Que a situação é má já se sabia, mas os números da Agência Espacial Europeia (ESA) mostram a real dimensão do problema: segundo informação recolhida via satélite, em agosto quadruplicou o número de incêndios na Amazónia face ao mesmo período do ano anterior. Só na Amazónia brasileira, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o aumento foi de 123%.

Os incêndios no Brasil ocorrem normalmente nos meses mais secos (de julho a outubro), explica a ESA, sendo o aumento do número de fogos explicado com a desflorestação — legal e ilegal — para fins agrícolas, assim como o aumento das temperaturas. O satélite Copernicus Sentinel 3, da ESA, detetou quase 4000 fogos na Amazónia entre 1 e 24 de agosto, enquanto que no mesmo período do ano passado foram registados 1110 fogos. “Ao processarmos 249 imagens de agosto de 2018 e 275 imagens de agosto deste ano, conseguimos ver a incrível quantidade de fogos na Amazónia”, refere Olivier Arino, da ESA.

O fumo dos incêndios já chegou à costa atlântica, segundo a Copernicus Atmosphere Monitoring System (CAMS), um programa da União Europeia para a observação do planeta Terra. A entidade calculou ainda que os fogos deste ano na Amazónia libertaram 228 megatoneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

Incêndios no Amazónia brasileira mais do que duplicaram face ao ano passado

Só na Amazónia brasileira, há registo de 44.028 incêndios entre 1 de janeiro e 28 de agosto, o que representa uma subida de 123% face ao mesmo período do ano passado, segundo os dados mais recentes do instituto brasileiro Inpe, consultados pelo Observador.

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Já em todo o Brasil (e não apenas na Amazónia) o número de fogos subiu 75% entre 1 de janeiro e 28 de agosto deste ano, em comparação com o período homólogo de 2018. Até esta quarta-feira, o país registou 84.957 focos, o dobro dos 42.566 focos nos mesmos meses de 2013. Imagens de satélite da NASA mostram manchas de fumo sobre várias regiões da América do Sul.

Os dados mais recentes revelados pela NASA dão conta de que os focos de incêndio em 2019 são o valor mais elevado desde 2010, estando o ano perto de atingir recordes. Douglas Morton, da NASA, explicou que o mês de agosto deste ano se destacou porque trouxe um aumento na intensidade e persistência dos fogos na Amazónia. Se a seca teve um papel importante no agravamento dos números de fogos no passado, o timing e a localização do fogo na época seca de 2019 são mais consistentes com a desflorestação do que com a seca.

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A mesma ideia foi sublinhada por Douglas Morton numa entrevista à Folha de S. Paulo. “Há dez dias, olhei para as imagens dos nosso sensores dos satélites em órbita e eles mostravam claramente os focos de calor separados, com colunas enormes de fumo a sair das áreas da fronteira agrícola, como na região de Novo Progresso, no Pará, e no sudeste do estado do Amazonas”, afirmou. “Não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumo se aquilo for apenas limpeza de pasto, por exemplo”, explicou o especialista da NASA.

Além do Brasil, também partes do Perú, Bolívia, Paraguai e Argentina foram afetadas pelos incêndios. Na Bolívia, por exemplo, entre o início do ano e 28 de agosto foram registados 19.265 focos de incêndio, um aumento de 91% face ao mesmo período do ano anterior.

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