O departamento de imigração do Reino Unido está a ser alvo de críticas depois de utilizar excertos da Bíblia Sagrada na carta de rejeição de um pedido de asilo que um jovem do Irão fez em 2016. O iraniano decidiu converter-se ao Cristianismo por considerar que era uma religião mais pacífica, mas o Home Office quis provar que não. Para isso, utilizou episódios que diz serem “cheios de imagens de vingança, destruição, morte e violência” relatados na Bíblia para mostrar como o Cristianismo não era pacífico e, por isso, que a decisão utilizada para se ter convertido era inválida.

Numa carta enviada ao jovem, que mais tarde foi partilhada por Nathan Stevens, o especialista em imigração e asilo e que está a tratar deste caso, o Home Office citou excertos da Bíblia onde se pode ler: “Vais perseguir os teus inimigos, e eles vão cair pela espada perante ti. Cinco de vocês vão perseguir cem, e cem de vocês vão perseguir mil”. “Estes exemplos são inconsistentes com o motivo para se converter ao Cristianismo depois de descobrir que é uma ‘religião pacífica’, ao contrário do Islão que contém violência, raiva e revolta”, argumentou o Governo.

Os pedidos de asilo no Reino Unido são feitos quando existe um “receio fundamentado” de perseguição por causa da etnia, religião, opinião política ou pertença a um determinado grupo social. Neste caso em particular, quem se converte a outra religião pode estar sujeito a pena de morte no Irão. “Já vi muito ao longo dos anos, mas estou genuinamente chocado ao ler esta inacreditável e ofensiva desculpa para justificar a recusa de um pedido de asilo”, referiu Nathan Stevens.

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Independentemente dos pontos de vista sobre fé, como é que um funcionário do Governo pode escolher arbitrariamente pedaços de um livro sagrado e depois usá-los para destruir a razão sincera de alguém para ter chegado a uma decisão pessoal de seguir outra fé?”, questionou o especialista em imigração.

Entretanto, o Home Office aceitou anular a decisão inicial para reconsiderar o pedido de asilo do jovem. O órgão responsável pela imigração e segurança fronteiriça disse ainda ao The Independent que a carta enviada ao jovem iraniano não representa os seus princípios. “A carta não está de acordo com a nossa abordagem política para reivindicações baseadas em perseguição religiosa”, referiram.

Esta não é a primeira vez que o mesmo departamento recusa um pedido de asilo que invoca questões religiosas. Há vários anos, o Home Office enviou uma carta de recusa para outro cidadão convertido ao Cristianismo onde argumentava: “Afirmou no seu pedido que Jesus é o seu salvador, mas depois disse que Ele não seria capaz de o salvar no regime iraniano. Portanto, considera-se que não tem convicção na sua fé e a sua crença em Jesus é indiferente”.