Projetores com luzes azuis na fachada, carros em cima dos passeios e a Jota Pê a afinar as vozes que andaram mortiças durante o dia. Só isto bastava para ver que o jantar-comício no restaurante Eugénios — local mítico para o CDS em Famalicão — era “o” evento do dia do CDS. Nuno Melo apareceu para dizer “duas ou três coisas” e ficou 25 minutos a alertar para o risco de uma espécie de nova ‘asfixia democrática’. Na sua terra, Melo dramatizou e disse que o que está em jogo nas eleições é respirar “ar puro”, “uma democracia livre, capaz, plural, que dê voz a todos”, que impeça que exista uma “mordaça para quem é de direita”.

Antes disso, houve confetis quando a líder entrou na sala, cânticos sincronizados ao ‘Guima’ — Francisco Laplaine Guimarães, o número dois da Juventude Popular de Chicão — e uma Cristas confiante que trocou o blazer vermelho que usou todo o dia, por um blazer azul CDS. Melo entrou logo atrás de Assunção e decidido a fazer estragos. O antigo cabeça de lista do CDS sugeriu que parte da imprensa não é livre e que há jornalistas que escrevem condicionados pela pressão de superiores hierárquicos. Nuno Melo diz ser defensor da “imprensa livre” , mas que a “imprensa não é livre quando privilegia, quando toma partido. E há muita imprensa que toma partido e condiciona por isso os resultados eleitorais”.

Para Melo não existe uma “crise da direita” — como disse Marcelo Rebelo de Sousa –, mas sim “uma grande falta de imparcialidade na política“. Lembrou depois os debates e disse que “não é preciso ser do CDS para saber que a Assunção Cristas ganhou praticamente todos os debates em que entrou“, mas que não foi isso que os comentadores vaticinaram nos “debates que se seguiram aos debates”. Minutos depois, sem ter essa intenção, o cabeça de lista pelo distrito de Braga e seu amigo, Telmo Correia, acabou por contradizer Melo dizendo que foram vários os comentadores a dar a vitória a Assunção Cristas “de Júdice a Mendes”, como se falasse de um espectro político diversificado.

Nuno Melo decretou ainda o fim do voto útil, que deixou de fazer sentido com a “geringonça”:” O que está em causa é a disputa entre o CDS e o PSD. O que está em jogo é saber se CDS e PSD têm mais um deputado juntos que os outros partidos. Ninguém se deixe mobilizar, condicionar, que as sondagens são o que são e tendem a apontar para uma bipolarização que dá muito jeito [a PS e PSD]“.

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O partidos mais pequenos também não foram poupados por Nuno Melo, que aí teve o cuidado de sublinhar que o que estava a dizer só o vinculava a ele próprio. Bateu no Aliança e na Iniciativa Liberal de várias formas. “Os partidos que surgem com discurso de novidade só fragmentam o espaço à direita e fortalecem a esquerda. Nenhum dos partidos novos beneficiou fosse quem fosse e com mais 20 mil votos Pedro Mota Soares tinha sido eleito [nas europeias].

Num discurso marcadamente ideológico, Melo praticamente colou os partidos da esquerda a um passado anti-democrático: “Quando o PCP, o PSR e a UDP, que são agora o Bloco de Esquerda, lutavam neste país pela instalação de uma ditadura, o CDS era pela democracia; Quando invadiam propriedades, o CDS defendia a propriedade privada; quando nacionalizavam empresas, o CDS defendia a iniciativa privada”. E percorreu várias áreas onde acredita que isso acontece, acusando a esquerda de querer “impor uma doutrina de género, de ter o dinheiro do estado português a doutrinar sobre a ideologia de género nas escolas.”

Cristas na defesa da liberdade de escolha entre público e privado

Num evento para demonstrar força, houve speaker, que já perto das onze da noite, logo após ser servida a sopa fez a chamada: “Mãe exemplar, académica brilhante, política séria, líder da direita portuguesa… Assunção Cristas”. A líder do CDS defendeu que o CDS é a verdadeira “alternativa para o país” já que é o único que é claro quanto a que “partidos está disponível para se coligar após as eleições”, fator que passou a ser determinante depois de novembro de 2015. E aproveitou para voltar a falar do primeiro-ministro que “perdeu as eleições”.

No distrito de Braga, Cristas condenou a “pura opção de esquerda” que pôs fim ao contrato de um hospital (PPP de Braga) que “poupou 80 milhões de euros”. Tudo por “pressão da esquerda”. A líder do CDS ganhou então balanço para defender a “liberdade de escolha” em áreas como a saúde ou a educação. E acrescentou: “Quem decide a vida são as pessoas, não é o Estado que impõe determinados caminhos”.

Cristas avisou ainda para os perigos de “um PS com maioria absoluta”. “Se sem ela, já governa como governa, como será se houver maioria absoluta?”, perguntou.

No final, o chão da sala ficou cheio de estrelas e corações brilhantes, qual fim de festa de passagem de ano. Um Famalicão show à maneira do CDS para fazer um equilíbrio noturno depois de um começo de dia difícil, em terra hostil, no Barreiro.