A sessão pretendia demonstrar a eleitores quais as respostas no programa do CDS que garantem a “liberdade de escolha em todas as gerações”. Embora em Leiria os centristas tenham mobilizado pessoas com histórias verdadeiras, talvez a liberdade de escolha não se tenha estendido às perguntas, que estavam já todas previamente escritas em pequenos papéis nas mãos de quem questionou a líder. E todas elas encaixavam em propostas específicas do programa do CDS em que o partido tem insistido. Ao fim de meia hora, lá saiu uma pergunta final de improviso, sobre Tancos, à qual Cristas respondeu que a situação é “uma telenovela, uma série da Netflix, que já vai na terceira temporada“.
O ex-líder Paulo Portas ainda não esteve com a líder por falta de agenda, o ex-líder Manuel Monteiro incomodou com a reinscrição no partido (ainda “há feridas por sarar”, viria a admitir mais tarde na entrevista à RTP) e agora apareceu José Ribeiro e Castro, crítico da direção de Cristas. Ribeiro e Castro foi a Leiria porque é amigo de longa data da candidata do distrito, Raquel Abecassis, mas nem fez um esforço para elogiar a líder do partido. “Já cá tinha estado na apresentação de candidatos calado. E hoje estou aqui falado”. Fez rasgados elogios a Raquel Abecassis, mas para Assunção Cristas nem um elogio de circunstância.
Ribeiro e Castro tinha explicado que quando se dirige aos convencidos não diz onde as pessoas devem votar, mas convida-as a “tomar a decisão por si”, dando duas razões: as características das pessoas e as ideias dessas pessoas. Nem num nem noutro caso deu o exemplo da líder. A líder do CDS ouviu ainda Ribeiro e Castro dizer que “se votasse em Leiria não teria dificuldade” em votar no CDS e em eleger Raquel Abecassis como a sua “candidata.” Já sobre Lisboa, onde vota e onde a cabeça de lista é a líder, voltou a ser omisso.
Assunção Cristas não deu parte fraca, e fez questão de agradecer a presença de Ribeiro e Castro: “Obrigada Zé, por estar aqui connosco.”
Tancos na Netflix
À mesma hora que Tancos azedava a relação entre Rio e Costa, Assunção Cristas voltava a falar do assunto para dizer que este caso é uma “série da Netflix que já vai na terceira temporada” e que prova que “o tempo deu razão ao CDS“. Isto porque, lembra Cristas, “se não fosse o CDS, a questão não tinha sido discutida no Parlamento numa comissão parlamentar de inquérito (CPI)”. A líder do CDS diz que, apesar da esquerda ter tentado branquear o envolvimento do governo, os deputados enviaram para o Ministério Público toda a informação recolhida e “logo a seguir o tempo deu razão ao CDS”.
Cristas disse ainda que “para o CDS não foi uma surpresa a existência de responsabilidade políticas”, mas adverte que “há dados novos”, como o facto de haver “um ministro que foi ao Parlamento prestar declarações falsas e um deputado que sabia do encobrimento por troca de informações com um ministro”. Por tudo isso, Cristas exige “explicações ao primeiro-ministro”. A líder centrista aproveitou assim para reclamar créditos para o partido: “Ainda bem que existe CDS, não teríamos Comissão Parlamentar de Inquérito.”
Perguntas à medida do programa
Quanto à sessão de perguntas, à medida do programa do CDS, a primeira foi sobre dois exemplos onde não existe “liberdade de escolha”: “Todos os alunos do país têm direito a manuais escolares gratuitos. Toda a gente sabe disso, mas isso não é verdade. Todos têm direito, mas não têm. Só os do ensino público é que têm. Os alunos do privado não têm, são portugueses de segunda“. Cristas concordou e explicou que o CDS reivindica isso mesmo e classificou de “gravíssima inconstitucionalidade” o facto de os alunos dos colégios privados não terem também manuais gratuitas.
Depois houve uma pergunta sobre cuidadores informais, para a candidata poder explicar tudo o que o CDS já fez e quer fazer nesta área. Seguiu-se Rafael Simões, de Alvaiázere, que colocou a Cristas a problemática de um jovem que, se trabalhar sazonalmente, pode fazer o agregado perder apoios. Cristas lembrou então o que o CDS tem no programa: “Propomos que o trabalho em part time para pessoas que estão num agregado familiar não conte até um determinado valor.”
Depois foi a vez da Liliana questionar Cristas sobre as medidas para as crianças, um habitante do Bombarral questionar Cristas sobre a desburocratização dos programas de candidatura a fundos comunitários ou uma habitante do Souto da Carvalhosa cuja nora gasta 100 euros de gasolina para ir trabalhar. Assunção Cristas (e o programa do CDS) tinha, sem surpresa, resposta para tudo.