Enviada especial a Angola
“Não se aprende a amar nos manuais. Não se aprende a amar Portugal e a amar Angola nos manuais: ou se está, ou se conhece, ou não se compreende e não se ama. Ninguém se ama em teoria, só no concreto. Não se ama a humanidade no abstrato, ama-se pessoas concretas de carne e osso”. Foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa se dirigiu a uma plateia repleta de empresários angolanos e portugueses, no encerramento do Fórum Económico em Benguela. O objetivo era explicar o reatar de relações entre os dois países no espaço recorde de ano e meio, contra “aqueles” que subestimaram e que acharam não ser possível. Foi possível, sim, e António Costa e os ministros socialistas, em particular o ministro dos Negócios Estrangeiros, também merecem a sua fatia de louros.
Mas só foi possível por causa do amor. “Se um dia olharem para trás e quiserem encontrar uma data, é esta. Para aqueles que tinham prognosticado que não nos dávamos bem, que tínhamos de esperar muito até ao reencontro das vontades entre os dois países, ficou claro que tinham subestimado Angola e Portugal. Angola é muito melhor do que tinham pensado, Portugal é muito melhor, e a nossa fraternidade também é muito melhor do que tinham pensado. Às vezes dou comigo a perguntar como é que eles não compreenderam. Eles, que eu encontrei aqui e ali em alguns pontos do universo, nas visitas que fiz, e encontrei uma resposta: para compreender era preciso conhecer e amar. E isso não se aprende nos manuais”, disse, desencadeando um aplauso entusiástico da plateia.
Marcelo falava na província de Benguela, depois de um dia repleto de afeto e amor no Lubango, onde foi recebido por centenas de pessoas eufóricas. Talvez por isso tenha levado uma lição de amor para os empresários que, sublinhou, vieram até ali vindos de vários pontos de Angola e de vários pontos de Portugal, na prova concreta de que há mais para explorar ao nível empresarial do que Luanda. Foi neste exercício de distribuição de afeto que Marcelo reservou uma palavra para o Governo de António Costa, com quem achou por bem dividir os louros do sucesso, em vez de os guardar para si.
“Queria saudar todos os que permitiram este dia histórico: o Presidente João Lourenço, com a sua vontade política, os governantes de Angola, mas há que dizer também que devemos saudar a vontade política do primeiro-ministro de Portugal, que aqui veio numa visita que foi essencial para aquilo que estamos a viver”, disse, elogiando também os restantes ministros, em particular Augusto Santos Silva, que tentou “uma vez, duas vezes, três vezes” até que “a vontade de todos se conjugou”. “E nós sabemos como é difícil conjugar vontades em seis meses. Isto não parou e não vai parar. É um processo, como disse João Lourenço: começámos um processo, não o acabamos”.
Além dos mais de 30 acordos já firmados nos últimos seis meses, a ideia é criar um clima de confiança crescente que se traduza num impulso económico: “para que o investimento cresça, o emprego cresça, a justiça social cresça”, especificou.
Marcelo está cansado, o que se nota na voz, mas está “muito feliz”. “Feliz por este momento histórico coincidir com o exercício das minhas funções de Presidente da República”. E, em jeito de despedida, voltaria a dirigir-se a “eles”, os que subestimaram o poder da relação fraterna para reatar das relações: “Enganaram-se, isto aconteceu e está a acontecer”.