Aos 21 anos, Maria Clara está entre os nomes portugueses mais bem sucedidos no mundo da moda. Natural de Lisboa, a manequim deu nas vistas há quatro anos, quando se estreou nas grandes passerelles internacionais. Christopher Kane, em Londres, e Marco De Vincenzo, em Milão, foram o passaporte de entrada no roteiro das principais capitais da moda, em setembro de 2015. O ano seguinte veio confirmar as desconfianças de muita gente — depois de ter desfilado também para criadores nacionais, na ModaLisboa e no Portugal Fashion, chegou aos grandes. Valentino, Kenzo, Courrèges, Rochas e Gucci escolheram-na, embora hoje os seus recordes sejam outros. Maria Clara Vasconcellos soma já oito desfiles da Dolce & Gabbana e nove da Christian Dior.

Maria Clara desfilou na última edição da ModaLisboa, no início de março. Dias depois, voou para o Dubai, para um desfile da Christian Dior © João Porfírio/Observador

“A moda é viver o agora. As oportunidades surgem ao segundo. Por exemplo, ainda há pouco tempo, tinha acabado de chegar de uma viagem de duas semanas e era suposto ter uns dias para descansar. Ligaram-me a dizer que às seis da manhã do dia seguinte tinha de estar a sair de casa. Acontece tudo tão rápido que não dá para fazer planos a longo prazo”, conta Maria Clara ao Observador, durante a sua passagem pela última edição da ModaLisboa. Marcar presença nos eventos de moda nacionais nem sempre é fácil para a manequim. “Ainda nem tinha estado neste espaço, a última vez que fiz foi no Terreiro do Paço”, admite, referindo-se à ausência nas últimas edições do evento lisboeta, ao qual regressou no início deste mês para abrir e encerrar o desfile de Carlos Gil.

Maria Clara recusa fazer planos a longo prazo. Quando está em Portugal, sente-se uma “turista no próprio país”. As passagens por Lisboa são meras escalas. “Tento ver os meus amigos, o que é raro, já que estou sempre a viajar sozinha, muitas vezes para sítios com grandes diferenças horárias. Gosto de tudo o que seja relacionado com dança — fiz ballet durante dez anos — faço pilates, ouço música, descanso, vou ao cinema e aproveito para ir a outros espetáculos”, conta.

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No dia 18 de março, Maria Clara fez parte da lista de manequins convocadas para o desfile da Christian Dior, no Dubai © KARIM SAHIB/AFP/Getty Images

Nasceu na capital portuguesa, mas passou parte da infância em Cabo Verde. Filha de uma ex-produtora de televisão e de um jornalista da RTP África, estreou-se como modelo em 2000, com apenas três anos. Agenciada pela L’Agence, os olhos verdes e o cabelo loiro valeram-lhe produções fotográficas para marcas alemãs e suecas. Depois disso, chegou a entrar nos famosos anúncios de Natal do Continente (ainda se lembra da Leopoldina?) e a protagonizar a campanha da Sociedade Ponto Verde, em 2004. O aparelho dentário levou-a a fazer uma pausa na carreira. Voltou em 2013, quando, aos 16 anos, ganhou o L’Agence Go Top Model. Pelos vistos, nunca o nome do concurso tinha sido tão assertivo. Dois anos depois, desfilava pela primeira vez em passerelles portuguesas.

Paralelamente à moda, Maria Clara deu o primeiro passo para seguir carreira no mundo do marketing e da publicidade. Acabou por congelar a matrícula. “Na realidade, nunca tive a certeza de que era isso que queria. Ainda tentei conciliar as duas coisas, mas era impossível. Assim, em vez de me dispersar entre os estudos e a moda, preferi focar-me na segunda”, completa.

Editorial da Vogue Itália, com Maria Clara, na edição de abril deste ano © Brigitte Niedermair

Paris acaba por ser uma espécie de segunda casa. Representada pela Next Models em França, Itália, Reino Unido e Estados Unidos, o amanhã pode ser um dia bastante inesperado quando se é requisitada por grandes marcas. Aconteceu poucos dias depois de ter conversado com o Observador. Em vez de subir ao Porto para marcar presença no Portugal Fashion, Maria Clara teve de apanhar um avião para desfilar para a Christian Dior, no Dubai. Lá, cruzou-se com Maria Miguel, o outro fenómeno português nas passerelles internacionais, num dos raros encontros entre as duas manequins. “É difícil cruzarmo-nos. Já aconteceu fazermos desfiles juntas e nem nos vermos nos bastidores, só no line-up ou à saída”, recorda.

Maria Clara, uma manequim portuguesa à conquista do mercado asiático. Da esquerda para a direita, alguns dos trabalhos feitos nos últimos meses: editorial para a Madame Figaro Japão, uma campanha para a designer japonesa Tsumori Chisato e um editorial para a revista, também japonesa, SPUR © Instagram.com/mariaclara.v

Aos 21 anos, Maria Clara soma quase quatro a caminhar nas passerelles internacionais. Nos bastidores da moda, identifica mudanças, sobretudo no que toca às preocupações com a exposição e com o ambiente de trabalho das manequins. “Sinto a diferença, sobretudo nos momentos em que as manequins estão a trocar de roupa. Há mais cuidado para não terem os fotógrafos constantemente lá dentro a tirarem fotografias de backstage e a apanharem-nos em situações impróprias”, admite. Também no que diz respeito à alimentação das modelos, a portuguesa nota um cuidado redobrado. Até porque, volta e meia, qualquer rapariga precisa de um “boost de energia”. “Isso era falha das próprias produções que, simplesmente, não queriam saber. Agora, há mais esse cuidado, que é importante, ainda mais se pensarmos que, às vezes, há miúdas com menos de 18 anos e, portanto, menores”, afirma.

Maria Clara na campanha da Only © Only

Desde que o ano começou, Maria Clara já protagonizou dois editoriais da Vogue Itália — um de moda, outro de joias — e viu o seu rosto chegar às lojas online da Bershka e da Bimba y Lola (em 2016, já aparecia na da Zara). Por estes dias, posa para uma produção do El País, fotografada na Tunísia. Ao mesmo tempo, Maria Clara dá cartas no mercado asiático. Fotografou recentemente para a marca Only e para a designer japonesa Tsumori Chisato. “Parece que os asiáticos gostam de mim. Sei que tenho os olhos um bocado rasgados e, de certa forma, eles gostam de peles muito brancas e de miúdas ocidentais com quem se consigam relacionar”, conta.

Maria Clara. Ela tomou de assalto a moda internacional

Do lado das revista, o interesse parece ser proporcional. Em agosto do ano passado, a portuguesa surgiu num editorial da Madame Figaro Japão, um mês depois de ter aparecido num outro editorial, dessa vez nas páginas da revista japonesa SPUR. Para breve está já uma aparição na Elle Japão, uma produção já fotografada. Coincidência das coincidências, Maria Clara é uma aficionada da cultura japonesa, sobretudo da banda desenhada, e até já se pôs a aprender a língua na internet. Perguntou aos pais se tinha ascendência nipónica, mas a árvore genealógica não chega tão longe.