que o país se mostrou disponível para oferecer, por escrito, uma suspensão permanente dos testes nucleares e intercontinentais de mísseis balísticos. O Presidente Donald Trump perdeu uma oportunidade “que pode não repetir-se”, avisou ainda.

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Duas versões para uma mesma reunião. Mas há algo que parece que ambos os lados confirmam: de um lado o interesse é a redução de sanções, do outro é o fim do programa de armamento nuclear da Coreia do Norte. Assim, as obras que estavam suspensas no complexo nuclear de Sohae eram um dos trunfos com que Kim Jong-un contava para tentar convencer o presidente Donald Trump a terminar com as sanções que recaem sobre a Coreia do Norte. Destruindo este complexo, o líder norte-coreano podia mostrar que o país estava disposto a avançar com o desmantelamento enquanto garantia o início do fim das sanções.

No encontro que ambos mantiveram em setembro do ano passado na Coreia do Sul, Kim Jong-un terá mesmo proposto a destruição deste complexo sob observação de especialistas americanos. A ideia ficou em cima da mesa até ao encontro da semana passada.

Agora, e depois destes avanços e recuos, as movimentações observadas no complexo nuclear cuja destruição fez parte das negociações entre Trump e Kim Jong-un parecem ser um sinal de força e de pressão por parte dos norte-coreanos. Recorde-se que, na sua mensagem de ano novo, o Presidente norte-coreano anunciou que se não fosse possível pôr um fim às sanções, o país iria encontrar “um novo caminho“.

No entanto, e de acordo com alguns meios de comunicação social sul-coreanos, as movimentações podem ter começado antes da cimeira de Hanói para que um eventual desmantelamento do complexo fosse mais espetacular. Uma espécie de jogada de antecipação: se houvesse acordo a destruição pareceria mais dramática, se o entendimento falhasse as construções continuariam para dar um sinal de força.

O último teste nuclear feito pela Coreia do Norte aconteceu em novembro de 2017, o que levou Trump a carregar na dose de sanções e deu início a uma inédita ronda negocial entre os dois países.