As eleições deste domingo, 6 de outubro, devem trazer uma “vitória clara” dos socialistas — e mesmo que António Costa não consiga a maioria absoluta, “não deverá ter grandes problemas em encontrar um partido que lhe dê apoio parlamentar, seja o BE, o PCP ou o PAN“, antecipa o banco de investimento Commerzbank. O influente banco alemão acredita que o governo em funções deverá conseguir manter-se no poder, beneficiando dos “bons desenvolvimentos económicos” dos últimos anos — mas avisa “quando se olha para a economia de Portugal mais de perto, nem tudo é tão positivo quanto parece, à primeira vista“. “Há bastantes riscos que se estão a acumular para o longo prazo“, avisa o banco alemão.

Em nota enviada aos investidores, a que o Observador teve acesso, o economista Ralph Solveen lembra que “a descida do défice orçamental tem-se devido, principalmente, ao bom momento económico” internacional, que dá sinais de se poder inverter, e “à queda significativa da despesa com juros da dívida“, que se deve à política de estímulos seguida pelo BCE e ao facto de Portugal, nesse contexto, ter conseguido recuperar os ratings de qualidade por parte das agências de notação financeira.

Ralph Solveen aponta que “quando olhamos para o saldo primário estrutural — isto é, o equilíbrio das contas excluindo pagamentos de juros de dívida e fatores cíclicos e — este tem-se mantido na mesma” nos últimos anos (e deverá continuar a descer neste ano e no próximo, acrescenta).

É certo que, mesmo assim, “a situação de Portugal a esse nível é melhor do que a de Itália e Espanha. Mas se os bons ventos na atividade económica e/ou as taxas de juro baixas inverterem o rumo, então o estado das finanças públicas pode deteriorar-se rapidamente, de novo, e ficará inviabilizada uma descida rápida e sustentável do rácio de endividamento“.

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O que “preocupa ainda mais” o banco alemão, porém, é que a competitividade de Portugal esteja “novamente sob pressão”. Ralph Solveen aponta que o indicador dos “custos unitários do trabalho está novamente a subir de forma mais acentuada, desde 2016, do que o resto da zona euro“.

Custos unitários de Portugal (linha amarela), média da zona euro (a preto) e diferença entre os dois (barras cinzentas). Fonte: Global Insight, Commerzbank

E porque é que isso está a acontecer? “Por um lado, é claro que, à luz da quebra significativa da taxa de desemprego, há uma maior escassez de trabalhadores em algumas áreas”, o que tende a impulsionar os salários. “Porém, esta é uma tendência que está a ser reforçada pelas medidas do governo”, diz Ralph Solveen, lembrando que o salário mínimo tem subido “de forma bastante significativa a cada ano” desta legislatura, ainda que o salário mínimo em Portugal “seja, já, o mais elevado de toda a zona euro quando comparado com o salário médio que existe na economia”.

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O economista avisa que “se esta tendência” de encarecimento dos custos do trabalho “continuar, isto poderá colocar sob pressão o setor industrial, em especial”. “Uma continuada deterioração da competitividade de preço poderá fazer com que Portugal fique para trás, o que no longo prazo pode exercer uma grande pressão sobre a economia como um todo”, assinala Ralph Solveen.

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