Francisco Assis, eurodeputado socialista e antigo líder do grupo parlamentar do PS, enviou às redações uma declaração pública a defender Victor Constâncio, antigo governador do Banco de Portugal e ex-secretário-geral do PS. ” Victor Constâncio é uma das grandes figuras da nossa vida pública democrática”, diz Assis.

Victor Constâncio deu sobejas provas ao longo da sua vida de ser exatamente o contrário daquilo que agora se pretende insinuar que ele é. Homem de excecional brilho intelectual, economista de escola, político rigoroso e dotado de um sentido de Estado que o levou enquanto secretário-geral do PS e então líder da oposição a viabilizar ativamente uma revisão constitucional imprescindível para o país”, defende Assis.

O socialista afirma que tem “assistido com crescente repugnância a um insólito processo de linchamento moral, cívico e profissional de um homem impoluto e superior”. Para justificar a defesa que faz a Constâncio, Assis diz: “Recuso-me a participar com o contributo do silêncio nessa infame campanha”.

Inquérito/CGD: Constâncio garante que não esteve na reunião que aprovou posição de Berardo no BCP

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O político diz também que Victor Constâncio, “nos últimos anos, no desempenho das funções de vice-presidente do Banco Central Europeu, prestou grandes serviços à Europa no seu todo e aos países economicamente mais débeis, como é o caso de Portugal, em particular”. Mesmo com elogios, Assis diz que a ação do antigo governador do Banco de Portugal “pode e deve ser escrutinada”, mas que “esse escrutínio tem de obedecer a princípios de rigor e seriedade e incompatíveis com a verborreia demagógica”, que sente que tem acontecido.

É por ter a certeza que Victor Constâncio é um homem sério e singularmente qualificado no plano económico, que ao longo da sua vida prestou relevantíssimos serviços ao país, que decidi tomar esta posição. Na vida pública há silêncios que desonram quem neles se refugia. Por isso aqui está a minha palavra”, termina por escrever Assis.

Caixa. Constâncio já se lembra do empréstimo de Berardo, mas só soube depois

Victor Constâncio tem sido criticado pela atuação que teve à frente do Banco de Portugal e por dizer em comissão parlamentar que não tinha memória de acordo entre o Banco de Portugal e a Fundação Berardo, em 2007, sobre a compra de ações do BCP com 350 milhões de euros emprestados pela Caixa Geral de Depósitos. Depois de ter sido divulgada a correspondência entre a entidade reguladora bancária e a Fundação Berardo, Constâncio disse que “nada omitiu” no Parlamento, mas assumiu que teve conhecimento da decisão sobre as ações.

A correspondência que mostra que Constâncio sabia do empréstimo de Berardo

A troca de correspondência entre a Fundação Berardo e o Banco de Portugal a propósito do reforço de participação no BCP, que foi divulgada pelo jornal Público, mostra que o supervisor demorou apenas duas semanas a dar o parecer de não oposição a esse investimento qualificado num banco. A 19 de junho de 2007, em plena guerra de poder no BCP, a Fundação Berardo enviou ao Banco de Portugal um pedido para aumentar a sua participação no banco privado para um patamar superior a 5% e até 10% do capital. Uma participação qualificada desta dimensão num banco exige autorização expressa por parte do supervisor bancário que tem de fazer a avaliação da idoneidade do investidor, dos recursos financeiros, a respetiva origem, para financiar a operação, e da capacidade financeira para poder vir a ser chamado no futuro a realizar aumentos de capital, em caso de necessidade.