Falou como “militante” do PSD que “diz o que pensa”, mesmo que tenha uma “opinião contundente”. Em entrevista à RTP3 esta quarta-feira à noite, o ex-dirigente do PSD e ex-ministro do Ambiente Jorge Moreira da Silva não poupou críticas ao estado atual do PSD, que teve “resultados dececionantes” nas últimas eleições europeias e que deve “mudar de trajetória” a tempo das legislativas. Não o fazer é ignorar o recado dos eleitores, diz.

“Face aos resultados, que são dececionantes, e que traduzem um desastre eleitoral para o PSD, o normal teria sido que o líder tivesse criado as condições para um refrescamento da proposta política do partido a tempo das legislativas”, começou por dizer Moreira da Silva na Grande Entrevista da RTP3, defendendo que esse “refrescamento” podia ter acontecido de várias maneiras mas tinha sempre de ser desencadeado pelo líder do partido, Rui Rio, que, ao invés, nada fez.

Para o ex-vice-presidente do PSD, esse sinal podia ter sido dado não necessariamente através da demissão do líder mas, por exemplo, através da convocação de primárias abertas a simpatizantes para a escolha do candidato do PSD a primeiro-ministro, como aconteceu com António Costa e António José Seguro. Seria uma forma, diz, de “mostrar que percebemos o que o eleitorado nos quis dizer”.

Desafiar o líder, para já, não desafia, mas se esse cenário se tivesse colocado, Moreira da Silva não teria faltado à chamada. “Não diria isto se depois ficasse em casa. Se tivesse havido uma predisposição do líder do partido para clarificar a liderança, eu não poderia ficar em casa, acabaria por dar o meu contributo, e estou convencido de que outros o fariam”, disse, sublinhando que isso não é o mesmo do que dizer que, no futuro, será candidato à liderança do PSD: “No futuro se verá”.

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Como Rio não abriu nenhum processo de “refrescamento”, e como, “nas últimas duas semanas não houve nenhum gesto, nenhuma atitude, nenhuma reflexão que traduzisse essa mudança de estratégia”, Moreira da Silva mostrou-se preocupado com o pouco tempo que falta até às legislativas, defendendo mesmo que um cenário de primárias com várias propostas políticas seria a “melhor pré-campanha eleitoral para as legislativas”. Uma coisa é certa, diz: o PSD “tem de mudar de vida” sob pena de passar uma imagem ao eleitorado de que não liga ao que os eleitores dizem ou querem, sobretudo depois de o PSD ter tido “o pior resultado de sempre” em eleições de cariz nacional.

Os “erros” de estratégia do PSD. “Se os partidos não mudam, as pessoas mudam de partido”

Jorge Moreira da Silva, que também é diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE, também não se poupou a apontar os principais “erros” do partido nas últimas eleições. Erros de “estratégia” e “táticos”, disse. Em primeiro lugar, a “nacionalização das eleições europeias”, que Moreira da Silva diz ter sido desencadeada primeiro pelo PSD e não somente por António Costa, e em segundo “o dossiê professores”, que permitiu a criação de dúvidas sobre o carácter de responsabilidade orçamental que é “uma das marcas do PSD”.

Para o ex-ministro do Ambiente, Rui Rio, enquanto líder do PSD, não tem margem para errar e o erro dos professores pode ter sido crucial. “Quando se é líder do PSD está-se a pilotar um Fórmula 1, não há espaço para falhar uma mudança, uma transição de velocidade ou uma curva”, disse. E continuou: “Na liderança de um partido e quando se é candidato a primeiro-ministro, não há nenhuma margem de manobra para erros. Acho que esse erro é um erro sério. Eu espero que o PSD possa recuperar desse erro a tempo das eleições legislativas”.

O problema está detetado. “Analisei os resultados concelho a concelho e existem sinais de preocupação. O PSD deixou de primeira escolha em muitos concelhos, e  os partidos não são eternos: se partidos não mudam, as pessoas mudam de partido”, vaticinou, sublinhando que os partidos, como um todo, estão “em risco de sobrevivência”, pelo que é preciso mudar.

Questionado sobre a eventualidade de o PSD sair derrotado das próximas legislativas, Moreira da Silva disse que, nesse caso, era “evidente” que o PSD tinha de mudar de liderança.