O projeto Aquamundam, que visa a proteção do meio ambiente através da melhoria da gestão do ciclo da água em espaços transfronteiriços de Portugal e Espanha, resultou num documento conjunto de boas práticas, segundo uma das entidades promotoras.
O projeto ibérico, liderado pelo Instituto Tecnológico da Galiza, inclui ainda, do lado espanhol, a entidade pública empresarial Águas de Galiza, a fundação Cartif e a Confederação Hidrográfica do Douro, enquanto em Portugal participam a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho e o Instituto Pedro Nunes (IPN).
Inserido no programa de cooperação Interreg VA Espanha-Portugal (POCTEP), que visa o desenvolvimento da maior fronteira da União Europeia, o Aquamundam tem a duração de dois anos e termina no final de 2019.
“Foi feita uma recolha de boas práticas na zona transfronteiriça e há um manual português, um manual espanhol e depois um documento conjunto [um estudo sobre a gestão da água na zona transfronteiriça de Portugal e Espanha] que já estão disponíveis na página do projeto”, disse à agência Gouveia Leal, coordenador do Aquamundam no IPN.
De acordo com o responsável daquele organismo localizado em Coimbra, estão ainda a ser desenvolvidos, em parceria entre o IPN e o Instituto Tecnológico da Galiza, quatro projetos-piloto de utilização de um sistema de gestão, que irão ser testados após as férias de verão – um em Portugal, pela CIM do Alto Minho, e os três restantes em Espanha, na Galiza e na zona do rio Douro.
O Aquamundam, que pretende fomentar o uso racional da água, através do desenvolvimento de novas metodologias e ferramentas e através da valorização de soluções e técnicas existentes, terá um relatório final apresentado no final do ano, que congrega toda a documentação produzida.
“Os trabalhos que competiam ao IPN estão numa fase final. Só falta entregar um documento com indicadores e recomendações para melhoria da gestão da rede”, adiantou Gouveia Leal.
Já José Alfeu Marques, especialista em hidráulica, recursos hídricos e ambiente do departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, autor do manual português de boas práticas, disse à Lusa que este resultou da sua experiência de “42 anos de ensino, projeto e investigação”, contribuições das dissertações de mestrado e doutoramento que tem orientado, e contributos de entidades gestoras de água e saneamento.
Questionado sobre os contributos que Portugal pode dar a Espanha, Alfeu Marques fez um paralelo com a atividade dos órgãos de comunicação social: “Da mesma maneira que os jornalistas têm de ter informação para terem notícia, no setor da água temos de conhecer a rede para melhor a gerir, é fundamental”.
“E estas infraestruturas [de água e saneamento] são terríveis, porque estão enterradas, algumas com 40, 50, 100 anos. Nós temos redes de água com 100 anos e, portanto, a primeira coisa é ter um cadastro, ter informação”, lembrou o especialista.
Depois, indicou, há que validar essa informação, hierarquizar as intervenções de reparação e fazer uma monitorização em contínuo.
O especialista argumentou que, com as novas tecnologias, uma simples rotura em casa que resulte numa inundação poderá ser resolvida com um sistema de telegestão.
“Essa informação poderá ser passada imediatamente a uma empresa que faz a segurança da habitação, que nos avisa com uma vulgar sms. E se a rotura ultrapassar um certo valor, o sistema permite fechar a torneira de passagem de água pelo contador. Isto é cada vez hoje mais acessível e quanto mais for utilizado, como em tudo, mais barato vai ser fazer”, afirmou.
Estes foram aspetos referenciados aos colegas espanhóis: “Eles têm um problema de água muito grande por causa de terem uma agricultura como têm, mas tratam menos bem do que nós a questão do ciclo urbano da água”, enfatizou Alfeu Marques.
O presidente da Águas do Centro Litoral, Nelson Geada, considera que o conhecimento adquirido no setor da água em Portugal “está na vanguarda da Europa”.
Desde a década de 1980, referiu à Lusa, existem em Portugal grupos de técnicos com muita experiência adquirida e que Portugal já esteve representado no comité principal da Associação Mundial da Água.
Por outro lado, notou, o problema da água em Espanha “é um problema económico de enorme dimensão”.
“Espanha é um país agrícola por excelência, a agricultura é fundamental em Espanha e aqui não é. Resultado: em Espanha, o enfoque principal da investigação reside onde lhes dói mais, onde têm um problema mais agudo, que é na agricultura. Na parte do consumo humano estão adiantados também, têm trabalho feito desde os anos 80, mas já nessa altura a sensibilidade de Espanha era virada para o problema que têm na agricultura”, sublinhou.
Nelson Geada referiu que em Portugal há conhecimento, técnicos e vontade política, mas esta tem de ser maior.