Um engenheiro da Boeing colocou uma queixa contra a própria empresa, acusando-a de ter evitado a aplicação de um sistema de segurança no 737 Max destinado a corrigir as falhas que se presumem estar na causa dos acidentes da Etiópia e da Indonésia. De acordo com a queixa daquele funcionário, a direção da Boeing estava “mais preocupada com os custos e com os prazos do que com segurança e qualidade”.
Na sua queixa, o engenheiro refere que chegou a ser desenvolvido um sistema de cálculo da “velocidade sintética”, que permitiria alertar os pilotos para quando o “ângulo de ataque” (a posição do avião em pleno ar) fosse desaconselhada ou perigosa.
Ainda assim, aquele engenheiro aponta que a Boeing evitou aplicar esse sistema de segurança ao Boeing 737 Max, porque isso obrigaria a novos e dispendiosos testes a serem feitos por pilotos em simuladores de voo.
Este sistema acabou por ser aplicado mais tarde noutro modelo da Boeing, o 787 Dreamliner.
A queixa em questão, apresentada ao Departamento de Justiça foi analisada pelo The New York Times, que identifica o engenheiro como Curtis Ewbank., que trabalhou para a Boeing entre 2010 e 2015, tendo regressado à empresa em 2018. De acordo com o que o engenheiro escreveu na sua queixa, a sua saída da Boeing em 2015 deveu-se em parte às suas preocupações sobre a alegada falta de prioridade que a segurança teria na construção dos aviões da Boeing.
Embora note que “não é possível dizer com toda a certeza que qualquer aplicação do sistema de velocidade sintética no 737 Max teria prevenido os acidentes” da Indonésia e da Etiópia (que mataram 157 e 189, respetivamente), o engenheiro é claro ao referir que é faz parte da cultura da Boeing evitar custos em detrimento da segurança.
“Eu queria fincar o pé pelas questões de segurança e qualidade, mas não consegui ter resultados nessas áreas”, diz.
Ao The New York Times, um ex-funcionário da Boeing corroborou a acusação de Curtis Ewbank, mas acrescentou também que a queixa por ele apresentada exagerava quanto à possibilidade de o sistema de “velocidade sintética” corrigir as situações que levaram aos acidentes de outubro de 2018 e março de 2019.
Em comunicado enviado àquele jornal, a Boeing rejeitou as acusações de Curtis Ewbank, dizendo que “a segurança, a qualidade e a integridade estão no centro dos valores da Boeing”.
“A Boeing oferece aos seus empregados vários canais para expor as suas preocupações e queixas e tem processos rigorosos a decorrer, tanto para assegurar que estas queixas são devidamente consideradas como para proteger a confidencialidade dos empregos que as fazem”, disse o porta-voz da Boeing Gordon Johndroe.