Dois petroleiros terão sido atacados no golfo de Omã, perto do estreito de Ormuz, segundo a Marinha dos Estados Unidos da América (EUA), tendo pelo menos um deles em chamas. A suspeita é que a explosão de pelo menos um dos navios tenha sido provocada por uma mina colocada no casco.O ataque ainda não foi reivindicado, mas Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, já veio responsabilizar o Irão pelo incidente.
A suspeita de que se trataria de bombas colocadas por forças iranianas foi reforçada pelo Comando Central dos Estados Unidos, na quinta-feira ao fim do dia, depois de divulgado um vídeo onde, alegadamente, se mostrava um segundo explosivo. Um porta-voz militar, o capitão Bill Urban, disse que o vídeo mostrava elementos do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica a retirar uma mina que não tinha explodido do casco do navio Kokuka Courageous, em plena luz do dia, citou o jornal The New York Times. Depois da primeira explosão, a tripulação do navio também terá visto esta mina por explodir, o que os terá levado a abandonar a embarcação, revelaram as autoridades norte-americanas.
O ataque desta quinta-feira assemelha-se a outro ocorrido em maio, com quatro petroleiros, mas danos menores. Uma investigação internacional apresentada na Organização das Nações Unidas (ONU) revelava, então, que os danos tinham sido causados por minas, nos cascos do navio, colocadas por mergulhadores que tinham sido deixados no local por barcos pequenos e rápidos, referiu o NYT.
Já para o segundo navio, Front Altair, “suspeita-se que tenha sido atingido por um torpedo”, disse uma fonte oficial da refinaria do Taiwan que fretou o navio para o transporte, citada pela agência de notícia Reuters.
It is the assessment of the U.S. government that Iran is responsible for today's attacks in the Gulf of Oman. These attacks are a threat to international peace and security, a blatant assault on the freedom of navigation, and an unacceptable escalation of tension by Iran. pic.twitter.com/cbLrWNU5S0
— Secretary Pompeo (@SecPompeo) June 13, 2019
De acordo com as agências internacionais de notícias, a Marinha dos Estados Unidos disse estar a prestar assistência a petroleiros que terão sido “atacados”. A acusação de Mike Pompeo, feita em declarações aos jornalistas em Washinton DC, surgiu depois da de um porta-voz do governo iraniano que, refutando qualquer responsabilidade, alertava para que “não se caia na armadilha de quem lucra com a instabilidade na região”.
Pompeo garantiu que os EUA vão “defender as [suas] forças, acusando o governo iraniano de planear uma série de ataques a petroleiros para levar os EUA a reduzir as sanções económicas aplicadas ao país. Os EUA vão levar este incidente ao Conselho de Segurança da ONU, acrescentou Mike Pompeo.
Na página de Mike Pompeo no Twitter foi escrito que “a avaliação do governo dos EUA é que o Irão é responsável pelos ataques de hoje no Golfo de Omã”. “Estes ataques são uma ameaça à paz e segurança internacional, uma agressão flagrante à liberdade de navegação e uma escalada das tensões, pelo Irão, que é inaceitável”.
That the US immediately jumped to make allegations against Iran—w/o a shred of factual or circumstantial evidence—only makes it abundantly clear that the #B_Team is moving to a #PlanB: Sabotage diplomacy—including by @AbeShinzo—and cover up its #EconomicTerrorism against Iran.
— Javad Zarif (@JZarif) June 14, 2019
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, acusou os Estados Unidos de estarem a tentar sabotar a visita do primeiro-ministro do Japão, Abe Shinzō, ao Irão com alegações “sem um fragmento de evidência factual ou circunstancial”.
No Reino Unido, por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, parece não ter razões para duvidar da avaliação feita pelos Estados Unidos, noticiou a agência Associated Press. “Vamos fazer a nossa própria avaliação independente, temos as nossas formas de o fazer”, disse. “Não temos qualquer razão para não acreditar que a avaliação americana e o nosso instinto é para acreditar porque são nossos aliados.”
Conselho de Segurança reúne-se de urgência para analisar ataques a petroleiros
O Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) vai reunir-se de emergência para analisar a situação no Golfo Pérsico, após o ataque a dois petroleiros no Estreito de Ormuz, segundo fontes diplomáticas.
A reunião, que decorrerá à porta fechada, após outra sobre a Síria, foi solicitada pelos Estados Unidos da América (EUA).
O embaixador norte-americano na ONU, Jonathan Cohen, advertiu esta quinta-feira, durante outra reunião, que os ataques “criaram uma preocupação muito séria”, acrescentando que “é inaceitável” que se atue contra navios comerciais.
“O Governo dos EUA está a dar assistência e continuará a analisar a situação”, disse, durante um debate sobre a cooperação entre as Nações Unidas e a Liga Árabe.
Nessa reunião, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, condenou os ataques e sublinhou que “os factos devem de ser esclarecidos e apurar-se as responsabilidades”.
Entretanto, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, disse que “os perigosos acontecimentos devem fazer com que o Conselho de Segurança atue contra os responsáveis dos ataques”.
“Alguns atores na região estão a tentar provocar uma situação incendiária e devemos ter isso em conta”, alertou.
Navio “em chamas e à deriva”
“Fomos informados de um ataque contra petroleiros no golfo de Omã. As forças navais norte-americanas na região receberam duas chamas de socorro distintas”, afirmou em comunicado o comandante Josh Frei, porta-voz da 5.ª Frota da Marinha, responsável por zelar pelos interesses dos Estados Unidos nas águas da região.
Uma empresa de inteligência marítima identificou, de modo preliminar, uma das embarcações como sendo o “MT Front Altair”, um petroleiro com bandeira das Ilhas Marshall.
O navio está “em chamas e à deriva”, acrescentou a empresa Dyrad Global, citada pela Associated Press, mas sem indicar a causa do incidente ou mencionar um segundo petroleiro.
https://twitter.com/BabakTaghvaee/status/1139143608924364800
A notícia deste incidente está a fazer disparar quase 5% os preços do petróleo nos mercados internacionais, com receios de disrupção no fornecimento.
O ‘site’ da televisão estatal iraniana, citando um canal de notícias libanês pró-Irão, disse que dois petroleiros foram alvejados no golfo de Omã, mas sem mostrar evidências de um ataque.
Segundo a Associated Press, a empresa que opera um dos dois petroleiros afirma que uma explosão causou um incêndio a bordo. Outra empresa de navegação identificou o segundo navio atingido e disse que 21 marinheiros foram retirados da embarcação, com um deles a apresentar ferimentos ligeiros.
O caso ocorre quando o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, está de visita ao Irão, numa altura em que Teerão e Washington assistem a uma escalada de tensão política e militar, tornando o tema um dos pontos centrais das conversas que tem desenvolvido com Hassan Rohani.
A visita de Abe é a primeira de um chefe de Governo japonês desde a revolução islâmica de 1979 e a primeira de um líder de um país do G7 desde que o Presidente norte-americano, Donald Trump, se retirou do acordo nuclear.
O Japão é um importante aliado dos EUA e tem um histórico de relações comerciais com o Irão muito profundo, o que torna este país um potencial mediador do conflito entre aqueles dois países.
Atualizado com informação de que seriam minas, e não torpedos, e o vídeo divulgado pelo Comando Central dos Estados Unidos.
Correção: o alegado ataque aconteceu esta terça-feira, dia 13
Última atualização às 9h55