O músico Conan Osíris pode vencer o Festival Eurovisão da Canção e protagonizar um apelo à paz em Israel, defendeu o investigador Jorge Mangorrinha, considerando que 50 anos depois da “Desfolhada”, Portugal volta a dar “uma pedrada no charco”.
Conan Osíris “já tem estatuto e visibilidade para protagonizar um apelo de paz”, afirmou à agência Lusa Jorge Mangorrinha, autor de vários estudos sobre a Eurovisão, considerando que o “acolhimento do ponto de vista mediático e artístico” que o concorrente português tem granjeado faz dele “um potencial ganhador”.
A realização do concurso em Israel “é desde logo um fator de polémica, pelo que um país concorrente tem um desafio acrescido para se evidenciar”, sustentou o investigador, defendendo que Conan Osíris e a canção “Telemóveis” são uma “boa resposta” a esse desafio.
Conan Osíris (nome artístico de Tiago Miranda) apresenta ao mundo “um mix de fado, gipsy, arábico, dança, bem como uma história com grande simplicidade de meios, mas eficaz”, considerou.
O tema “não é uma obra-prima literária nem musical, do ponto de vista da construção clássica de uma canção”, como é “Amar pelos Dois”, mas é, na opinião do estudioso, “uma originalidade, uma espécie de despertar de consciências”, que faz a diferença e merece já o apoio de grupos de fãs.
São estes grupos de fãs, com “mentes abertas à novidade e ao arrojo” que “constroem a opinião internacional”. E nesse campo Conan salienta-se por ser “uma raridade” e por ter, segundo Mangorrinha, “estética musical e essencialmente performativa próprias”, o que leva a que a “estranheza inicial” se converta em “adesão”.
“Um génio” que pode dar a Portugal “uma segunda vitória”
Para o académico, Conan Osíris é “um génio, que com simplicidade faz muito”, apesar de, como é próprio dos génios, “poder ser incoerente e criar sentimentos antagónicos de crítica feroz ou entusiasmo”.
No entanto, acrescentou, “tem assinatura própria e isso, no campo das artes, é o que faz futuro”. E, portanto, poderá fazer com que “Portugal arrisque uma segunda vitória” ou “uma das melhores posições de sempre”.
Tudo porque o concorrente português “afronta os preconceitos, tem visibilidade e uma proposta com manifestações de promoção surpreendentes”, vincou Mangorrinha.
A política, no sentido do confronto com problemas sociais, “sempre existiu desde os anos 1960”, mas, durante as diferentes fases do concurso, “o conceito de canção competitiva foi mudando”.
Hoje, sublinhou, “os aspetos mais valorizados passam também pela componente visual e pela mensagem sociopolítica”, embora o regulamento refira que “nenhuma letra, discurso, gestos de natureza política ou semelhante devam ser permitidos” na Eurovisão.
A primeira “pedrada no charco” de Portugal foi há 50 anos, quando, a 29 de março de 1969, se apresentou, em Madrid, com o tema “Desfolhada”.
“Foi a primeira canção com conteúdo de intervenção em contexto do festival da RTP, com metáforas pelo meio”, afirmou o investigador, lembrando que se “seguiram outros festivais e outras canções com mensagem sociopolítica, antes e depois do 25 de Abril”, bem como na Eurovisão, em que se registaram “casos semelhantes em muitos dos anos”.
Mas, para o investigador, “é inevitável compreender e aceitar as referências políticas e sociais e deixar que isso seja um fator de valorização e não um impedimento”, num festival que, mais do que um concurso, “é um programa de televisão à escala planetária, em que a superação é tentada, ano após ano, nas tecnologias da organização e na qualidade distintiva dos concorrentes”, concluiu.
Roger Waters escreve a Conan Osiris e pede-lhe que não vá à Eurovisão em Israel