Encostada à Amazónia, uma outra região do Brasil, que alberga 5% das espécies de animais e de plantas de todo o mundo e um armazém de carbono, está a ser destruída a um ritmo ainda mais rápido.

O Cerrado é a região com a maior diversidade de fauna e flora no mundo, sendo composta por zonas de savana, campo e floresta, que se estendem por cerca de 200 milhões de hectares.

“É estimado que o bioma tenha 837 espécies de pássaros, 120 de répteis, 150 de anfíbios, mais de um milhão de peixes, noventa mil insetos e 199 tipos de mamíferos,” disse Mercedes Bustamante, uma bióloga da Universidade de Brasília, à CNN.

Mais de 4.800 espécies são endémicas, incluindo lontras gigantes, antas e jaguares, e metade das mais de onze mil espécies de plantas encontradas no Cerrado não podem ser encontradas em mais nenhum lugar no mundo, segundo a World Wildlife Foundation.

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O Cerrado representa metade do tamanho da Amazónia e 50% está desflorestado, de acordo com Edegar de Oliveira Rosa, diretor de Conservação e Restauro dos Ecossistemas da WWF-Brazil. “Estamos a perder 700 mil hectares por ano”, afirmou à CNN.

Tal como na Amazónia, os habitats no Cerrado estão a ser destruídos pela procura global de carne. As áreas verdes são transformadas em terrenos para gado e, mais tarde, convertidas em campos para cultivo de soja que é usada para alimentar esse mesmo gado ou exportada para outras partes do mundo.

A desflorestação não é novidade e não acontece apenas no Brasil. Mas a procura por carne tem vindo a aumentar e a China serve-se da soja do Brasil numa altura em que trava uma guerra comercial com os Estados Unidos. Perante este cenário de um boom agrícola no Brasil, especialistas mostram-se apreensivos, pois creem que os habitats do Cerrado são o preço a pagar por esta situação.

“Já não sobra muito mais do Cerrado” disse Toby Gardner, diretor da TRASE, uma iniciativa que analisa a transparência das cadeias de fornecimento de bens, à CNN. “O Cerrado está muito mais ameaçado, com três vezes mais perdas que a Amazónia”, acrescentou.

A região do Cerrado representa também uma ameaça no que se refere a alterações climáticas, por ser armazém de uma grande quantidade de carbono no subsolo.

Num relatório recente, a Greenpeace sugere que a vegetação que ainda se mantém é um armazém de carbono equivalente a 13.7 gigatoneladas de dióxido de carbono. Mas a capacidade da vegetação em absorver o carbono pode estar em risco por causa da ação humana.

A desflorestação e a agricultura incentivam o aquecimento global através do enfraquecimento da capacidade da terra de absorção do dióxido de carbono da atmosfera, emitindo grandes quantidades de gases de efeito de estufa.

“O clima não tem fronteiras. Os efeitos na biodiversidade, a extinção de espécies, a emissão de carbono, o desmatamento e os incêndios, agravam a crise climática que nos afeta a todos”, afirma Daniela Montalto, uma representante da campanha sobre florestas da Greenpeace, à CNN.