A história desenrola-se quase sempre da mesma maneira e tem quase sempre o mesmo capítulo final: começa com uma época de alto nível de um jogador específico, continua com rumores de interesse, transferências e milhões até ao final da temporada, acalma com declarações de amor eterno e entrega total e termina com a saída de que se falava desde o primeiro momento. Foi assim a novela João Félix, tal como tantas outras nos últimos anos, que arrancou com um golo muito importante frente ao Sporting e encerra com um contrato assinado com o Atl. Madrid.
No final de uma temporada em que assinou 20 golos ao longo de 43 em todas as competições, em que inscreveu o próprio nome em recordes que ocupam várias linhas, em que se estabeleceu com uma das figuras de proa do Benfica que recuperou o título nacional ao FC Porto e ainda teve tempo e espaço para se estrear ao serviço da Seleção Nacional, João Félix deixa a Luz. Deixa a Luz contra a vontade do clube, deixa a Luz contra a vontade dos adeptos e deixa a Luz contra o conselho de muitos. Para trás, fica um legado muito curto mas cheio de boas memórias. E fica, mais do que isso, a certeza de que pelo menos o apelido que esta temporada foi dito e repetido pelas vozes encarnadas vai continuar a vestir de vermelho e branco.
João sai mas fica Hugo, o irmão de 15 anos do internacional português que alinha pelas camadas jovens do Benfica e a meio de abril foi protagonista de um momento que emocionou a Luz e teve repercussão na comunicação social portuguesa e estrangeira. Depois de marcar o terceiro golo da vitória dos encarnados em casa perante o V. Setúbal, João Félix correu em direção a um apanha-bolas que estava perto da baliza sadina e festejou de forma efusiva com o rapaz. Depois de relativa curiosidade, a informação acabou por ser confirmada pela BTV, que estava a transmitir o jogo e conseguiu conversar alguns minutos com o apanha-bolas: era Hugo, o irmão mais novo do número 79 do Benfica, quem estava junto à baliza do V. Setúbal.
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“É um sentimento de orgulho. Foi mais um golo por este clube, é uma sensação fantástica. Já tínhamos combinado este momento, claro!”, disse o jovem de 15 anos, que mais do que ter sido abraçado pelo irmão mais velho, foi recebido de forma entusiasmada por alguns dos elementos mais velhos do plantel encarnado, como Samaris e Pizzi, que dedicaram mais tempo a Hugo do que a João durante os festejos. Nas redes sociais, os dois irmãos recordaram a celebração: o mais velho escreveu “sempre por ti”, o mais novo afirmou “e que momento”.
O percurso de Hugo é em tudo semelhante ao de João, ainda que as mudanças na carreira do também médio ofensivo de 15 anos tenham acontecido sempre mais cedo. Tal como o agora reforço do Atl. Madrid, Hugo Félix começou a jogar nas camadas jovens do FC Porto desde muito novo e também protagonizou uma transferência para o rival do Benfica, à semelhança do irmão: antes de se mudar para Lisboa, o jovem da região Centro do país ainda esteve um ano ao serviço da Casa do Benfica de Viseu. Em 2016/17, temporada em que João Félix subiu à equipa B dos encarnados, Hugo fez a viagem até ao Seixal e juntou-se ao clube da Luz, tendo terminado agora a terceira época no Benfica (com 12 golos marcados em 21 jogos).
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Em março, ainda antes da celebração com o irmão mais velho — que acabou por se repetir semanas depois –, Hugo assinou um contrato de formação com o Benfica. No Instagram, onde partilhou uma fotografia ao lado de João Félix e Luís Filipe Vieira, o jogador de 15 anos disse estar “muito feliz” pelo “primeiro contrato” com os encarnados. “Agora é continuar a trabalhar e a representar este grande clube da melhor forma. Obrigado pelo voto de confiança”, acrescentou o médio.
João, que até é presença habitual nos jogos da equipa de iniciados do Benfica para ver o irmão mais novo, vai mudar-se para Madrid mas deixa em Lisboa o outro Félix, aquele que ficou conhecido por ser “irmão de” mas que vai procurar fazer história pelos próprios pés. Hugo tem a herança pesada mas o futuro em aberto.