“Não tenho memória disso.” É a primeira reação de Vítor Constâncio à notícia do Público que dá conta de que o antigo governador do Banco de Portugal deu luz verde a Joe Berardo para levantar 350 milhões da Caixa Geral de Depósitos. Questionado por um utilizador na rede social, que lhe pergunta, em inglês, se a notícia é verdadeira, Constâncio responde no mesmo idioma: “Não é verdade e nunca fui questionado sobre isto.”
Constâncio faz ainda uma outra publicação no Twitter, sempre em resposta à pergunta inicial, onde escolhe palavras cuidadosas para se expressar: “Não fui questionado sobre isto e ainda estou a investigar. Não tenho memória disso nem de nada do género que tenha acontecido há 15 anos e normalmente o supervisor (enquanto instituição) não tem interferência em operações tão concretas dessa natureza.”
Shame. Is it true?@VMRConstancio https://t.co/OyTDM5EzbF
— vitor fernandes ???? (@VMMFernandes) June 7, 2019
Not true and was never asked anything about this
— Vitor Constâncio (@VMRConstancio) June 7, 2019
I was not asked about this and I am still investigating. I have no recollection of anything like that from 15 years ago and normally the supervisor ( as an Institution) has no interference in such concrete operations of that nature
— Vitor Constâncio (@VMRConstancio) June 7, 2019
Segundo o jornal Público, em 2007, Vítor Constâncio permitiu que Berardo levantasse 350 milhões de euros junto da Caixa Geral de Depósitos (CGD) para comprar ações no banco rival, o BCP. A informação terá sido ocultada dos deputados na Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD, onde Constâncio disse ser “impossível” que o Banco de Portugal soubesse que a CGD ia financiar Berardo antes de o crédito ser dado.
Segundo os documentos a que o Público teve acesso, foi a 21 de agosto de 2007, em plena guerra de poder pelo controlo do BCP, que o Conselho de Administração do BdP decidiu reunir-se com apenas um único ponto na agenda: autorizar a operação que daria a Berardo um reforço da sua posição no BCP de 3,99% até 9,99%, com um financiamento de 350 milhões de euros a libertar pela Caixa, mediante a promessa dos títulos adquiridos.
Vítor Constâncio na máquina do tempo. “Não me lembro. Não era o meu pelouro. Era tudo legal”
Durante a Comissão de Inquérito à gestão da CGD, Constâncio ocultou esta informação e referiu: “Claro que [o BdP] só tem conhecimento delas [operações de crédito] depois” de os bancos as efetivarem. “Como é óbvio! É natural! Essa ideia de que [o BdP as] pode conhecer antes é impossível!”
Agora, o Parlamento acusa Vítor Constâncio de ter prestado informações que não correspondem à verdade, com PSD, Bloco de Esquerda, PCP, CDS e até PS a fazerem já saber que vão voltar a chamá-lo para novo depoimento na comissão de inquérito.
Caso Berardo. Partidos querem voltar a ouvir Vítor Constâncio para “reavivar memória”