“Não queremos que as pessoas venham cá por pena, queremos que venham porque se come bem.” É desta forma curta e direta que Américo Nave resume uma das grandes ambições do “É Um Restaurante”. A poucos metros da Avenida da Liberdade, num dia de calor forte, o responsável deste que é o mais recente projeto da sua associação de apoio social, a Crescer, explica como surgiu a ideia (e oportunidade) de fazer algo diferente: abrir um restaurante onde todos os seus trabalhadores, tanto os da sala como os da cozinha, são sem abrigo.
“A Crescer trabalha com pessoas em situação de vulnerabilidade desde 2001 e o que sempre sentimos foi que havia um grande estigma no momento de integração de pessoas em situação de sem abrigo no mercado do trabalho”, começa por explicar. Américo não está sozinho, consigo tem a psicóloga Alexandra Eavaristo e os chefs Nuno Bergonse e David Jesus. Todos eles fazem parte desta aventura que mora no mesmo espaço do antigo Zé Varunca, o número 54 da Rua de São José, e que começa oficialmente a servir jantares (almoços só mais para a frente, quiçá no início de 2020) a partir do próximo dia 1 de outubro.
“O ‘É Um Restaurante’ aparece, portanto, numa perspetiva de mostrar ao mercado de trabalho que estas pessoas são tão válidas como quaisquer outras”, refere. Como é que se consegue conquistar isto de fazer um restaurante totalmente funcional enquanto se muda a vida das pessoas que o fazem funcionar? É isso que nos explica.
E porque não algo diferente?
Agosto de 2016. Quatro anos antes da conversa que se trocou ali mesmo, à porta do ainda em construção “É Um Restaurante”, era plantada a semente desta iniciativa. “A dada altura a Câmara Municipal de Lisboa perguntou-me se a Crescer teria vontade de fazer um projeto de um restaurante normal que servisse comida a pessoas em situação sem abrigo. Nós dissemos logo que não estávamos interessados e eles perguntaram-nos depois o que faríamos se tivéssemos um restaurante. Propusemos algo diferente: respondi que punha as pessoas em situação de sem abrigo a dar comida aos outros, em vez do contrário.” E assim foi… Mais ou menos, faltou todo o tempo necessário para formalizar não só o acordo com a CML, que lhes cedeu o espaço que vão utilizar, por exemplo, mas também para acertar todas as parcerias, entre elas, a que lhes daria um chef.
“Queríamos um chef de renome, alguém que pudesse garantir que a comida e o serviço fossem de elevada qualidade. O Nuno Bergonse acabou por ser a nossa escolha e a partir daí foi seguir sempre em frente”, refere Américo. Bergonse é uma cara que atualmente, à conta da sua participação na mais recente edição do Master Chef português, é bem familiar de muitos portugueses. Não só se dedica à televisão como tem projetos na área do catering, consultoria, criação de receitas e o apoio a causas sociais. “Comecei a trabalhar com a associação Crescer com o projeto Marhaba, a iniciativa ligada ao apoio de refugiados em Lisboa em que fazia, em conjunto com eles [refugiados], eventos pela cidade como jantares ou coisas semelhantes”, diz Nuno. À conta deste seu envolvimento com a associação foi-se apercebendo que o É Um Restaurante estava na calha e não demorou muito até Américo se lembrar do seu nome para a aventura que nascia.
A Crescer surgiu em 2001 pela mão de um conjunto de cinco psicólogos que já se conheciam pelo menos desde 98, altura em que trabalharam juntos no antigo Casal Ventoso. “Houve uma altura em que decidimos criar uma organização que trabalhasse mais na área da prevenção”, afirma. Já tinham o “know how de trabalhar nesta área” e criaram “equipas de rua” que davam um apoio de proximidade. A Crescer foi crescendo (passe a redundância), passaram, com o tempo, a gerir “15 projetos na cidade de Lisboa”, formaram “3 equipas de rua que diariamente estão em contacto com pessoas em situação de sem abrigo” e esta experiência, conta Américo, foi essencial no momento de partir para este É Um Restaurante.
A vontade de criar este projeto também esteve muito relacionada com uma outra iniciativa da Crescer que surgiu em 2013, o “É Uma Casa”, que atribui casas e apoio a pessoas em situação de sem abrigo. “Percebemos que as pessoas querem muito ter uma casa mas depois começam a tentar ter um trabalho” — é nesta segunda fase que surgem as complicações. “Sentimos que há muito interesse em alcançar a autonomia, de conseguirem receber o seu dinheiro, mas o mercado de trabalho é demasiado exigente para quem viveu na rua 5, 10 ou 15 anos. O nível de exigência e a rigidez não permite que estas pessoas sequer entrem.” Estas exigências passam por coisas tão simples como a pouca tolerância da entidade patronal perante eventuais atrasos ou até a falta de roupa adequada para usar. “Há casos de patrões que podem dar uma resposta mais ríspida e eles como estão numa situação de fragilidade ficam muito magoados, viram as costas e vão-se embora”, conta o mesmo Américo.
