O processo de elaboração das listas de candidatos a deputados do CDS não tem passado ao lado de polémicas internas. Primeiro, Assunção Cristas foi criticada internamente por ter anunciado os nomes dos candidatos sem que, antes, as listas tivessem sido aprovadas em Conselho Nacional. Depois, Abel Matos Santos, porta-voz da corrente de oposição interna Tendência Esperança e Movimento (TEM), acusou a direção do CDS de se estar a preparar para aprovar as listas finais sem convocar o Conselho Nacional, como exigem os estatutos do partido. Por fim, o CDS lá convocou o Conselho Nacional para a noite desta quinta-feira, com caráter extraordinário.

É com este enquadramento que o Conselho Nacional do CDS está reunido esta noite, num clima de insatisfação interna motivado pelas sondagens que têm dado ao CDS intenções de voto ainda mais baixas do que os 6% que teve nas europeias. Entre os habituais críticos da direção de Assunção Cristas, o Observador sabe que o representante da Tendência Esperança e Movimento, Abel Matos Santos, está presente, ao contrário do grupo “Juntos Pelo Futuro”, de Filipe Lobo d’Ávila e Raul Almeida, que não foi à reunião por ter discordado do processo de elaboração das listas desde o início.

Há quatro meses, a 5 de Abril, foram aprovados — com 80% dos votos favoráveis, 14 contra, seis nulos e um branco — os cabeças de lista propostos pela líder do partido, assim como os primeiros candidatos nos dois maiores círculos (Lisboa e Porto). Estatutariamente, e por uma questão de autonomia, os Açores e a Madeira escolhem os seus próprios candidatos. O que será aprovado hoje são, por isso, as restantes indicações das distritais, nomes que, a avaliar pelas sondagens, têm pouca probabilidade de ser eleitos.

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Mas nem por isso o Conselho Nacional passará incólume às críticas. O Observador sabe que o discurso que o porta-voz da TEM preparou para esta noite não poupa nas críticas ao “desnorte” e ao centralismo da direção de Cristas, a quem Abel Matos Santos imputa toda a responsabilidade pelo resultado eleitoral que o CDS vier a ter no dia 6 de outubro. “O ponto de partida são os 18 deputados que temos a nível nacional, e, em Lisboa, o ponto de partida é igualar os 21% que a dra. Cristas teve [nas autárquicas]. Lamentavelmente, as perspetivas não são boas, e a responsabilidade, para o bom ou para o mau, é exclusivamente sua, da sua direção e da sua equipa”, dirá esta noite Abel Matos Santos à líder centrista, pondo-lhe uma fasquia bastante alta: 18 deputados e 21% em Lisboa. “A senhora terá de assumir a sua responsabilidade”, acrescenta ainda.

Acusando Assunção Cristas de “excluir, rejeitar e impor”, Abel Matos Santos diz ainda que a direção do CDS não envolveu as distritais na elaboração das listas, dando até primazia a jovens independentes “desprezando os quadros da Juventude Popular”. “E depois como se isto não bastasse contam-se pelos dedos das mãos os distritos onde existe consenso sobre as listas”, disse.

Outra das críticas que Matos Santos faz é o facto de o CDS não ter uma “grande bandeira eleitoral” pela qual se bater — tem apenas “propostas avulsas” — e não contabilizar os custos das medidas que propõe, embora critique o PS por também não o fazer. Mais: um dos pontos da convocatória é a aprovação das linhas programáticas do programa eleitoral para as eleições legislativas 2019, e os conselheiros nacionais não têm ainda acesso ao programa eleitoral do partido. “Fica a critica ao facto de, mais uma vez, não distribuírem o documento com a convocatória, para dar tempo aos conselheiros nacionais para lerem e podermos votar em consciência”, atirou, sublinhando que os “conselheiros nacionais não são ratificadores nacionais”. Ou seja, devem ser ouvidos e tidos em consideração, e não devem servir apenas para ratificar as decisões tomadas no núcleo duro da direção.

O programa eleitoral do CDS tem data de apresentação prevista para o dia 29 de agosto, dois dias antes de o partido assinalar a sua rentrée política, na Madeira.