O Centro Hospitalar de Setúbal diz que as duas cirurgias efetuadas sem enfermeiros na equipa e que motivaram queixas da Ordem dos Enfermeiros às autoridades foram realizadas em “pequena cirurgia”, onde a presença destes profissionais “pode ser dispensada”.

No dia 8 de março de 2019, dois doentes com cirurgia agendada ao túnel cárpico, no Hospital Ortopédico Sant’Iago do Outão, após avaliação clínica e perante um quadro de risco iminente de agravamento, foram transferidos para pequena cirurgia (onde a presença de enfermeiro pode ser dispensada)”, explica o Centro Hospitalar de Setúbal, numa resposta enviada à agência Lusa.

Acrescenta ainda que as cirurgias foram efetuadas “por dois cirurgiões e um anestesista, salvaguardando assim o agravamento iminente do estado de saúde dos doentes”.

Cirurgias “sem enfermeiros”  motivam queixa da Ordem à PGR

A Ordem dos Enfermeiros queixou-se às autoridades, incluindo ao Ministério Público, de “negligência grosseira” no Hospital de Setúbal pela alegada realização de duas cirurgias ortopédicas sem a presença de enfermeiros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Ordem pediu “intervenção urgente” à ministra da Saúde, à Procuradoria-Geral da República, à Entidade Reguladora da Saúde e à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, segundo ofícios a que a agência Lusa teve acesso.

Em causa estão, segundo a Ordem dos Enfermeiros, duas cirurgias ambulatórias realizadas no Hospital Ortopédico Sant’Iago do Outão, do Centro Hospitalar de Setúbal, no dia 8 de março, dia de greve nacional de enfermeiros e em que decorreu a “marcha branca pela enfermagem”, em Lisboa.

Nos relatos enviados à Ordem por enfermeiros do bloco operatório daquele hospital, a que a Lusa também teve acesso, mais de 20 profissionais referem que no dia 8 de março houve uma adesão à greve de 100%, porque no serviço onde trabalham “não estão atribuídos cuidados mínimos”.

Contudo, foram realizadas duas cirurgias no bloco operatório II pelo diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, um médico em regime de internato e colaboração do anestesista de serviço”, refere o relato escrito da equipa de enfermagem, que considera ter “obrigação deontológica de comunicar” o caso à Ordem.

Nos documentos que remeteu a várias autoridades, incluindo Ministério da Saúde e Ministério Público, a Ordem entende que “houve negligência grosseira por parte de quem autorizou e permitiu que se realizassem cirurgias sem a presença de enfermeiros, com grave risco de dano para os doentes e violação grosseira das normas da cirurgia segura”.

Acresce que no Hospital de Setúbal as “drogas anestésicas de emergência e analgésicas estão guardadas em cofres com ‘passwords’ [senha] em que a responsabilidade de abrir os cofres é dos enfermeiros”, segundo escreve a Ordem.

No entanto, não havia um único enfermeiro presente“, frisa o ofício, que recorda normas e orientações sobre a necessidade da presença de enfermeiros nos processos cirúrgico, mesmo os de ambulatório.

[frames-chart src=”https://s.frames.news/cards/enfermeiros-em-portugal/?locale=pt-PT&static” width=”300px” id=”261″ slug=”enfermeiros-em-portugal” thumbnail-url=”https://s.frames.news/cards/enfermeiros-em-portugal/thumbnail?version=1544192474398&locale=pt-PT&publisher=observador.pt” mce-placeholder=”1″]

De acordo com os documentos, em causa estão duas cirurgias, ambas em regime ambulatório. Uma delas foi uma drenagem exploratória por infeção pós-operatória de síndrome de túnel cárpico e outra uma libertação do ligamento anular do carpo, por síndrome do túnel cárpico.

Sem comentar o caso em concreto, a Ordem dos Médicos confirmou à Lusa que as normas dos blocos operatórios são para cumprir e que isso implica que a equipa esteja completa.

O bastonário Miguel Guimarães explica que as equipas são constituídas de acordo com a complexidade da cirurgia, mas que em bloco operatório deve estar médico, enfermeiro e assistente operacional, sendo que “a equipa tipo deve ser respeitada”.

(Artigo atualizado às 11h50 c0m a posição do Centro Hospitalar de Setúbal)