Um restaurante com psicólogo
A conversa com Américo Nave vai decorrendo quando uma rapariga muito morena, de jardineiras, se junta à troca de ideias. “Esta é a Alexandra, a nossa psicóloga”, explica logo o mentor do projeto. “Já trabalhava com a Crescer há algum tempo, estive a acompanhar mais de perto o trabalho que fazem com refugiados, principalmente”, conta a jovem. Américo já tinha dito meio a sério meio a brincar que este seria um dos únicos restaurantes do mundo com psicólogo e que esse papel iria ser assumido pela pessoa que agora ia falando. Os pormenores sobre a sua atuação, porém, é que só foram sendo esclarecidos pela própria: “Eu estou acompanhar estas pessoas desde o dia zero”. Parte de todo este É Um Restaurante envolve várias etapas de formação e uma delas foi feita junto de um dos 15 parceiros da iniciativa, a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, que deu umas breves aulas sobre a área. “Eu estive junto deles nessas aulas, também”, conta.
O seu entusiasmo pela iniciativa é notório, não perde tempo a contar que tudo isto “é uma experiência espetacular” e que todos estão “a aprender a lidar com uma série de coisas novas.” Todo o processo é facilitado pelo conhecimento que a Crescer já tinha ao lidar com pessoas e situações deste tipo mas mesmo assim não é tudo tão fácil como parece. O acompanhamento de extrema proximidade é chave para o sucesso de tudo isto mas há sempre obstáculos difíceis de ultrapassar.
“O maior receio que eles tinham no início, parece-me, era o não acreditarem que tinham competências necessárias para fazer um bom trabalho. O medo da não aceitação tinha um peso considerável”, explica Alexandra. Felizmente vive-se um clima de confiança e abertura entre os envolvidos e isso está a facilitar todo o processo e normal funcionamento. Sobram apenas “arestas” mais práticas para limar, coisas como a necessidade de “clarificar o conceito de grupo, o trabalho em equipa e tudo aquilo que isso requer”, por exemplo, que foi uma dos desafios identificados, a par da falta de confiança no próximo, efeito secundário de uma vida na clausura da droga, álcool ou falta de casa.
Bergonse, que também faz parte do grupo onde a conversa vai fluindo, acrescenta que tudo isto, a vida no isolamento, acaba por ser traduzido numa “inexperiência emocional tão grande que a maneira como se comportam em sociedade fica completamente diferente”, afinal falamos de pessoas “que estão há 5 ou 10 anos desligadas do mercado de trabalho, de relações, de compromissos… Estão desapegadas”. “No fundo é preciso haver um aprendizagem. Isto é um restaurante mas também um projeto de apoio social.”, conclui Américo.
Todos para a mesa
Aos olhos do público este É Um Restaurante funciona como qualquer outro espaço dedicado ao mundo da restauração. A sala de refeições tem capacidade para 28 pessoas e a comida pretende ser simples, mas não em demasia. Ao Observador o chef Nuno Bergonse afirma que o seu envolvimento no projeto começou cedo — “acompanhei todo o processo da obra e planeei a reestruturação do espaço, que estava fechado e abandonado há vários anos, precisava de levar uma volta” — mas faz questão de frisar que este não é um restaurante seu mas sim um projeto social com o qual está “envolvido enquanto consultor, mentor, embaixador.” Irá visitá-lo regularmente mas o responsável que estará lá todos os dias é David Jesus, o chef-executivo escolhido por Bergonse para o representar. “A carta foi feita em conjunto e vamos estar sempre em contacto#, explica o jurado do Master Chef Portugal que tem uma visão bastante firme daquilo que pretende para o futuro:
Nós não queremos que isto seja o restaurante do coitadinho, queremos um espaço que seja um projeto social mas de onde qualquer pessoa pode sair com a sensação de que teve uma boa refeição, com vontade de voltar. Não queremos que seja um espaço pretensioso, de todo, mas também não queremos ficar pelo bitoque. Será uma cozinha de partilha e conforto, algo que estas pessoas precisam. Sabores fáceis, nada de combinações excêntricas.
As ambições gastronómicas são “muito altas” mas há uma tranquilidade que os faz querer seguir em frente, “dispostos a assumir os riscos” inerentes a todo este projeto. Quais são eles, então?
