O PCP vetou o nome de Marisa Matias para presidente do grupo Esquerda Unitária europeia. Comunistas e bloquistas pertencem à mesma bancada no Parlamento Europeu, que tem estado desde o início de junho a tentar encontrar um nome consensual para a presidência do grupo. Uma das soluções que mais posições favoráveis reuniu desde o início foi o nome da eurodeputada do BE, que se candidatou a presidente. Era uma das favoritas para ficar com o cargo, mas precisava de unanimidade.

O Observador confirmou junto de fontes do grupo da Esquerda Unitária europeia que foram os vetos de PCP e do AKEL, comunistas do Chipre, que impediram que Marisa Matias chegasse à liderança do grupo. Mas há mais. O PCP vetou uma solução proposta na sequência do impasse gerado pela falta de consenso em torno do nome da bloquista que previa uma liderança partilhada.

No seio da Esquerda Unitária, “as decisões são tomadas por consenso, não há votos”, explica Marisa Matias ao Observador. “O meu nome não reuniu esse consenso“, admite, sem confirmar — nem desmentir — que tenham sido os comunistas portugueses a impedir a sua eleição. “Prefiro dizer apenas que não houve consenso”.

A dada altura, e quando se percebeu que os comunistas portugueses e cipriotas não iam ceder e nunca aceitariam o nome da eurodeputada do BE para presidente do grupo, houve uma solução que voltou a reunir um amplo consenso: uma liderança dividida entre Marisa Matias e João Ferreira. Numa das metades do mandato a presidência deste grupo, com 41 assentos, ficaria a cargo da bloquista e na outra seria assumida pelo eurodeputado comunista. O PCP voltou a vetar.

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Contactada pelo Observador, Marisa Matias não quis comentar. “Não falo de questões internas do grupo”, repetiu por diversas vezes. Admitiu apenas que apresentou “uma candidatura a líder do grupo” mas que o seu nome não tinha sido “consensual” para conseguir assumir o cargo. Questionada sucessivamente sobre se o PCP tinha sido um bloqueio, a eurodeputada do BE voltou a não se pronunciar.

A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes, muito próxima da bloquista, chegou a comentar a situação no Twitter. “Ressentimento, despeito e inveja nunca são bons conselheiros“, escreveu, numa demonstração de solidariedade para com a amiga de longa data e num ataque direto aos comunistas portugueses.

Perante o impasse e com o início da nova legislatura à porta, foi encontrada uma solução provisória: uma liderança a quatro, com um presidente e três vice-presidentes. Como confirmou o grupo da Esquerda Unitária Europeia, através de um comunicado publicado no site oficial, Marisa Matias e João Ferreira fazem parte deste leque, ambos como número dois. O presidente interino é Martin Schirdewan, do Die Linke (Alemanha), ficando o terceiro lugar de vice ocupado por Nikolaj Villumsen, da Aliança Verde, da Dinamarca.

Ao Observador, Marisa Matias explicou que esta é uma “solução temporária que só começará a ser resolvida a partir do dia 16 de julho, quando a questão voltar a ser discutida no seio do grupo”. Esta segunda ronda negocial pode durar várias semanas ou até meses — já que o Parlamento Europeu encerra durante o mês de agosto. Sobre uma eventual recandidatura à presidência do grupo, a dirigente do Bloco de Esquerda voltou a não querer responder. “Não vou falar sobre isso agora“, afirmou.

Já depois da publicação desta notícia, o PCP enviou um comunicado às redações para justificar a sua posição. Sem nunca referir o nome de Marisa Matias ou do BE — apenas fala de uma proposta “veiculada por alguns órgãos de comunicação social em Portugal” –, os comunistas explicam que se tratava de uma solução que “demonstrou não ser consensual, como foi manifestado por várias forças políticas, de diferentes países“, contando por isso com o veto do PCP, que sublinha o facto de todas as decisões deste grupo parlamentar serem tomadas por consenso. Ou seja, não reuniu consenso e por isso o PCP opôs-se à proposta. “É esta, e não outra, a razão que conduziu a que essa e outras propostas não tenham preenchido esta condição essencial no quadro da aplicação dos princípios do Grupo”, esclarecem.

O Observador tentou falar diretamente com João Ferreira mas, até ao momento da publicação deste artigo, o eurodeputado eleito pela CDU para o Parlamento Europeu não se mostrou disponível para falar, remetendo explicações para o comunicado oficial do gabinete de imprensa do PCP.

(Texto atualizado às 16:44 com a nota do PCP)