É a terceira vez este ano que Rui Rio está na Quinta da Malafaia, o famoso arraial minhoto que se realiza em Esposende, Braga. Por isso, quando sobe ao palco e pega no microfone, faz um ponto prévio, não vá desiludir ninguém: “Desta vez, não venho para tocar bateria”. Desta vez, Rui Rio vem mesmo para fazer política. Bingo! Estamos na reta final da campanha eleitoral e já cá faltava um comício político à boa maneira das campanhas eleitorais. E não desiludiu: atacou o PS, que “se comporta como se fosse dono do Estado”, atacou o governo do PS, que “degradou os serviços públicos” como nenhum outro, atacou António Costa, já que “desde Afonso Henriques até António Costa, nunca os portugueses pagaram tantos impostos”, atacou Mário Centeno, que está a fugir aos debates com os Centenos do PSD. E nem Carlos César, “campeão” do familygate escapou.
“O PS entra no Estado e comporta-se como se fosse dono do Estado, coloniza com boys e girls do PS, e agora até chegou ao ponto em que não o faz só com militantes, mas faz também com a família. E aí, Carlos César é o campeão a conseguir meter os seus familiares nos órgãos públicos”, disse, apontando estas como as principais características do PS a governar, que se diferenciam das características do PSD se puder governar, diz Rio.
Rui Rio quer chegar a domingo e ser o Famalicão, que lidera a Primeira Liga de futebol, e por isso, embalado pela sondagem desta segunda-feira que reflete o efeito da bomba Tancos, fez um discurso de 21 minutos em que não poupou ninguém.
À medida que falava, e a cada ataque que disferia, a banda da Malafaia, vestida a rigor com trajes minhotos, interrompia o discurso para cantarolar uns versos de incentivo. Com Rui Rio a governar/ Portugal vai melhorar/ Rui Rio no coração/Para o bem da nação. Com Rui Rio, Portugal nunca mais será igual. As palmas dos militantes laranja que encheram a quinta confundiam-se com os versos que serviam de interlúdio do discurso político. Rio parava, deixava os versos e as palmas respirar, mas não se perdia no raciocínio.
Era o primeiro discurso político da campanha — já que até aqui, os serões da caravana social-democrata eram preenchidos com “talks”, sessões de conversa pré-fabricada com militantes que se centravam mais nas propostas do programa do PSD do que propriamente na política pura e dura — e, sendo o primeiro discurso político da campanha, estava pensado ao pormenor. “Onde é que está a onda laranja?”, perguntava o speaker ao microfone, para uma casa cheia (a organização fala em 2.500 pessoas) de militantes e simpatizantes com bandeiras laranja na mão e autocolantes ao peito, que eram distribuídos à entrada.
Sobe, sobe, Rui Rio sobe. Sobe ao carro, sobe à varanda e sobe nas sondagens
Se o PSD governar, quem vai mandar na Saúde é o ministro da Saúde (não o das Finanças). Promessa feita
Vinte e um minutos foram suficientes para desferir golpes e para vincar que a forma como o PSD se propõe a governar é diferente da forma como o PS governa. Desde logo no que aos serviços públicos diz respeito. “Se com o PS de José Sócrates foi o descalabro das finanças públicas, com António Costa é o descalabro nos serviços públicos”, disse, apontando a saúde como o principal problema. “Todos sabemos o que aconteceu ao SNS nestes quatro anos, houve uma degradação brutal, e aqueles que mais sofrem são os que menos dinheiro têm. Quem não tem de esperar meses ou anos por uma consulta ou uma cirurgia, se não morre, sofre muito”, ia dizendo, para a seguir fazer uma promessa.
“Garanto que se ganharmos e fizermos governo, quem vai mandar no Serviço Nacional de Saúde vai ser o ministro da Saúde, não o ministro das Finanças. Porque com este governo, o verdadeiro ministro que plantou o caos na saúde foi o ministro das Finanças, não foi o da Saúde”, disse, atirando a Mário Centeno pela “centésima” vez desta campanha.
Antes, Centeno, que esta segunda-feira fez uma conferência de imprensa a desmontar as contas “materialmente impossíveis” do PSD, já tinha sido acusado de estar a fugir aos debates com os “Centenos do PSD”. “Propusemos um debate entre o nosso homem das Finanças e Mário Centeno, para que ele se explique e para que nos possamos explicar, mas Mário Centeno disse que não debatia com ninguém que não fosse candidato a deputado”, começou por dizer Rui Rio, lembrando depois que o PSD se apressou a dar outro nome para Centeno debater — Álvaro Almeida –, ele sim candidato a deputado, garantindo que tem muitos mais caso o ministro das Finanças continue a recusar.
É quase uma questão de ir à lista telefónica. “Álvaro Almeida começa por A, se Mário Centeno não aceitar, então vamos ao B e ao C”, disse, desencadeando palmas da plateia e novos versos da banda a tocar.
No fim, Rui Rio fez os militantes de Vila Nova de Famalicão, presentes na festa, levantarem-se e aplaudirem: quer chegar a domingo e ser, na política, o que o “Famalicão” é hoje no futebol, “campeão”. Faltou a bateria, é certo (na campanha para as Europeias, em maio, Rio assumiu as baquetas e deu show), mas, verdade seja dita, não saiu do palco sem dar uns toques num dos bombos que animava a festa. A política chegou, finalmente, à campanha “diferente” do PSD, e daqui já não vai sair. Amanhã há novo comício em Viseu, depois outro no Porto e outro em Lisboa (só em Aveiro mata saudades das talks).