No total, Bergonse diz ter entrevistado 100 pessoas em situação de sem abrigo, todos eles possíveis candidatos a fazer parte da equipa do É Um Restaurante. “O primeiro contacto foi muito duro. Posso dizer que no primeiro dia de entrevistas falei com umas dez ou quinze pessoas e depois, quando fui de mota para casa, estive o caminho todo a chorar”, começa por revelar. Por muito que exista algum sensibilidade mais ou menos generalizada para com a comunidade sem abrigo a verdade é que num nível semelhante (ou maior) há ainda muita desinformação — “pré-conceitos”, como diz Bergonse. Como é que uma pessoa vai parar às ruas, por exemplo? “Eu associei esse desfecho sempre a problemas de álcool, drogas ou outra dependência qualquer, tinha esse pré-conceito e acho que a maior parte das pessoas também o tem. A verdade é que falei com pessoas que nunca tocaram num cigarro, nunca consumiram rigorosamente nada, e vieram parar à rua por motivos completamente diferentes — depressões, separações ou divórcios que levaram a rejeições familiares… há de tudo”, explica.
Ainda antes de Jesus ingressar na equipa Nuno fez questão de entrevistar todos os candidatos, um a um, sozinho, para perceber aquilo com que iria lidar. “Nas entrevistas fiz questão de fazer perguntas mais duras e diretas. Se consomem drogas, onde estão a dormir, como vieram parar à rua… Para o projeto funcionar precisávamos de fazer uma radiografia às pessoas e tive de senti-los de perto”, conta. Em conversas anteriores com Américo e outros membros da Crescer chegou à conclusão de que por agora se iria privilegiar “casos menos dramáticos”, situações onde desse para “sentir nos olhos a vontade que cada um tinha em mudar de vida.” A questão das drogas foi sempre uma grande preocupação, mesmo assim.
Das pessoas que vão aqui estar, 60% ou 70% estão a tomar metadona ou a fazer outro tipo de tratamentos. Preocupava-me ter alguém que pudesse estar a consumir drogas pesadas. Há quem beba álcool mas os casos que temos aqui parecem-me contornáveis. Não há ninguém a consumir drogas pesadas.
Partindo daqui o processo simplificou-se. No total, conta Américo, a equipa de sala e cozinha vai ser composta por 12 pessoas que vão rodar de seis em seis meses. Todas elas começam por fazer um curso de formação na Crescer (“algo mais na área do comportamento e das relações interpessoais”) e só depois partem para Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, onde terão um treino intensivo de “pouco mais de um mês”. A formação “on job” durará apenas 6 meses por uma razão simples: se isto é suposto funcionar quase como uma escola os alunos hão de chegar a um ponto onde têm de seguir em frente. “A ideia é que possam integrar outros restaurantes como estágios profissionais” e eventualmente culminar com um emprego fixo. “O grande objetivo será depois ajudá-los a entrar noutros restaurantes enquanto profissionais formados e competentes. Eles não querem ser ajudados sem dar nada em troca e isso é muito importante”, remata David Jesus. Nestes primeiros meses o objetivo vai ser estar aberto ao jantar, apenas, mas só quando David e Nuno (nunca tinham trabalhado juntos, David é que fez de tudo para entrar em contacto com ele mal soube que este procurava ajuda para este projeto) perceberem que a equipa está bem oleada e experimentada, “lá para janeiro ou fevereiro”, é que vão atirar-se aos almoços.
Segundas oportunidades
É com alguma timidez que Carla Oliveira (44 anos) se apresenta ao Observador. De vestido cor de rosa e com uma mochila às costas estica a mão para um cumprimento mas mantém uma cara séria, profissional. Esta antiga empregada no Ministério da Educação é uma das pessoas que fará parte da equipa de cozinha do É Um Restaurante. No dia anterior a esta conversa tinha acabado de sair de “uma comunidade” onde passou uma temporada. Foi lá que lhe falaram deste projeto: “Saí com alta clínica e eles lá arranjam-nos um trabalho, sítio para ficarmos (caso não tenhamos) na altura de sair. Há uma espécie de preparação para o mundo do trabalho. Falaram-me deste projeto, fiquei interessada, fui a uma entrevista com a Alexandra e pareceu-me ser uma coisa muito boa, com futuro”, explica.
Esta é a história simples da sua entrada no projeto da Crescer, acesso esse que foi ainda mais facilitado pelo facto de conhecer a área, já que tinha em tempos tirado “o curso de cozinha, bar e atendimento hoteleiro”, mas não o punha em prática “há dez anos” e isso, claro, levou-a a sentir-se “um pouco enferrujada”. “Felizmente a cozinha é como andar de bicicleta, volta tudo ao lugar num instante”, confia Carla, que solta um “Graças a Deus” antes de explicar que neste momento tem uma casa, apesar de a sua história de vida estar marcada por inúmeras dificuldades causadas pela adição. Essa fase mais negra já ficou para trás e este projeto é para si uma oportunidade de continuar o caminho rumo à re-integração total.
