O presidente do Partido da Terra (MPT) afirma-se como o único interlocutor para as questões climáticas em Portugal e acusa os outros partidos de abordarem o tema de forma oportunista e a pensar nos votos. Em entrevista à agência Lusa no âmbito das legislativas de 6 de outubro, José Inácio Faria recorda que o MPT tem uma história de defesa do ambiente que conta já com 26 anos.
“Não somos eco-friendly nem eco-oportunistas, como alguns serão”, disse, sublinhando que o partido “desde sempre teve o pilar da ecologia e humanismo muito vincados na atividade política local, nacional e internacional”.
A recuperar de uma crise interna que recentemente terminou quando o Tribunal Constitucional reconheceu José Inácio Faria como presidente da Comissão Nacional, o Partido da Terra concorre às eleições legislativas de 6 de outubro e, caso consiga assento parlamentar, já tem as prioridades definidas.
[Se fosse eleito] passava à ação, não só dentro da Assembleia da República. Um mal que este país tem é que os assuntos são debatidos única e exclusivamente dentro da Assembleia da República, mas sem uma relação com a realidade fora” do parlamento, sustenta.
Com assento parlamentar, o MPT começará por “saber ao certo o que se passa, por exemplo, com o Observatório Nacional contra a Desertificação, criado em 1999”.
“Está parado? Porquê? O plano nacional de combate nacional contra a desertificação não se entende. O Tribunal de Contas já veio chamar a atenção de que não há qualquer trabalho que possa ser medido por parte do observatório seja pelas autoridades responsáveis pelo plano de ação nacional”, disse.
Segundo José Inácio Faria, a desertificação “afasta as populações, porque o interior deixa de ter capacidade de sustentabilidade da vida, mas não se fala nisso”.
“Em quatro anos de legislatura falou-se uma ou duas vezes, alguns partidos, sobre a desertificação. O assunto é falado, é discutido e posto de lado”, refere. E avança: “Gostaria que os partidos que defendem o combate às alterações climáticas dissessem o que sabem sobre o cultivo intensivo do olival no Alentejo, as barragens, o excesso de utilização de água. Não conhecem. Falam sentados nas poltronas do Parlamento, mas depois não têm ligação com as localidades locais”.
“Onde estavam os partidos com assento parlamentar – que têm uma disposição que os outros partidos não têm, porque têm os apoios que os outros partidos não têm – nas grandes ações de alterações climáticas pelo mundo inteiro e em Portugal também: Almaraz, Retortillo [extração de urânio], Peneda-Gerês, a exploração de lítio que se pretende fazer, a exploração de petróleo offshore. Falam agora, a dois anos das eleições, sobre as questões das alterações climáticas”, questiona.
Por isso, considera que “o ambiente não é só as alterações climáticas”, embora o chavão do clima se tenha tornado “moda”. José Inácio Faria garante que anda pelo terreno e que o partido é isso que faz desde que foi criado, em 1993, pelo arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles, presidente honorário do MPT.
Reconhece uma natural evolução: “Talvez o primórdio do humanismo tenha sido aperfeiçoado”, mas “o pilar que mais tem sustentado a atividade política do partido tem sido a ecologia e o humanismo”.