Passava das 19h40 quando a caravana de Rui Rio chegou ao “Feito ao Bife”, um restaurante “terraza”, no centro de Évora, onde estava previsto um “sunset” de convívio com militantes. Problema: o sol põe-se às 19h20. Rui Rio perdeu o sunset, é certo, mas foi a tempo de ouvir o grupo “Era uma vez o cante”, que tinha preparado duas canções para o líder do PSD. Rio até tinha prometido não discursar, ou pelo menos, não fazer nenhuma intervenção “política” no palanque, para a música ser a última coisa a ficar no ouvido, mas não resistiu a garantir aos militante de Évora que se vai bater pelas suas convicções, mesmo que isso não dê votos: “Posso cair, mas se cair, caio de pé, não dobro”.
Música, de resto, foi o que não faltou neste segundo dia de campanha oficial da caravana laranja. Houve tuna, houve cante e até os jovens da JSD que acompanham a comitiva se mostraram particularmente inspirados durante a “arruada” que partiu do Templo de Diana para a Praça do Giraldo. “Anima-te/Motiva-te/Não ligues às sondagens/Tens uma vitória para conquistar./Vais ganhar/É real/Governar o nosso Portugal/Vai Rui Rio/Vai Rui Rio”, cantavam os jovens sociais-democratas, numa adaptação do mais recente hit de Toy.
Rui Rio ria-se a cada verso, aplaudiu os cantantes, e até traçou a capa de um estudante para se juntar à tuna. A pedido de Maló de Abreu, homem forte de Rio e diretor operacional de campanha, até se juntou aos estudantes de Évora para ensaiarem um “FRA”, o grito académico de Coimbra. “Não me peçam é para cantar”, confessou no fim ao grupo de cante alentejano. Cantar não cantou, mas lá se balançou ao som dos versos.
Sem os habituais comícios de fim de dia, nem sequer uma “talk” ou tertúlia, este segundo dia de campanha deveria terminar sem qualquer intervenção política do candidato. É uma campanha atípica, é certo. Rui Rio não se cansa de dizer que está a fazer uma campanha diferente, sem gritaria nem ataques cerrados aos adversários. Esta tarde, durante um curto passeio de barco pelo Alqueva, ainda foi desafiado a comentar a necessidade de mais barragens, mas desviou a resposta: “Já sei onde quer chegar, quer que eu me meta com a Catarina Martins, mas não vale a pena”.
Dia musical na campanha do PSD. Rui Rio cantou ao lado da Tuna da Universidade de Évora, e depois foi recebido por um grupo de cante alentejano. Até os jotas ensaiaram repertório novo #legislativas2019 pic.twitter.com/MjBFNxgal5
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 25, 2019
Valendo ou não a pena, a verdade é que Rio passou o dia a comentar declarações dos adversários, nomeadamente de Mário Centeno, que no comício socialista da noite passada tinha criticado o PSD por “efabular” com um perigoso choque fiscal. De Mário Centeno, Rui Rio não aceita lições, porque, diz, ainda o ministro das Finanças “não tinha nascido” e já ele andava a lutar pelo rigor nas finanças públicas.
A caravana segue, e Rui Rio insiste que está a inovar no modelo, ao deslocar-se aos distritos do país mais para “ouvir as reivindicações” dos eleitores do que para entrar na “gritaria” “lúdica” da campanha. Não sabe se é o melhor modelo, mas sabe que pior também não é de certeza. “Não sei se estamos a fazer da melhor maneira, mas sei que não estamos a fazer da pior, que é continuar a bater como se fazia desde há 40 anos”, disse a dada altura num almoço com empresários em Beja.
Reformadas pedem que não corte reformas e Rio diz que reposição dos cortes já foi feita
Até no teor do contacto com a população, Rui Rio faz diferente. Esta quarta-feira, quando andava pelas ruas de Évora rodeado de “jotas”, a distribuir lápis e a cumprimentar a população, o líder do PSD deparou-se com um grupo de três senhoras reformadas, que lhe pediram para não cortar nas reformas ou, pelo menos, para devolver o que lhes foi tirado. Foi aí que Rui Rio as descansou porque esses cortes já foram repostos.
“Isso já foi dado [os cortes], e se lhe foi tirado é porque a sua pensão não era assim tão baixa quanto isso, porque as mais baixas não foram cortadas”, disse Rui Rio enquanto distribuía mais uns lápis — não canetas, para evitar o plástico.
Sem sunset, também não deveria haver discurso. Pelo menos era o que estava combinado com a comitiva. Mas quando subiu ao palanque montado no terraço do “Feito ao Bife”, Rui Rio não resistiu a deixar umas mensagens aos militantes do Alentejo muitas vezes esquecido, para que não restem dúvidas: “Sei que onde há mais votos é em Lisboa e Porto, mas temos de ter coragem de fazer investimentos onde eles são necessários, e muitas vezes, onde são necessários é onde há menos votos”, começou por dizer.
A mensagem era a de político-sério-que-coloca-os-interesses-do-país-acima-dos-interesses-pessoais-ou-do-partido. “Temos de pôr à frente as nossas convicções e o que é justo, e não o que dá mais votos. Temos de explicar que estamos a querer ser justos, e não eleitoralistas. Quando eu acredito que tem de ser, eu faço. Posso cair, mas quando caio, caio de pé, não dobro”, disse. Tudo em nome das convicções, e não dos votos.
Quanto aos votos, é outra história. Rio quer um “resultado honroso”, disse. Mas depois corrigiu: “a vitória”. “Queremos a vitória para contrariar o rumo do país liderado pela ala esquerda do PS, que pouco se distingue do que é o Bloco de Esquerda”. Esta quarta-feira, em Évora, até teve um incentivo da Madeira. Guilherme Silva, ex-deputado e ex-líder parlamentar apareceu na arruada para enviar bons ventos. “Como ganhámos na Madeira vim aqui dar uma ajuda. Não será uma maioria absoluta, mas vamos ganhar”, disse.