“Temos de estar preparados para todos os cenários mas, neste momento, não temos nenhum grau de preocupação com as tecnologias que utilizamos.” As palavras são de Manuel Ramalho Eanes, administrador executivo da NOS, ao Observador, no final do teste que a empresa de telecomunicações fez esta terça-feira à antena do “parceiro tecnológico Huawei” para a implementação da rede 5G em Portugal. A guerra fria tecnológica que eclodiu entre os EUA e a empresa chinesa no início desta semana não assusta o executivo:

“A NOS tem uma relação de longo prazo com os seus parceiros e não tem, neste momento, nenhuma indicação de que haja qualquer proibição ou interdição de trabalhar com um dos seus parceiros nas redes de rádio”, diz Manuel Ramalho Eanes.

O primeiro teste público de utilização da rede 5G da NOS estava marcado para esta terça-feira, na abertura do Portugal Smart Cities Summit, em Lisboa. Apesar das notícias mais recentes, foi possível ver como a tecnologia 5G permite controlar carros de bombeiros e polícia à distância. Que tecnologia é esta? É a infraestrutura de rede de quinta geração que vai substituir o 4G.

Segundo Luís Santo, responsável da NOS para dispositivos e infraestruturas de rádio, vai permitir velocidades “cinco vezes mais rápidas do que o 4G”. Além da rapidez, vai permitir transferir uma maior quantidade de dados digitais de uma só vez. Por isso, como refere Manuel Ramalho Eanes, vai permitir “fazer muitas coisas muito disruptivas” e não são as preocupações internacionais com a Huawei que vão parar os 18 meses de trabalho que a NOS já investiu no 5G.

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A antena 5G da NOS da Huawei para o teste no Portugal Smart Cities Summits (MANUEL PESTANA MACHADO/OBSERVADOR)

Além da Huawei, a NOS também está a trabalhar com a Nokia para ter as antenas e tecnologia necessária para disponibilizar a rede 5G ao mercado português. Para já, o maior impedimento no avanço da implementação vem do Estado: a ANACOM, a reguladora portuguesa para telecomunicações, ainda não abriu concurso para disponibilizar o acesso às bandas de rede necessárias para o 5G, diz a empresa.

Quem tem desenvolvido esta aplicação que estamos aqui a testar é a Huawei. Trouxemo-la [ao SmartCities] porque é a primeira demonstração real de 5G numa aplicação real. Ajusta-se àquilo que estamos aqui a fazer hoje. A NOS tem feito um investimento muito significativo para [termos] cidades super inteligentes e no 5G”.

Sobre outros impedimentos — como as sanções que os Estados Unidos da América impuseram às empresas que consideram ser uma ameaça à segurança nacional e nas quais incluíram a Huawei –, Manuel Ramalho Eanes afirma: “É importante que os operadores tenham sempre disponíveis a melhor tecnologia possível”. Além disso, diz: “Se as operadores no futuro vierem a não poder utilizar parte da tecnologia que já construíram — e que é útil para esse futuro — isso não significará um avanço, significará um retrocesso”.

No teste no SmartCities Summit a NOS instalou num canto no pavilhão 1 da FIL uma antena 5G da Huawei ao pé de um percurso com dois carros telecomandados. A meio do pavilhão estavam dos simuladores de condução com óculos de realidade virtual. Desta forma, a operadora mostrou que, com o 5G, é possível controlar à distância veículos de emergência.

Este é um dos modelos de antenas da Huawei que está em Portugal em testes pela NOS e permite aos dispositivos 5G acederem a uma infraestrutura com redes mais rápidas e eficientes (MANUEL PESTANA MACHADO/OBSERVADOR)

Com as atuais redes móveis, como a velocidade é menor, o controlo de carros à distância não pode teoricamente ser feito “a mais de 20km/h”, explica a NOS. Com este teste público com a antena da Huawei, a operadora quis mostrar que com o 5G vai ser possível controlar à distância, por exemplo, carros de bombeiros para tirar “humanos que estejam em ambientes hostis”.

Este pequeno carro estava a ser controlado à distância por uma pessoa num simulador de realidade virtual. Segundo a NOS, este teste mostra como vai ser possível controlar à distância carros com tamanho normal (MANUEL PESTANA MACHADO/OBSERVADOR)

A NOS não avança números quanto ao dinheiro investido no desenvolvimento do 5G. Em relação a valores, Manuel Ramalho Eanes refere apenas que anualmente a NOS aplica “40 milhões de euros em investigação e desenvolvimento” de todos os projetos da operadora. Atualmente, a NOS já trabalha na disponibilização de rede com a Huawei.

No início desta semana, várias empresas norte-americanas, como as fabricantes de chips Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom, anunciaram a suspensão de entregas à Huawei devido ao bloqueio à empresa imposto pelo executivo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, no início desta semana. Ao colocar a Huawei numa espécie de “lista negra”, a empresa ficou impossibilitada de continuar acordos que tinha com empresas norte-americanas, o que pode dificultar a expansão na empresa na disponibilização de infraestruturas 5G e noutros mercados, como o dos smartphones.

Estados Unidos dão três meses às empresas para se adaptarem às sanções à Huawei

O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, afirmou esta terça-feira que, apesar de a Huawei estar dependente de empresas americanas para o fornecimento de chips para os aparelhos que fabrica — metade destes componentes são comprados aos Estados Unidos –, a tecnológica chinesa está “preparada” para fabricar chips próprios. Contudo, com os Estados Unidos a concederem esta terça-feira três meses às suas empresas para adaptarem-se às sanções impostas à Huawei, Zhengfei deixa uma porta aberta para resolver este bloqueio: “Também podemos fabricar chips como os norte-americanos, mas não quer dizer que não os iremos comprar”.

A Huawei é atualmente,uma das principais empresas a disponibilizar a tecnologia necessária para a construção de infrasestruturas 5G. Segundo o fundador da empresa, “nem daqui a dois ou três anos” outras empresas vão conseguir competir com a Huawei quanto ao 5G. A empresa chinesa já é responsável por muitos aparelhos relativos às infraestruturas de rede 4G, sendo um dos parceiros das três operadoras de telecomunicações no país.