O Santander Portugal fechou o primeiro trimestre com lucros de 137 milhões de euros, uma subida homóloga de cerca de 5%. Os resultados que foram apresentados esta terça-feira pelo presidente Pedro Castro e Almeida no Work Café das Amoreiras — o responsável salientou que apesar dos “bons resultados” e do “ganho de quotas de mercado” pelo Santander, sentiu-se “algum abrandamento” na concessão de crédito, continuando uma tendência de “estagnação” que o banco identifica no setor nos últimos seis meses, sensivelmente, sobretudo no crédito às empresas. Já no crédito à habitação, houve uma subida de 1,7% na nova produção de crédito mas o presidente do Santander Portugal vê algum arrefecimento nesta área.

“O mercado está realmente inflacionado em algumas zonas, em alguns centros urbanos, mas isso está sobretudo relacionado com o cliente estrangeiro”, diz Pedro Castro e Almeida — “casas de 7.000 euros por metro quadrado não nos aparecem para avaliar no banco…”, ironizou o presidente do Santander. Quanto ao mercado nacional, “quem comprou casa até 2016, comprou bem”, mas as subidas que houve nos anos seguintes não têm qualquer comparação com a grande expansão do crédito que houve na primeira década desde a adesão ao euro, defende Pedro Castro e Almeida.

Nesta fase, porém, o banqueiro nota alguns sinais de arrefecimento deste mercado, que está “inflacionado em alguns centros urbanos” mas já se nota uma maior demora na venda de casas que são postas no mercado. Isso deve-se, sobretudo, à subida dos preços das casas, diz Pedro Castro e Almeida, mas também a algum arrefecimento do crescimento económico em Portugal e a nível mundial nos últimos meses. Além disso, houve o aviso do Banco de Portugal para a moderação do crédito, mas o banqueiro argumenta que no Santander essa medida não provocou alterações significativas.

Os resultados em operações financeiras, isto é, venda de títulos de dívida pública, ajudaram o Santander a impulsionar os lucros com um contributo de 50 milhões de euros (no mesmo trimestre do ano anterior essa rubrica tinha rendido apenas 6,5 milhões). Já o crédito no balanço caiu 2,4%, para 40,5 mil milhões de euros, “fruto da gestão das carteiras não produtivas”, afirma o Santander.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda assim, a margem financeira caiu 6,7% para 216 milhões de euros, “resultado da maior pressão concorrencial sobre os preços e da procura moderada de crédito”, pode ler-se no comunicado publicado pelo banco. O administrador financeiro, Manuel Preto, acrescentou que na margem financeira o Santander tinha uma comparação homóloga difícil devido às operações de refinanciamento junto do Banco Central Europeu (BCE) — sem esse efeito, a margem financeira teria ficado estável. O presidente executivo, Pedro Castro e Almeida, sublinhou, porém, que um em cada cinco créditos dados a famílias e empresas são com o Santander Portugal.

O produto bancário cresceu 11,5% para 353 milhões de euros, com as comissões cobradas a aumentarem 1,8% para 95,6 milhões de euros. São comissões cobradas sobretudo nas áreas do crédito, meios de pagamento, fundos e seguros, assinala o banco.

O Santander aproveitou, também, para lançar uma nova plataforma para a contratação de crédito à habitação com a ambição de transformar este processo em algo “100% digital”, diz o banco, prometendo que em 15 dias alguém pode comprar uma casa e obter aprovação do seu crédito, com decisões de concessão de crédito (ou não) em escassos minutos em 90% dos casos.

A propósito de digital, Pedro Castro e Almeida adiantou, sobre o tema das comissões cobradas no MBWay, que o banco vai lançar funcionalidades semelhantes na sua própria app, que será renovada antes do verão. Quem usar a app do banco, diz o gestor, e tiver uma “relação ativa” com o Santander, não pagarão por transferências como as proporcionadas pelo MBWay. Os outros, com exceção dos jovens, portadores de cartão jovem, poderão ver essas transferências cobradas quando usarem o MBWay.

Nova lei de bases, se avançar assim, pode “acabar com crédito à habitação em Portugal”

Sobre a comissão de inquérito da Caixa, depois de Paulo Macedo ter dito que quem beneficia da comissão são os bancos concorrentes, Pedro Castro e Almeida diz que não faz “qualquer comentário sobre a Caixa, e agradecemos que também não façam sobre nós”. Ainda assim, o presidente do Santander diz que “para a confiança no sistema não é bom [haver comissões de inquérito]. Os bancos como um todo têm feito um trabalho meritório de recuperação de rentabilidade e não é bom para a imagem do setor. Felizmente não tem passado muito além de Portugal, não tem saído em artigos no Financial Times“.

Também questionado pelo Observador, Pedro Castro e Almeida comentou, ainda, as propostas da nova lei de bases da habitação que passam, por exemplo, por poder entregar a casa ao banco e automaticamente extinguir o crédito (mesmo que o imóvel se tenha desvalorizado). Se isso se confirmar, que Pedro Castro e Almeida não acredita que aconteça, “o que eu acho que vai acontecer é que os spreads muitíssimo mais altos, menos crédito. Ou então há aqui uma intenção de acabar com a propriedade privada. Se avançar, acho que se acaba com o mercado de crédito à habitação em Portugal”.

Com a Lei de Bases da Habitação de PS, BE e PCP, entregar a casa ao banco vai ser a regra, receia o Banco de Portugal

Os resultados foram apresentados no Work Café, um novo conceito que foi lançado com sucesso no Chile e chegou recentemente a Portugal, primeiro nas Amoreiras (Lisboa) e, depois, em Coimbra. Em breve será inaugurado em Espinho um novo espaço do mesmo género, que é aberto a clientes e não clientes e disponibiliza um espaço com wi-fi e cafetaria, além de salas de reuniões para clientes. “É um modelo que tem funcionado bastante bem, apesar de ser uma experiência recente — ao nível do fluxo de clientes, com a duplicação das visitas de clientes”, comentou o administrador Miguel Belo de Carvalho.

Santander inaugurou um banco que é uma cafetaria (ou uma cafetaria que é um banco)