O cheirinho a campanha já não se disfarça no PSD. As bandeiras (do PSD e do país) nas cadeiras, a sala cheia (dezenas de pessoas de pé), um crítico (Pedro Duarte) a bater palmas ao líder e uma apresentação com direito a speaker a despachar o objetivo do evento: a apresentação dos candidatos às Europeias, no Luso. Depois do anúncio dos convocados para o europeu, veio o jogo. O presidente do PSD, o primeiro a ir ao palco, avisou os eleitores que se votarem PS estão a legitimar a governação socialista em todas as dimensões: “Estão a dizer que o Governo está bem a fazer despachos a nomear a família para aqui e para acolá, de forma cruzada. Eu nomeio para aqui, tu nomeias para ali. Está a dizer que não tem muito relevo. Estão a dizer: continuem porque têm aqui a minha confiança”.
De Rio não se ouviu mais sobre as nomeações familiares. Isso ficaria para o atirador furtivo: Paulo Rangel. O cabeça de lista do PSD às Europeias disse que discordava do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que defendeu que a lei devia ser alterada para clarificar a nomeação de familiares na administração central. Paulo Rangel defende que “não é preciso lei porque não há nenhuma razão para a ética não chegar. A ética tem de chegar“.
Rangel questionou: “Será que um ministro, um secretário de Estado, precisa de uma lei para saber que não deve nomear a mulher, o marido, o filho, a filha, o sobrinho, a nora, o genro?”. E acrescentou, provocando um sorriso geral na sala: “Só a sogra é que parece que não nomeiam“. Para o eurodeputado não é “necessário aprovar uma lei para aplicar bom-senso”, sugere a António Costa que releia alguns “clássicos”. E faz uma sugestão concreta: “O primeiro-ministro devia ler a obra Germânia, de Tácito, que dizia a propósito dos germanos, algo essencial: ‘E aí podiam mais os bons costumes do que as boas leis’“.
Rio e as razões para não votar PS
Rui Rio apresentou — como já tinha feito no Conselho Nacional (o discurso foi praticamente igual ao que teve à porta fechada) — as razões para que os eleitores não votem no PS. E aí não se ficou pelo caso das nomeações das famílias. O presidente do PSD colocou a bola no lado dos portugueses, ao dizer que se votarem nos socialistas estão a legitimar “uma política económica que é de distribuição e não olha para o futuro”, a ideia de que “não é preciso fazer nada nos Serviços Públicos“e que se pode criar um “passe social mais barato” nos grandes centros urbanos esquecendo o resto do país.
Este “marcar a diferença” — o slogan do PSD nesta pré-campanha das Europeias — na política nacional é uma das três frentes de batalha que Rui Rio elege (e já tinha definido no Conselho Nacional de Coimbra). As outras duas são o combate à abstenção e a política europeia. No caso da abstenção, Rio insiste que é preciso convencer os abstencionistas a irem votar.
Voltou a falar de família, mas a dos eleitores. “O primeiro objetivo é baixar a abstenção”, explicou Rio, lembrando que a abstenção faz com que, por exemplo o PCP (por mobilizar mais o seu eleitorado), tenha à proporção mais deputados em Bruxelas do que na Assembleia da República. “Se convencermos as pessoas a ir votar, depois vai também a família. O pai também vai, vai a filha, vai a mulher”, afirmou o presidente do PSD. Depois, concretiza, só falta um passo: “Convencê-los a votar no PSD”.
Quanto à política europeia, Rui Rio vê três grandes razões para os eleitores votarem no partido: porque a Europa “é cada vez mais importante” no quotidiano dos cidadãos, a defesa da “reforma da União Económica e Monetária” e “a luta contra os nacionalismos e o populismos”. Além disso, regista que o PSD “não é de direita e não é ponte para extrema-direita”, mas “o PS é de esquerda e é ponte para a extrema-esquerda”.
Rui Rio acusou ainda o PS de fazer da lista às Europeias um repositório de ministros, dizendo que “nos primeiros nove da lista, sete são ex-governantes de Sócrates ou de Costa“.
Paulo Rangel elogia Assis e apresenta bandeiras
Voltando a Paulo Rangel, o eurodeputado considera uma “queixa infantil e falsa” a acusação do PS de que “o PSD não tem propostas para a Europa”. Numa farpa aos socialistas, o cabeça de lista do PSD elogiou Francisco Assis, afastado das listas por António Costa, dizendo que segue “com atenção as pessoas que falam, escrevem e têm visão para a Europa“.
Rangel rebateu as acusações de eleitoralismo dos socialistas, lembrando que foi o PS — com a última remodelação governamental — que colocou o temas das relações familiares na ordem do dia a dois meses das eleições. Num evento sobre o artigo 13, em Lisboa à hora de almoço, Paulo Rangel tinha comentado que o PSD tem propostas, mas que a comunicação social transmite mais os ataques ao Governo. Disse ainda que o PSD ainda não tinha manifesto eleitoral para que as propostas não caiam no esquecimento perto das eleições, como aconteceu com as do PS.
A verdade é que, horas depois, no Luso, Paulo Rangel avançou com “bandeiras” a que também chamou propostas-alavanca e que passam por:
- Uma estratégia comum para a natalidade, que possa vir a ser uma Política Comum para a Natalidade, já que o envelhecimento da população é um problema europeu.
- Um programa europeu de combate ao cancro, em que a Europa se torne numa referência global distanciada. E que possa ter um avanço tecnológico equivalente ao que tem um programa espacial.
- Criar uma Força Europeia de Proteção Civil.
- Criar um Programa Europeu de Voluntariado, dirigido a millenials, em que os jovens parem um semestre ou um ano para fazerem voluntariado na Europa. Que possa enriquecer os currículos.
Ao longo do discurso, Paulo Rangel foi atirando várias farpas a Pedro Marques. Uma delas foi que “concorda pela primeira vez” com o seu principal adversário. “Pedro Marques diz que Portugal está em primeiro na execução de fundos. Mas com uma ressalva, se tirarmos os seis primeiros, Portugal está em primeiro. E é verdade, estamos em primeiro se tirarmos os seis primeiros”.
Depois de Rio e ainda antes de Rangel, o mandatário nacional da campanha, o comissário Carlos Moedas, lembrou que os sociais democratas não são “europeus a part-time”, mas “europeus a full time”. E falou dos candidatos um a um, definindo as características de cada um. Disse, por exemplo, que “na Europa toda a gente sabe quem é Paulo Rangel” e revelou que habitualmente chama Carlos Coelho de “Carlos Schengen”, pelo papel que tem na área das políticas de Schengen.
Pedro Duarte, chegou a desafiar a liderança de Rio no verão, mas esteve na sessão e bateu palmas a Rui Rio. O antigo líder da JSD assinou uma moção setorial no último congresso em co-autoria com Carlos Moedas, o mandatário nacional do PSD às Europeias.
Depois do hino de Portugal, ainda de pose hirta, todos na sala ouviram o hino da União Europeia no final do evento, também conhecido como hino da alegria. O ambiente está menos tenso nos eventos do PSD. Rio e Rangel pedem em uníssono: “O bom resultado, é ganhar as eleições.”