Cristiano Ronaldo tem esta noite de terça-feira “o” jogo. “Aquele” jogo. Muito mais do que um jogo. Quando tomou a decisão no último verão de trocar o Real Madrid pela Juventus, o avançado português ia à procura de um contexto que considerava já estar perdido na capital espanhola. Uma envolvência que, como assumiu em entrevista, sentiu na noite em que marcou aquele célebre golo de pontapé de bicicleta em Turim. Mas sempre a olhar para a perspetiva desportiva. E para uma ambição comum.

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Ganhar a Supertaça, como aconteceu em janeiro, foi apenas ganhar mais uma Supertaça. Ganhar a Serie A, como vai suceder até maio (a Juve tem 16 pontos de avanço sobre o Nápoles…), é apenas ganhar mais uma Serie A – neste caso, a oitava consecutiva. Ganhar a Liga dos Campeões, isso sim, era muito mais do que ganhar a Liga dos Campeões. Porque seria a sexta da carreira do internacional português, que se tornaria apenas o segundo a alcançar o feito por três equipas diferentes depois de Seedorf. Porque seria a terceira da Juventus, que perdeu as últimas cinco finais que disputou entre 1997 e 2017. Porque seria o epílogo desejado de uma nova fase do projeto europeu pensado pela administração liderada por Andrea Agnelli.

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No entanto, a Vecchia Signora tem esta terça-feira uma missão de risco, para alguns quase impossível: reverter uma desvantagem de 2-0 da primeira mão contra a equipa que provavelmente maior capacidade tem para defender eliminatórias, como é o Atl. Madrid de Diego Simeone. São oito meses que estão em jogo durante 90 minutos. Oito meses descritos por CR7, numa entrevista à DAZN, como um período de “boa adaptação”. “A minha família gosta de Itália. É uma realidade diferente, uma língua e uma cultura diferentes, mas adaptei-me bem. Vivi sempre fora de casa desde os 11 anos, por isso não tenho problemas na adaptação a outro país. Fui para Inglaterra com 18, para Madrid com 24 e para Turim com 33. Não é difícil para mim”, referiu. A esse propósito, o El Mundo foi tentar perceber a nova vida do capitão da Seleção Nacional.

Ponto prévio: não é apenas pelas questões com o Fisco que Ronaldo não guarda grandes saudades de Madrid. De acordo com fontes contactados pela publicação generalista, existia já um ponto de saturação com quase tudo – sendo que, nesse contexto, a forma amargurada como viu Florentino Pérez quase abrir a porta da saída ao colocar a fasquia dos 100 milhões de euros para a sua rescisão foi bem percetível. Da passagem pelo Real ficaram os títulos, algumas amizades e pouco mais, por sentir nos últimos tempos que não tinha a proteção que quase uma década como principal símbolo dos merengues merecia. No polo oposto, a nova realidade em território transalpino trouxe-lhe isso mesmo: o reconhecimento. Dentro e fora do clube.

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Paolo Dybala foi um dos jogadores com quem se começou a dar melhor, também pela forma elogiosa como desde sempre o jovem argentino reconheceu no português um exemplo de trabalho, de sacrifício e de profissionalismo, até na forma como tinha sempre tudo arrumado no seu cacifo do balneário. Foi com ele e com outros sul-americanos como Betancur que de quando em vez foi provando o tradicional mate. Nesta altura, Bernardeschi é o jogador que terá mais próximo no balneário e, segundo o El Mundo, já houve um momento de tensão com o companheiro de ataque Mandzukic, pelo seu caráter competitivo.

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Fora de campo, aquele que é “o primeiro a chegar para os treinos e o último a deixar as instalações” foi construindo uma vida com interesses variados. Vizinho do presidente Andrea Agnelli e outras figuras conhecidas da sociedade italiana que também moram na Collina (numa mansão onde mandou acrescentar uma piscina coberta e um ginásio, além de ter levado também um piano), Ronaldo e a família já foram vistos mais do que uma vez na pizzaria Sesto Gusto, conhecida na cidade pelas pastas feitas apenas com produtos 100% naturais; em musicais, como aconteceu no Rei Leão, na Gran Vía; ou na missa, com a namorada Georgina Rodríguez, na Igreja da grande mãe de Deus. Isto além de passar muito tempo em casa, com filhos e restante família. E, no Natal, visitou a seu pedido algumas crianças com cancro num hospital em Turim. Uma adaptação natural e fácil à nova realidade que, em termos desportivos, tinha um grande objetivo: a Champions. O objetivo que terá 90 minutos para salvar.

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