Chama-se Donald Neely, tem 43 anos, vive na rua e, de acordo com a família, sofre de problemas mentais graves. É esta a história do homem negro que, na semana passada, foi fotografado a ser levado preso por uma corda por agentes da polícia de Galveston, no Texas (EUA). A ação chocou muitos nos Estados Unidos pela semelhança com imagens do passado, num país onde os negros foram escravizados legalmente até meados do século XIX.

Agora a família de Neely conta a história do homem e acusa a polícia de Galveston de insensibilidade. “Nunca deviam ter feito isto, levar um homem negro entre dois homens brancos a cavalo”, lamentou-se a irmã, Taranette Neely, ao New York Times.

Texas. Polícias a cavalo levam homem negro preso por uma corda pelas ruas e pedem desculpa depois de acusados de racismo

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ao mesmo jornal, Taranette revelou que Donald é bipolar e sofre de esquizofrenia. Nas palavras da irmã, Donald sempre foi “doce como uma borboleta”, mas a morte de uma avó, em 2006, agravou o seu estado mental. Nos últimos cinco anos a sua condição agravou-se e, desde então, Donald tem vivido na rua, apesar dos esforços da família de o trazer para casa. Ainda há três semanas, segundo a irmã, um dos seus irmãos tentou tirá-lo da rua, mas Donald saltou do carro em andamento.

Também uma das cunhadas de Donald, Christin Neely, relatou uma história semelhante no Facebook. “Imaginem que têm um familiar sem-abrigo e que tem doença mental… Imaginem que VOCÊS têm noção de que viver na rua é perigoso, insalubre, que faz de alguém um alvo para o crime e para as forças de segurança e que isso isola a pessoa da sua família, mas NÃO CONSEGUEM fazer com que esse familiar entenda isso, apesar dos vossos esforços. Imaginem procurar pelo vosso ente querido nas ruas da cidade durante dias, sem resultado”, escreveu. Na mesma publicação, a norte-americana criticou ainda a atuação da polícia, dizendo que trataram o cunhado “como um animal”.

A família destaca ainda que não é a primeira vez que Donald se envolve em problemas com a lei, razão pela qual consideram que os agentes já deveriam estar familiarizados com os seus problemas mentais. O New York Times teve acesso a documentos oficiais que revelam que Donald Neely foi detido seis vezes só neste ano, sempre por pequenos delitos. Desta vez, está em causa uma alegada invasão de propriedade privada.

Eles não querem saber da história toda. Aos olhos deles és um criminoso e serás sempre um criminoso”, lamentou-se Taranette sobre a atuação dos polícias para com o seu irmão. “Não há redenção para ti. És lixo. E foi assim que eles o trataram.”

Três investigações a decorrer. Sindicato defende agentes da polícia

Na sequência do incidente, os Rangers do Texas, o gabinete do Xerife de Galveston e a autarquia abriram investigações ao caso, segundo revelou o Houston Chronicle. “Este é um evento tão polarizador que é imperativo que tenhamos uma investigação independente, feita por terceiros, para garantir que tratamos de quaisquer assuntos potenciais”, anunciou um dos responsáveis da cidade, Brian Maxwell.

Na reação inicial ao incidente, o chefe da polícia de Galveston, Vernon Hale, já se tinha apressado a pedir desculpas pelo sucedido e a garantir que o seu departamento iria “acabar de imediato” com aquela prática. Reconhecendo que os agentes em questão revelaram “fraca capacidade de julgar a situação” e que provocaram “vergonha desnecessária” ao detido, Hale sublinhou no entanto que os dois homens eram relativamente novos no departamento e que atuavam geralmente com compaixão.

O método de levar os detidos por uma corda, explicou, “é considerada a melhor prática em determinados cenários, como no controlo de multidões”, muito embora não fosse esse o caso ali. “É [um método] neutro em termos de raça e género”, sublinhou, reconhecendo porém que houve um problema de perceção: “A ótica de como pode ser entendido por quem está de fora às vezes não é levada em conta”, segundo destacou o Washington Post.

O sindicato que representa os agentes policiais de Galveston, por seu turno, defendeu a ação dos agentes. “Ao contrário do que alguns disseram, estes agentes não tiveram fraca capacidade de julgar a situação. Fizeram exatamente aquilo para que foram treinados”, declarou o dirigente sindical Kevin Lawrence.