Para mim foi bom entrar nesse projeto porque no mundo da droga (eu já não consumo há 17 anos e já não bebo há três) não temos amigos. Não conseguimos arranja um amigo sincero porque se “tiveres” és bem vindo, se não pões-te a andar. Por isso isto acaba por ser como fazer amigos outra vez, como ter outra vez aquela sensação de ter alguém com quem falar e passear. Essas coisas todas que os amigos fazem. Ter uma vida normal. Estou a conseguir.”
“Seguir com a vida para a frente é o que muita gente precisa”, diz de forma assertiva. Conhecedora das dificuldades que muitos dos trabalhadores do É Um Restaurante já enfrentaram, não vacila ao dar a sua visão daquilo que considera estar mal. “A habitação é essencial para um ser humano. Todos devíamos poder ter a nossa casinha”, explica. É precisamente a falta de habitação que considera ser um dos principais problemas para “muita gente que se quer erguer e não tem como”, é por isso que “faz muita falta haver mais projetos deste género.”
A história de Alexandra Peralta (40 anos), é diferente da de Carla. As duas são futuras colaboradoras desta iniciativa da Crescer mas a luta de Alexandra contra a adição ainda está mais fresca na sua história de vida. “Estava a morar em Alenquer quando tive uma recaída”, conta. O episódio que vai relatando à porta do seu futuro local de trabalho passou-se há pouco mais de um ano. “Decidi vir para Lisboa e pedir ajuda à minha família para voltar a afastar-me da droga, mas não me ligaram nenhuma.” Foi por causa disto que se viu obrigada a ir viver para a rua — mas sem nunca deixar de trabalhar.
A vida de uma pessoa em situação de sem-abrigo costuma quase sempre envolver o desemprego mas há exceções. “Trabalhava na cantina de uma associação mas ninguém sabia que eu morava na rua”, conta. Esta espécie de vida dupla foi-se tornando parte normal do seu dia-a-dia. Andava “um quilómetro todos os dias de manhã” para poder comer e ir tomar banho, partilhava viagens de autocarro com as colegas praticamente todos os dias, fazia uma vida aparentemente normal, pelo menos aos olhos de quem trabalhava consigo. Mas a charada exigia muito jogo de cintura para não se desmoronar. “Dizia sempre que não quando me ofereciam boleias para casa e quando íamos de autocarro saia sempre na paragem antes da minha, para que não percebessem onde morava.” Se dúvidas existissem do intenso desgaste que uma vida destas traz consigo, a situação só piora por sempre saber que nunca poderia ser transparente.
Não podia dizer que morava a rua. Montes de vezes apanhava as minhas colegas a falar ‘desses carochos que andam na rua’ e que não queriam trabalhar. Se eu lhes contasse da minha situação, as coisas não iriam correr bem.”
“Felizmente” cruzou-se com este projeto e desde cedo percebeu que ele podia ser a chave para recuperar a sua independência total. Neste momento não mora na rua mas faz parte do grupo de empregados do É Um Restaurante que está a receber tratamento de metadona. “Quero voltar a ter a minha vida normal, conseguir dar boas condições à minha filha de dois anos”, explica. A descriminação de que foi alvo, por muito que tenha sido de forma indireta, é na opinião da psicóloga do projeto uma das coisas que neste É Um Restaurante não existe e, por isso, facilita a integração: “As pessoas já nos conhecem e nós também sabemos quem elas são, as condições e problemas que têm. Não há necessidade de esconder ou mentir, é um clima de abertura total.”
O que reserva o futuro?
A tarde começa a assentar, o calor diminui e a intensidade do sol fica menos intensa. Já quase no final da conversa é impossível evitar a pergunta sobre o medo de que alguma coisa corra mal. “A nossa preocupação é só uma: se o projeto falhar tem de ser por culpa nossa e não destas pessoas. Nós é que as estamos a trazer para cá e a expo-las. Se correr mal tem a ver com a Crescer”, diz imediatamente Américo. Juntar o mundo da restauração com o da reinserção social pode parecer simples mas na verdade é uma junção com vários elementos que podem pôr em causa o sucesso da meritória missão. Américo explica que o trabalho dos chefs Bergonse e Jesus foi a forma de se conseguir lidar com situações deste género — “eles têm uma longa experiência e todo o know how para que tudo corra bem”.
“Todos sabemos que a hotelaria e restauração são meios propícios para que o consumo de drogas aconteça, bem como o abuso do álcool e a existência de conflitos, tudo situações que estas pessoas conhecem demasiado bem”, explica David Jesus, acreditando que esse cenário é também um capital de experiência para lidar com possíveis situações do género. O principal, resume Américo, lembrando que “a fronteira entre estar e não estar em situação de sem abrigo é mais ténue do que parece”, é que o conceito faça o seu caminho e possa inspirar o nascimento de modelos de funcionamento semelhantes.